Volume 110, Nº 3, Março 2018
DOI: http://www.dx.doi.org/10.5935/abc.20180052
ARTIGO ORIGINAL
Avaliação Ecocardiográfica da Função Ventricular em Pacientes Jovens com Asma
Camilla Rayane De-Paula
Giselle Santos Magalhães
Nulma Souto Jentzsch
Camila Figueredo Botelho
Cleonice de Carvalho Coelho Mota
Tatiane Moisés Murça
Lidiana Fatima Correa Ramalho
Timothy C. Tan
Carolina Andrade Braganca Capuruço
Maria da Gloria Rodrigues-Machado
Figura 1 – Doppler tecidual do anel tricúspide em corte apical de quatro câmaras (E’ – pico da velocidade diastólica precoce do anel tricúspide; A’: pico da velocidade diastólica tardia do anel tricúspide; S´: velocidade sistólica anular; TRIV: tempo de relaxamento isovolumétrico; TCIV: tempo de contração isovolumétrica; TE: tempo de ejeção).
Resumo
Fundamento: Apesar de avanços significativos no entendimento da fisiopatologia e manejo da asma, alguns efeitos sistêmicos da asma ainda não são bem definidos. Objetivos: Comparar a função cardíaca, o nível de atividade física basal, e a capacidade funcional de pacientes jovens com asma leve a moderada com controles saudáveis.
Métodos: Dezoito voluntários saudáveis (12,67 ± 0,39 anos) e 20 pacientes asmáticos (12,0 ± 0,38 anos) foram incluídos no estudo. Os parâmetros de ecocardiografia foram avaliados pelo exame de ecocardiogragia com Doppler convencional e tecidual (EDT).
Resultados: Apesar de o tempo de aceleração pulmonar (TAP) e da pressão arterial sistólica pulmonar (PASP) encontrarem se dentro da faixa de normalidade, esses parâmetros foram significativamente diferentes entre o grupo controle e o grupo asmático. O TAP foi menor (p < 0,0001) e a PASP maior (p < 0,0002) no grupo de indivíduos asmáticos (114,3 ± 3,70 ms e 25,40 ± 0,54 mmHg) que o grupo controle (135,30 ± 2,28 ms e 22,22 ± 0,40 mmHg). O grupo asmático apresentou velocidade diastólica inicial do miocárdio (E’, p = 0,0047) e relação entre E’ e velocidade tardia mais baixas (E’/A’, p = 0,0017) (13,75 ± 0,53 cm/s e 1,70 ± 0,09, respectivamente) em comparação ao grupo controle (15,71 ± 0,34 cm/s e 2,12 ± 0,08, respectivamente) na valva tricúspide. No exame Doppler tecidual do anel mitral lateral, o grupo asmático apresentou menor E’ em comparação ao grupo controle (p = 0,0466; 13,27 ± 0,43 cm/s e 14,32 ± 0,25 cm/s, respectivamente), mas não houve diferença estatística na razão E’/A’ (p = 0,1161). O tempo de relaxamento isovolumétrico foi maior no grupo de pacientes asmáticos (57,15 ± 0,97 ms) que no grupo controle (52,28 ± 0,87 ms) (p = 0,0007), refletindo uma disfunção global do miocárdio. O índice de performance miocárdica direito e esquerdo foi significativamente maior no grupo asmático (0,43 ± 0,01 e 0,37 ± 0,01, respectivamente) que no grupo controle (0,40 ± 0,01 e 0,34 ± 0,01, respectivamente) (p = 0,0383 e p = 0,0059 respectivamente). O nível de atividade física e a distância percorrida no teste de caminhada de seis minutos foram similares entre os grupos.
Conclusão: Mudanças nos parâmetros ecocardiográficos, avaliados pela ecocardiografia convencional e pela EDT foram observadas em pacientes com asma moderada a grave com capacidade funcional e nível de atividade física basal normais. Nossos resultados sugerem que o ecocardiograma pode ser útil para a detecção precoce e a evolução de alterações cardíacas induzidas pela asma. (Arq Bras Cardiol. 2018; 110(3):231-239)
Palavras-chave: Dispneia de esforço / fisiopatologia; Ecocardiografia Doppler; Asma / fisiopatologia; Remodelação Vascular; Disfunção Ventricular.