IJCS | Volume 31, Nº4, Julho / Agosto 2018

390 Borges et al. Escore de adesão Int J Cardiovasc Sci. 2018;31(4)383-392 Artigo Original Dentre os medicamentos que influenciaramde forma significativa a dose requerida do ACO, sobressaem a amiodarona e a sinvastatina. A amiodarona é um antiarrítmico que inibe a warfarina e causa sensibilidade porque é um potente inibidor do citocromo P-450 , incluindo a enzima CYP2C9 , que é responsável pelo metabolismo do S-Warfarina. 10 A amiodarona reduz o metabolismo e aumenta o efeito da warfarina, e o uso concomitante desses medicamentos afeta também o tempo de protombina. A sinvastatina potencializa o efeito da warfarina, pois se liga às proteínas plasmáticas, reduz a agregação plaquetária e promove a formação de trombos. 11 Além disso, é essencial que os usuários de OACs tenhamconhecimento sobre o consumo de alimentos ricos em vitamina K. A variação na quantidade e na frequência do consumodesses alimentos pode alterar o exame deRNI, inclusive para valores fora de faixa terapêutica. 10 Perante o consumo agudo de bebida alcoólica, a via desidrogenase desempenha o papel principal na metabolização do etanol no fígado. Porém, diante de uma situação de consumo crônico, há atuação do sistema microssomal de oxidação do etanol pelo CYP2E1, que aumenta em até dez vezes a capacidade de metabolização do etanol por esse órgão. 10 Assim, há entre a warfarina e o álcool interação durante o processo da farmacocinética. Diante da situação de consumo agudo de álcool, ocorre inibição enzimática e redução do metabolismo da warfarina, aumentando o efeito do ACO e o risco de sangramento. 10 Já em situações crônicas do consumo excessivo de álcool, ocorre uma diminuição enzimática, consequentemente, aumenta o metabolismo da warfarina, reduz o tempo de meia vida e, assim, o efeito farmacológico. Sugere-se que, nesta ocasião, administre-se uma dose superior de warfarina, objetivando atingir o nível terapêutico. 10 Alémdisso, o estresse psicológico tem sido associado a umestado pró-trombótico. Empacientes comdiagnóstico de tromboembolismo, observou-se associação entre estresse, raiva, depressão e ansiedade e valores diminuídos de RNI. 11,12 Para minimizar os riscos referentes às complicações pelo uso de ACO, sendo eles, sangramentos e possíveis eventos tromboembólicos, há clínicas especializadas em T-ACO que se tornaram comuns no cenário mundial. Ainda, profissionais da saúde, incluindo farmacêuticos, enfermeiros e médicos são responsáveis emdesenvolver programas educativos com orientações verbais e escritas, uso de vídeos instrucionais, visitas domiciliares, seguimento por telefone e indicadores de qualidade do serviço executado. 6 Nesta perspectiva, fatores predisponentes à anticoagulação oral relacionados ao uso contínuo especificamente, indicadosparadoenças tromboembólicas e próteses valvares cardíacas, é de extrema relevância mundial, e repercute para todos os países, haja visto que há recomendações publicadas internacionalmente, como as recomendações da American Heart Association 13 e European Society of Cardiology . 14 Diante desta premissa e pela necessidade de obter um escore de adesão para usuários de ACO, foi necessário percorrer um caminho metodológico e estatístico árduo, contundente e bem articulado. A começar pelas escolhas das variáveis preditoras e estudadas para estes fins, pautadas na realidade da prática clínica, assim como também na opinião do pesquisador, que se baseou na relevância da evidência prática e na ciência atualizada. As variáveis com nível de significância menor que 5% foram selecionadas para análise de regressão logística múltipla, com ajuste para os dados usados na identificação dos fatores e covariáveis determinantes na adesão. Assim, foram identificadas as variáveis relacionadas à adesão de maneira independente. Para compor o desenvolvimento do escore, foram consideradas variáveis que interferiam no valor do exame RNI. Destacaram-se dentre essas variáveis, o uso errôneo do medicamento (doses maiores ou menores ou esquecimentos), a exposição a procedimentos invasivos ou cirúrgicos, as interações medicamentosas, interação droga-nutriente (particularmente vitamina K), os problemas de saúde e condições clínicas, o aparecimento de outros fatores relacionados como o estresse exacerbado, o emagrecimento ou ganho de peso e as complicações do próprio uso do ACO. Assim, utilizou-se das variáveis para realização de vários modelos e da necessidade de categorizá-las e compará- las com base nos níveis descritivos das variáveis independentes, assim como foram considerados alguns testes de interação. Assim, um modelo de escore para uma população brasileira de indivíduos anticoagulados foi desenvolvido (Tabela 3). A partir do modelo, foi construído um escore simples e de fácil aplicação na prática dos profissionais da área que atuam com essa população. Os resultados do escore foram apresentados em razão de chances com seus respectivos intervalos de confiança de 95% e nível descritivo.

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