IJCS | Volume 31, Nº4, Julho / Agosto 2018

334 Introdução A presença de isquemia miocárdica é um dos fatores prognósticos importantes na doença arterial coronariana (DAC) e na tomada de decisão sobre omelhor tratamento a ser instituído. A combinação da anatomia coronária com a informação do significado hemodinâmico da lesão obstrutiva é fundamental para definir a estratégia de tratamento a ser realizada nos pacientes com DAC. Amedida da reserva de fluxo fracionada (RFF) é uma ferramenta valiosa para avaliar a gravidade funcional de uma estenose coronariana, identificando-se alterações na resistência ao fluxo coronariano. A RFF pode ser obtida no laboratório de hemodinâmica e pode ser realizada em conjunto com a angiografia. Define-se RFF como o fluxo sanguíneo máximo para o miocárdio na presença de uma determinada estenose, dividido por este fluxo, se não houvesse esta estenose. ARFF pode ser determinada dividindo-se a pressão média distal à lesão coronariana pela pressão média em aorta, durante a vasodilatação máxima induzida por adenosina. Considera-se que a RFF apresenta valor normal de 1, e que valores menores que 0,8 são indicativos de isquemia miocárdica. Estudos demonstram que vasos coronarianos que apresentam RFF ≥ 0,8 podem ser tratados clinicamente, com taxas de eventos cardiovasculares semelhantes às de pacientes com testes não invasivos normais (< 1%ao ano). Pacientes com RFF ≤ 0,8 poderiam se beneficiar de procedimentos de revascularização percutânea ou cirúrgica. 1-3 Embora a RFF tenha seu papel definido em lesões moderadas e seja pouco útil em lesões angiograficamente graves, ela ajuda na decisao sobre quando revascularizar portadores de doença multiarterial. Nestes pacientes, ela auxilia na definição da estrategia de revascularizaçao, alem de avaliarmelhor sua extensao, de acordo coma avaliaçao funcional das estenoses em locais criticos das coronarias. 4 A cintilografia de perfusão miocárdica (CPM) com imagens tomográficas tem sido validada por inúmeros estudos na avaliação do diagnóstico e do prognóstico para pacientes sob risco de eventos cardiovasculares. A repercussão funcional de lesões coronarianas consiste em um dos principais focos do método, que se baseia na avaliação do défice de perfusão em segmentos miocárdicos irrigados por artérias parcialmente ocluídas. A estratificação de risco é baseada na capacidade de identificar pacientes, de acordo com os resultados do exame. O SPECT comperfusão normal ou discretamente alterada tem excelente prognóstico, com baixo risco de mortalidade (< 1%) ao ano. O risco associado à alteração da perfusão varia de acordo coma extensão e a gravidade da isquemia. Quanto maiores os defeitos de perfusão, maior a probabilidade de eventos futuros. Naqueles com defeitos de perfusão moderados, a incidência de eventos é de 1 a 3% ao ano, sendo > 3% empacientes comgrandes defeitos de perfusão. 5 Grande parte das intervenções coronarianas percutânea é realizada baseada somente em critérios angiográficos, sem evidência objetiva de isquemia miocárdica. A angiografia coronariana mostra limitações em estabelecer a gravidade funcional, porque nem sempre o grau de estenose de uma lesão correlaciona com o comprometimento funcional provocado no miocárdio. 6 Assim, faz-se importante a complementação de dados anatômicos com testes funcionais capazes de orientar adequadamente a terapêutica em relação a um procedimento de revascularização miocárdica. Vários estudos têm sido realizados com a finalidade de avaliar a concordância da RFF com os métodos funcionais (CPM, ecocardiograma de estresse com dobutamina e teste ergométrico) na definição da presença de isquemia miocárdica, tendo a RFF a vantagem de ser específica para cada vaso e obstrução. 7 Em pacientes multiarteriais, a CPM tende a subestimar ou superestimar a importância funcional da estenose coronária emcomparação comFFR. 8 O testes funcionais são realizados em uma minoria de pacientes encaminhados para angioplastia coronariana no Instituto Nacional de Cardiologia. Neste sentido, a RFF pode ser uma ferramenta útil na sala de hemodinâmica para auxiliar nas tomadas de decisão de realizar ou não uma intervenção coronariana percutânea, poupando tempo e custos ao sistema de saúde. O objetivo do presente trabalho foi comparar a análise funcional entre a RFF e a CPM em pacientes com lesões moderadas na coronariografia. Métodos Trata-se de estudo prospectivo, observacional, com seleção de pacientes de ambos os sexos, com idade maior ou igual a 18 anos internados na enfermaria do Departamento de Doença Coronária ou encaminhados ao Serviço de Hemodinâmica do Instituto Nacional de Cardiologia, que apresentavam indicação de RFF após a análise da coronariografia por equipe multidisciplinar “Time do Coração”. O tamanho amostral de 47 pacientes foi selecionado por conveniência. Os pacientes sem CPM prévia foram submetidos ao exame. As lesões coronarianas foram classificadas em Issa et al. Comparação entre Reserva de Fluxo Fracionada e SPECT na Isquemia Miocárdica Int J Cardiovasc Sci. 2018;31(4)333-338 Artigo Original

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