IJCS | Volume 31, Nº4, Julho / Agosto 2018

451 DOI: 10.5935/2359-4802.20180029 PONTO DE VISTA International Journal of Cardiovascular Sciences. 2018;31(4)451-453 Correspondência: Ana Luisa Rocha Mallet Rua Almirante Alexandrino, 1808/SS-302. CEP: 20241-263, Santa Teresa, RJ - Brasil. E-mail: alr.mallet@gmail.com Cinema e Cardiologia: Uma Potente Ferramenta de Ensino Cardiology and Films: An Important Teaching Tool Ana Luisa Rocha Mallet, 1,2 Fatima Geovanini, 2 Luciana Andrade, 2 David Kestenberg 2 Hospital Clementino Fraga Filho, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); 1 Rio de Janeiro, RJ - Brasil Universidade Estácio de Sá, 2 Rio de Janeiro, RJ - Brasil Artigo recebido em 12/11/2017, revisado em 18/12/2017, aceito em 16/02/2018. Comunicação, Humanos, Doenças Cardiovasculares, Neoplasias, Relações Médico-Paciente, Prognóstico, Revelação da Verdade. Palavras-chave A utilização de filmes e textos literários na graduação médica ganha espaço a partir da percepção de que essa experiência possa contribuir não só para a discussão de determinados aspectos técnicos das condições clínicas apresentadas como para uma possibilidade de experimentação desse processo de adoecimento em um indivíduo em particular. Em artigo anterior sobre Literatura e Cardiologia, 1 observamos que a descrição do processo de morte no livro “Amorte de Ivan Ilitch” de Tolstói poderia ser mais potente para a percepção do estudante de medicina e do médico no processo de finitude do que a leitura de textos teóricos que tratem do fim da vida. Da mesma forma, “Memórias de Adriano”, de Marguerite Yourcenar, poderia também auxiliar na percepção do sofrimento de um paciente com insuficiência cardíaca. Assim como a literatura, o cinema tambémvem sendo utilizado em vários momentos da formação médica para a discussão de questões relacionadas principalmente à ética e à práticamédica. Existem filmes que classicamente são apresentados ao estudante ao longo da sua formação médica, como por exemplo “Patch Adams”, “Golpe do destino”, “Mar adentro”, “Cisne negro”, “Melhor impossível” e “Uma Lição de Vida”. O cinema, ao aliar a história contada à imagem, pode diminuir a nossa capacidade de imaginar como seriam os personagens e localidades dessa história. Por outro lado, em um tempo geralmente mais curto que a leitura de um livro, nos oferece uma experiência estética diferente, que nos coloca diante de imagens e sons que afetam nossa sensibilidade de uma maneira diversa da experiência estética da leitura. Ambas, literatura e cinema, permitem o acesso a um nível de interiorização que é difícil conseguirmos ao ler um livro ou texto de medicina que nos fale sobre alguma doença. Enquanto nos livros médicos encontramos a descrição das células, dos órgãos, das doenças, como é feito o diagnóstico, além das drogas e outros tratamentos a serem utilizados, na literatura e no cinema podemos encontrar os pacientes vivenciando essas experiências de adoecimento. Em relação à cardiologia, o ano de 2016 foi particularmente interessante ao abordar, em dois filmes bastante premiados, e sob diferentes aspectos, uma das condições cardiológicas mais prevalentes no mundo: a insuficiência cardíaca. Esses dois filmes foram: “Manchester à beira-mar” e “Eu, Daniel Blake”. “Manchester à beira-mar”, filme de Kenneth Lonergan, vencedor doOscar de 2017 demelhor ator (CaseyAffleck) e de melhor roteiro original, tem como tema central a volta de um homem à sua cidade natal após a morte de seu irmão. Sua volta, para cuidar do sobrinho de 16 anos, traz a necessidade de esse homem encarar um grande trauma do passado. A cena do filme que nos interessa e que pode ser discutida em uma aula de cardiologia, pois envolve o tema da insuficiência cardíaca, tem menos de trêsminutos e apresenta omomento emque é transmitido ao irmão o diagnóstico da doença. O diagnóstico da insuficiência cardíaca é apresentado ao paciente e à sua família (esposa, irmão e pai) por uma médica durante uma internação hospitalar. A médica conversa com o paciente sobre o diagnóstico e o prognóstico da doença, além de discutir o fato de os dados apresentados serem estatísticas e não números definitivos sobre um paciente em particular. Apenas com

RkJQdWJsaXNoZXIy MjM4Mjg=