IJCS | Volume 31, Nº4, Julho / Agosto 2018

318 DOI: 10.5935/2359-4802.20180042 EDITORIAL International Journal of Cardiovascular Sciences. 2018;31(4)318-319 Correspondência: Miguel Mendes Hospital de Santa Cruz - Av. Prof. Reynaldo dos Santos, s/n. 2790-134 - Carnaxide, Portugal. E-mail: miguel.mendes.md@gmail.com O Teste de Exercício Cardiopulmonar Pode Contribuir para o Treino de Futebolistas? Can Cardiopulmonary Exercise Test Contribute to Train Soccer Players? Miguel Mendes Hospital de Santa Cruz/Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, Lisboa - Portugal Exercício, Futebol/tendências, Espirometria/métodos, Desempenho Atlético. Palavras-chave O futebol, que arrasta multidões e movimenta somas vultuosas, não tem estado alheado da ciência, sendo frequentemente alvo de estudos realizados por iniciativa de acadêmicos ou a pedido das suas equipes técnicas, com vista à otimização dos resultados desportivos. A competição é preparada através de um plano de treino que integra componentes puramente físicos, psicológicos, técnicos (p. ex.: passe, remate, finta, saltos) e táticos, entre outros. Na pré-temporada e ao longo da época competitiva, os treinadores pretendem medir e monitorizar as diferentes variáveis do treino. Os jogadores de uma equipe de futebol, embora partilhando uma base comum de condição física, têm exigências distintas consoante a posição que ocupam no terreno de jogo. Ao goleiro exige-se uma capacidade de reação instantânea, impulsão, flexibilidade e coordenação de movimentos excepcionais, particularmente ao nível dos membros superiores, enquanto os jogadores de campo carecem de uma boa condição aeróbia de base, associada à capacidade para realizarem repetidos sprints durante 2 a 4 segundos, a cada 90 segundos, percorrendo distâncias que podem variar entre 5 m e 40 m para os defesas-laterais e para os atacantes e mais curtas para os defesas-centrais (zagueiros) e para os jogadores de meio-campo. Ao longo dos 90 minutos do jogo, os jogadores de elite caminham ou correm cerca de 10 km a uma intensidade média semelhante à atingida no limiar anaeróbio, realizando múltiplos esforços explosivos, nomeadamente sprints que constituem até 11% da distância percorrida durante o jogo. 1 Essa natureza intermitente do desporto faz apelo aos três tipos de substratos energéticos. A via aeróbia sustenta os períodos de marcha ou de corrida lenta (realizada em 90% do tempo de jogo) e a fosfocreatina e a via anaeróbia são as fontes da energia utilizada nos esforços explosivos e repetitivos, efetuados frequentemente com velocidade superior à atingida no esforço máximo do teste de exercício e que o atleta só estará apto a repetir após reposição adequada dos diferentes substratos energéticos aos músculos. Souza e Silva et al., 2 publicam neste número do IJCS um artigo original onde estudaram, pela primeira vez em atletas, o ponto ótimo cardiorrespiratório (POC) determinado em testes de exercício cardiopulmonares (TECP) máximos, realizados em esteira rolante, segundo umprotocolo de rampa em198 futebolistas de uma equipe carioca da divisão A, entre janeiro de 2005 e dezembro de 2016. Concluíram que o valor de POC não diferencia os futebolistas em função da sua posição no campo. O POC é o menor valor atingido no equivalente do oxigênio (razão entre ventilação por minuto e consumo de oxigênio - VE/VO 2 ) no decorrer de um TECP. Marca o ponto do esforço em que é mais baixa a ventilação por cada litro de oxigênio consumido, sendo considerado como o momento em que se atinge a melhor integração entre circulação e respiração. Esse parâmetro ocorre na fase inicial do TECP, a cerca de 30 - 50% do consumo máximo de oxigênio, e não está correlacionado com o consumo máximo de oxigênio nem com o limiar anaeróbio. É fácil de determinar em testes incrementais, independente do observador ou da motivação do atleta, pelo que parece útil para avaliar indivíduos saudáveis ou doentes que não conseguem realizar esforços máximos por limitações físicas, psicológicas ou outras.

RkJQdWJsaXNoZXIy MjM4Mjg=