LIVRO 70 ANOS SBC - page 131

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Também para combater a Malária que atingia os trabalhadores
que faziam a linha da Central do Brasil, Chagas é enviado em
1907 para Lassance, em Minas Gerais. Passa a morar num va-
gão de trem adaptado e, ao examinar o sangue de um sagui em
busca de parasitas, identifica um novo protozoário que chamou
de
Trypanosoma minasensis.
Alertado por um engenheiro sobre a
infestação das residências por um inseto hematófago, o barbei-
ro, que sugava o sangue do rosto das pessoas, à noite, Chagas
encontra o mesmo protozoário no intestino do inseto e, por falta
de condições para uma análise mais profunda, envia o inseto a
Osvaldo Cruz, que os alimenta em saguis e em 30 dias o
Trypano-
soma
passa a se fazer presente no sangue dos saguis.
Pesquisa posterior, já no Rio, convence Chagas de que é uma
nova espécie, que chama de
Trypanosoma cruzi,
em homenagem
a Osvaldo Cruz e, de volta a Lassance, intui que o parasita po-
deria causar algum mal aos seres humanos, já que os barbeiros
viviam nos casebres. O próximo passo foi identificar o parasita
num gato, depois em Berenice, febril e anêmica.
O
TRYPANOSOMA
NUM SAGUI
Como outro
Trypanosoma
causava a doença do sono, na África,
Chagas pesquisou mais fundo. O exame do cérebro e do coração
de Alberta, onde encontrou o parasita, é que o levou a conjecturar
que poderia ser a causa dos sintomas registrados.
O trabalho sobre a patologia da nova doença foi feito com a des-
crição de 27 casos de formas agudas, mais de cem autópsias e,
caso único na história da Medicina, o médico identificou o vetor,
barbeiro, o agente causal, o
Trypanosoma
, o reservatório domésti-
co, no caso o gato, a doença nos humanos e suas complicações.
Carlos Chagas levou a descoberta à comunidade científica
em 22 de abril de 1909, numa publicação da Revista Brasil-
Médico e no mesmo dia Osvaldo Cruz informa a Academia Na-
cional de Medicina que levaria uma comissão a Lassance, para
verificar o trabalho lá realizado e o presidente da comissão,
Miguel Couto, sugere que a moléstia fosse chamada de
Do-
ença de Chagas
, mas o próprio Chagas sempre a chamou de
Tripanossomíase americana
.
Mineiro de Oliveira, Carlos Justiniano Ribeiro Chagas nasceu
na Fazenda Bom Retiro, em 9 de julho de 1878 e seu interesse
pela Medicina foi despertado pelo tio Carlos, que montara uma
casa de saúde. Encaminhado ao colégio dos jesuítas, em Itu, fu-
giu do internato em 1888, quando soube que os escravos recém-
libertados estavam depredando propriedades em Minas, onde
sua mãe, viúva, estava sozinha à frente da fazenda da família.
Expulso do colégio, voltou a Minas, onde a mãe o forçou a es-
tudar Engenharia, mas foi reprovado e com o apoio do tio foi para
São Paulo conseguir os diplomas necessários para cursar a Facul-
dade de Medicina, no Rio de Janeiro, onde recebe a influência de
Miguel Couto, que o inicia na clínica médica e Francisco Fajardo,
que o interessa em doenças tropicais, em especial a Malária.
Ingressando no Instituto Soroterápico Federal, futuro Instituto
Osvaldo Cruz, liga-se a Osvaldo Cruz e prepara tese sobre o ciclo
evolutivo da malária na corrente sanguínea. Indicado como mé-
dico do Instituto recusa o cargo para trabalhar como clínico no
Hospital de Jurujuba, em Niterói. Em 1904 casa com Íris Lobo,
com quem teria os filhos Evandro e Carlos Filho.
Em 1901 Osvaldo Cruz envia Carlos Chagas para Itatinga, no In-
terior de São Paulo, onde a Malária atacava os trabalhadores que
faziam uma represa na região e, pela primeira vez na história, um
surto da moléstia é debelado. Em cinco meses as medidas pre-
ventivas contra os mosquitos infectados dão certo e logo Chagas
é enviado para organizar o saneamento na Baixada Fluminense,
onde era feita obra para captação de água para o Rio de Janeiro.
CARLOS JUSTINIANO RIBEIRO CHAGAS
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