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Quando em junho de 1910 faleceu a menina Alberta, de ape-
nas quatro meses, Carlos Chagas convidou Belisário Penna, para
viabilizar o cadáver da criança com objetivo de realizar a autópsia
no intuito de investigar o mal que acometera a menina e que mais
tarde viria a se chamar
Doença de Chagas
. “À noite com portas
e janelas fechadas e calafetadas foi feita a autópsia, retiradas as
HOMENAGEM A CARLOS CHAGAS
vísceras, o cérebro e a medula e o cadáver foi recomposto, inclu-
sive com uma bela touca”, e as peças foram enviadas a Osvaldo
Cruz, para o estudo anatamo-patológico.
A história é contada por Anis Rassi Jr., no trabalho ‘Um Tributo a
Carlos Chagas’ e corrige uma informação muito difundida, de que
a descoberta da nova tripanossomíase humana fora feita a partir
da autópsia de Berenice, de dois anos de idade, que foi atendida
por Chagas com febre, hepatosplenomegalia, hipertrofia de linfo-
nodos e edema generalizado, em cujo sangue periférico encontrou
o
T.cruzi,
depois de ter constatada a infecção pelo protozoário de
um gato, que vivia na mesma casa. “Quando da morte de Alberta,
na realidade Berenice ainda estava viva”, afirma Anis Rassi Jr.
Cem anos depois da descoberta do ciclo evolutivo da
Doença de
Chagas
, a Sociedade Brasileira de Cardiologia convidou as Socie-
dades Sul-Americana e Interamericana de Cardiologia para elaborar
a
I Diretriz Latino-Americana para o Diagnóstico e Tratamento da
Cardiopatia Chagásica
, confirmando a importância epidemiológi-
ca da moléstia, como afirmou o presidente, Jadelson Andrade, no
texto de apresentação em que fala do “problema epidemiológico
relevante em diversos países da América do Sul e do Norte, com
extensão a países da Europa e de outros continentes”.
A colocação ganha relevância quando se recorda que a verda-
deira campanha para diminuir a importância da descoberta, de
que é exemplo a conferência de Afrânio Peixoto na Academia Na-
cional de Medicina, quando afirmou que:
“poderíeis ter achado alguns mosquitos, inventado uma doen-
ça rara e desconhecida, doença de que se falasse muito, mas qua-
se ninguém conhecesse os doentes, encantoada lá num viveiro
sertanejo de vossa província, que magnanimamente distribuiríeis
por alguns milhões de vossos patrícios acusados de cretinos”.
Carlos Justiniano Ribeiro Chagas (1879–1934). (From the National Library of Medicine.)
