Volume 110, Nº 3, Março 2018
DOI: http://www.dx.doi.org/10.5935/abc.20180026
ARTIGO ORIGINAL
Urbanização Associa-se com Tendência a Maior Mortalidade Cardiovascular em Populações Indígenas: o Estudo PAI
Anderson da Costa Armstrong
Ana Marice Teixeira Ladeia
Juracy Marques
Dinani Matoso Fialho de Oliveira Armstrong
Antonio Marconi Leandro da Silva
Jeová Cordeiro de Morais Junior
Aldina Barral
Luis Claudio Lemos Correia
Manoel Barral-Netto
João A. C. Lima
Dr. Anderson da Costa Armstrong
Figura 2 – Mortalidade cardiovascular nas populações indígena e urbana no Vale do São Francisco com idade ≥ 30 anos. Total de indígenas refere-se ao total de mortes nas populações indígenas no Vale do São Francisco
Resumo
Fundamento: O risco cardiovascular das diversas comunidades indígenas não está bem estabelecido e pode ser influenciado pelo processo de urbanização a que se submetem esses povos.
Objetivos: Investigar o perfil da mortalidade cardiovascular (CV) das populações indígenas durante o rápido processo de urbanização altamente influenciado por intervenções governamentais de infraestrutura no Nordeste do Brasil.
Métodos: Avaliamos a mortalidade de populações indígenas (≥ 30 anos) do Vale do São Francisco (Bahia e Pernambuco) no período de 2007-2011. Considerou-se mortalidade CV se a causa de morte constasse no grupo de doenças CV do CID-10 ou se tivesse sido registrada como morte súbita. As populações indígenas foram divididas em dois grupos conforme o grau de urbanização baseado em critérios antropológicos: Grupo 1 - menos urbanizadas (Funi-ô, Pankararu, Kiriri e Pankararé); e Grupo 2 - mais urbanizadas (Tuxá, Truká e Tumbalalá). Taxas de mortalidade de cidades altamente urbanizadas (Petrolina e Juazeiro) nas proximidades das áreas indígenas foram também avaliadas. A análise explorou tendências na por centagem de mortalidade CV para cada população estudada. Adotou-se o valor de p < 0,05 como significância estatística.
Resultados: Houve 1.333 mortes indígenas nas tribos da Bahia e de Pernambuco (2007-2011): 281 no Grupo 1 (1,8% da população de 2012) e 73 no Grupo 2 (3,7% da população de 2012), mortalidade CV de 24% e 37%, respectivamente (p = 0,02). Entre 2007 e 2009, houve 133 mortes no Grupo 1 e 44 no Grupo 2, mortalidade CV de 23% e 34%, respectivamente. Entre 2009 e 2010, houve 148 mortes no Grupo 1 e 29 no Grupo 2, mortalidade CV de 25% e 41%, respectivamente. A urbanização parece influenciar os aumentos de mortalidade CV dos povos indígenas vivendo de modo tradicional. Mudanças no estilo de vida e ambientais devidas à urbanização somadas à subótima atenção à saúde podem estar implicadas no aumento do risco CV nos povos indígenas. (Arq Bras Cardiol. 2018; 110(3):240-245)
Palavras-chave: População Indígena; Doenças Cardiovasculares / mortalidade; Urbanização / tendências; Mudança Social.