IJCS | Volume 31, Nº4, Julho / Agosto 2018

394 Macedo et al. Modelo periodizado para prescrição de exercícios Int J Cardiovasc Sci. 2018;31(4)393-404 Artigo Original Introdução Segundo a Organização Mundial da Saúde, a doença cardiovascular é responsável por 33% de todas as mortes que ocorrem no mundo por ano. 1 No Brasil, em 2011, foram registradas mais de 900 mil mortes de indivíduos com mais de 30 anos. 2 A despeito disso, o número de pacientes commais de 60 anos que sobrevive a umevento cardiovascular e necessita de atenção secundária cresce a cada ano. 2 A prática regular de exercício físico e/ou de reabilitação cardíaca tornou-se fundamental para a redução da mortalidade e das comorbidades associadas à doença cardiovascular. 3,4 O treinamento físico de pacientes com doença arterial coronariana (DAC) acompanha-se de melhora das funções cardiovascular e musculoesquelética, da resistência, da inflamação, da qualidade de vida e das funções cognitivas, além de alívio de sintomas clínicos (dispneia, distúrbios do sono, estresse e sintomas depressivos). 5,6 As diretrizes que incluem exercício físico como uma forma de tratamento para DAC respeitam a relação de equilíbrio entre segurança e efeito do treinamento, 7,8 e recomendama combinação de treinamento de resistência (TR) com treinamento aeróbio (TA). 5,6 Para o TR, indicam limites de carga máxima durante o treinamento, como 50% da intensidade no teste de uma repetição máxima (1RM). 7-9 Para o TA, o limiar ventilatóriomedido durante o teste de esforço cardiopulmonar (TECP) máximo é usado com frequência em pacientes com DAC. Para iniciantes com baixa aptidão física/maior risco cardíaco, as diretrizes recomendam 40% a 50% de consumo máximo de oxigênio (VO 2 pico), e para pacientes com DAC e maior nível de aptidão física ou menor risco cardíaco, 50% a 75% do VO 2 pico. 5,6 Entretanto, nenhum desses documentos descreve como a prescrição de exercícios deve ser organizada no tempo. Os limites de carga máxima para treinamento permitem a elaboração de uma sessão de exercício, mas não de um programa de treinamento progressivo. Tal programa, que deve envolver o tipo de estímulo de acordo com a fase do treinamento (contínuo e/ou intervalado), a forma de progressão da carga (volume e/ou intensidade), 10 a frequência do treinamento (sessão/semana) e as datas de avaliação e reavaliação, é conhecido como periodização. 11 A periodização é usada no treinamento esportivo desde a década de 1990, 12 e a sua inclusão na reabilitação foi recentemente debatida. 13-15 O treinamento pode ser mais detalhado através do uso da periodização, enfatizando seus princípios básicos de especificidade, sobrecarga e reversibilidade. A periodização é o processo de manipular as variáveis do treinamento para evitar excessos, maximizar as adaptações ao treinamento e alcançar supercompensação ou umefeito do treinamento. 9 A abordagemclássica para a periodização é o treinamento periodizado linear, que aparece nas diretrizes de exercício parapacientes cardíacos. 8 Esse tipo consiste emaltovolume inicial e baixa intensidade. Portanto, os resultados clínicos e físicos obtidos através do exercício físico periodizado nos programas de reabilitação cardiopulmonar e metabólica poderiam ser aperfeiçoados, melhorando a qualidade de vida dos pacientes envolvidos. Este estudo visou criar um modelo de periodização para a prescrição de exercícios destinados a pacientes com DAC na fase II do programa de reabilitação cardíaca, e comparar os resultados àqueles de pacientes submetidos a um programa não periodizado. Métodos Pacientes Após aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidad Católica Pontifica do Paraná (434/2010), 534 pacientes encaminhados para o serviço de reabilitação do Hospital Cardiológico Costantini (HCC) foram avaliados. O critério de inclusão foi: homens submetidos a intervenção coronariana percutânea/angioplastia ou após infarto agudo do miocárdio com fração de ejeção ventricular esquerda ≥ 50% (avaliada por ecocardiografia transtorácica) e estratificados como de baixo ou moderado risco para a prática de exercício de acordo com a Sociedade Americana de Reabilitação Cardiopulmonar e Prevenção. 16 Os critérios de exclusão foram: lesões musculoesqueléticas induzidas por exercício, falha em completar as 36 sessões e/ou complicações cardiovasculares que levem à interrupção do programa de exercício. Os pacientes estratificados como de baixo ou moderado risco segundo o Colégio Americano de Medicina Esportiva, 10 foram submetidos a uma consulta médica admissional. Após avaliação, 62 pacientes que atenderamao critério de inclusão foram selecionados. Resultados das medidas Teste de esforço cardiopulmonar O TECP foi realizado por médico do HCC usando um analisador de gases (Cortex, modelo Metalyzer3B),

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