IJCS | Volume 31, Nº4, Julho / Agosto 2018

330 de Souza e Silva et al. Ponto ótimo cardiorrespiratório em futebolistas Int J Cardiovasc Sci. 2018;31(4)323-332 Artigo Original um observador experiente, tornando essas medidas subjetivas e ampliando o potencial de alta variabilidade inter- e intraobservador. 23,24 Em contraste, a determinação do POC é facilmente obtida a partir da identificação do menor valor numérico da relação entre VE e VO 2 para cada minuto do TCPE, não sendo, portanto, dependente da interpretação e experiência do avaliador, e depende de um esforço relativamente pouco intenso, visto que ocorre em níveis relativamente baixos de exercício, bem antes mesmo do LA. Em relação ao POC nos futebolistas avaliados, alguns achados principais devem ser destacados: 1- como esperado, a obtenção do POC ocorreu em percentual do VO 2 max e velocidade mais baixos do que naquele em que ocorreu o LA; 2- o POC não foi diferente entre os futebolistas de diferentes posições de jogo, semelhante ao observado em relação ao LA, porém contrário ao observado com o VO 2 max; 3- não foi observada associação significativa entre POC e as variáveis VO 2 max e LA; e 4- o coeficiente de variação do valor do consumo de oxigênio no momento da obtenção do POC foi maior do que aquele observado no LA e no VO 2 max. Ressalta- se, ainda, que os valores do POC obtidos nos jogadores ficaram em média abaixo do percentil 50 dos valores encontrados para homens saudáveis não atletas da mesma faixa etária em estudo anterior 15 e que apenas oito (4%) dos futebolistas tiveram POC superiores ao valor de 22, considerado como ponto de corte para ótimo prognóstico clínico, 17 sugerindo assim que esses futebolistas possuem uma privilegiada interação circulação-respiração, provavelmente mais econômica no exercício submáximo. No entanto, deve-se destacar que os valores do POC descritos para indivíduos não atletas foram obtidos a partir de TCPE realizados em cicloergômetro demembros inferiores, comumprotocolo em rampa individualizado, e, portanto, a descrição do POC emdiferentes modalidades e protocolos de exercício deve ser abordada em estudos futuros, visto que há evidências de comportamentos distintos de algumas variáveis obtidas no TCPE em função do protocolo e do ergômetro utilizados. A velocidade de corrida na esteira rolante e a intensidade de exercício representada pelo percentual do VO 2 max em que os futebolistas avaliados neste estudo atingiram o POC (10,0 ± 1,0 km.h -1 e 51,3 ± 8,7%, respectivamente) foram menores do que os valores obtidos no LA em futebolistas avaliados em outros estudos, mesmo quando comparados com jogadores de menor desempenho atlético, nos quais é esperada uma ocorrência mais precoce do LA. Por exemplo, segundo Ziogas et al., 25 futebolistas da primeira, segunda e terceira divisão da Grécia submetidos a um TCPE no período pré-temporada atingiram o LA a uma velocidade média de 13,2, 12,6 e 12,3 km.h -1 , respectivamente. Já Boone et al., 26 avaliaram 289 futebolistas da primeira divisão da Bélgica e observaram velocidades médias de corrida na esteira rolante no LA que variaram entre 12,7 ± 1,4 nos goleiros até 14,4 ± 0,7 km.h -1 nos zagueiros. Em relação a intensidade de exercício, Impellizzeri et al., 27 e Helgerud et al., 28 avaliaram futebolistas juniores e observaram que esses atingiram o LA em um percentual de VO 2 max médio acima de 80%. Na medida em que a velocidade de corrida e a intensidade de exercício em que se atinge o LA refletem o estado de treinamento de futebolistas, deve-se indagar e avaliar em estudos futuros se o POC também pode ser útil para diferenciar o desempenho físico de atletas. Na comparação entre os futebolistas de diferentes posições de jogo, goleiros, meio-campistas, laterais, zagueiros e atacantes não diferiram em relação ao POC. Manari et al., 29 comparam o LA e o VO 2 max de 450 futebolistas da elite europeia de diferentes posições de jogo e não encontraram diferenças no LA, assim como observado tanto com o LA como com o POC em nosso estudo. Por outro lado, e semelhante ao encontrado no nosso estudo, o VO 2 max foi menor nos goleiros. Em outro estudo, Tonessem et al., 30 avaliaram 1.545 atletas de futebol masculino e observaramdiferenças pequenas a moderadas no VO 2 max de acordo com a posição de jogo, sendo maior nos futebolistas de meio-campo, seguido de modo decrescente nos de defesa, atacantes e goleiros. De forma semelhante, na avaliação de 25 futebolistas profissionais, Balikian et al. 31 observaramvalores médios de VO 2 maxmenores emgoleiros (52,68mL.kg -1 .min -1 ) em relação à média dos futebolistas das demais posições. No entanto, ao contrário do encontrado no nosso estudo, a média da velocidade em que os jogadores atingiram o LA diferiu de acordo com a posição em campo, sendo menor para os goleiros (12,66 km.h -1 ) e maior para os laterais (14,33 km.h -1 ) e meio-campistas (14,11 km.h -1 ). Não obstante, deve-se destacar, porém, que a diferença entre os métodos utilizados para a mensuração do LA dificulta a comparação dos resultados entre os estudos. Finalmente, o POC não apresentou associação linear com as variáveis LA e VO 2 max. Ramos et al. 15 não apenas descreveram uma associação moderada com o VO 2 max (-0,47) e o LA (-0,42) como também observaram que a combinação POC e VO 2 max possui maior informação

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