IJCS | Volume 31, Nº4, Julho / Agosto 2018

426 Jorge et al. Vitamina D e doença cardiovascular Int J Cardiovasc Sci. 2018;31(4)422-432 Artigo de Revisão Estudos observacionais evidenciaram que a incidência e a prevalência de diabetes tipo 1 são mais elevadas nos países de maior latitude e que a doença é mais frequentemente diagnosticada nos meses de inverno. 28 Alguns estudos têm relacionado o déficit de vitamina D em gestantes com a incidência de diabetes tipo 1 nas crianças após o nascimento. 29 Outros estudos avaliaram o papel protetor da suplementação de vitamina D na infância precoce contra o desenvolvimento de diabetes tipo 1, evidenciandomenor incidência da doença naquelas crianças que fizeram suplementação da vitamina. 30 Com relação à resistência insulínica e ao diabetes tipo 2, os resultados têm sido conflitantes. Alguns estudos têm associado baixas concentrações de 25-hidroxivitamina D com resistência insulínica e disfunção de células beta pancreáticas em populações ocidentais. 31 Ao estudarem 1.807 indivíduos coreanos saudáveis, Ock et al., 32 relataram recentemente que a vitamina D apresenta uma associação inversa com resistência insulínica. 32 Avaliando a relação entre hipovitaminose D, diabetes e DAC, Nardin et al., 33 avaliaram 1.859 pacientes submetidos a angiografia eletiva para pesquisa de coronariopatia e concluíram que o diabetes não é um preditor independente de hipovitaminose D, porém pacientes diabéticos com deficiência de vitamina D apresentarammaior prevalência e severidade de DAC. 33 Em estudo recente, Schafer et al., 34 seguiram mais de 5.000 mulheres idosas por 8,6 ± 4,4 anos com o objetivo de investigar uma possível relação entre os níveis de vitamina D e surgimento de diabetes tipo 2; os autores concluíramque os níveis séricos de vitamina Dnão foram preditores independentes de incidência de diabetes tipo 2 nesta população. 34 Obesidade Evidências recentes apontam que a deficiência de vitamina D está associada com a obesidade e com outros componentes da síndrome metabólica. 35 Baixos níveis de 25-hidroxivitamina D são comuns em indivíduos obesos, e muitos estudos têm evidenciado uma relação inversa entre os níveis séricos de vitamina D e o índice de massa corporal (IMC). 36 A vitamina D também tem sido associada com a distribuição de gordura regional, e níveis elevados da vitamina têm sido associados commenor quantidade de gordura visceral e subcutânea. 37 Algumas explicações propostas para essa associação são: diferenças na ingestão dietética entre indivíduos obesos e não obesos, menor exposição solar entre indivíduos obesos, menor biodisponibilidade da vitamina D na obesidade e metabolismo da vitamina D alterado em indivíduos obesos. 38 Wortsman et al., 39 propuseram a hipótese do sequestro de vitamina D no tecido gorduroso para explicar a prevalência de baixos níveis dessa vitamina em indivíduos obesos. 39 Eles demonstraram que indivíduos obesos apresentavammenores incrementos séricos de 25-hidroxivitamina D quando comparados a indivíduos não obesos sob as mesmas condições de exposição solar e ingestão vitamínica. Como a vitamina D é lipossolúvel, os autores propuseram que a vitamina deveria se acumular no tecido adiposo e não estar prontamente disponível na circulação, o que levaria a níveis séricos reduzidos da vitamina. Por outro lado, Drincic et al., 40 sugeriramque a diferença nos níveis séricos de vitamina D entre obesos e não obesos estaria relacionada ao volume de distribuição da vitamina, o qual é maior nos indivíduos obesos e que justificaria os níveis séricos mais baixos nestes indivíduos. 40 Tabagismo e estilo de vida O tabagismo é um fator de risco para DCV e inflamação sistêmica, e a vitamina D tem sido associada com ambas estas condições. Lee et al., 41 estudaram 560 indivíduos coreanos com 60 anos oumais, como objetivo de investigar a associação entre vitamina D e marcadores inflamatórios e avaliar se essa associaçãomuda de acordo com o perfil tabágico desses pacientes. 41 Os autores observaram que há uma associação significativa entre deficiência de vitamina D e proteína C reativa de alta sensibilidade (PCR-US) e que o tabagismo exerce um efeito modificador nessa associação, onde indivíduos fumantes têmuma associaçãomais forte entre deficiência de vitamina D e PCR-US que indivíduos não fumantes. 41 Com o objetivo de relacionar características de estilo de vida com a deficiência de vitamina D, Skaaby et al., 42 realizaramum estudo longitudinal com 4.185 indivíduos com um tempo de seguimento de 5 anos. Neste estudo, análises multivariadas de mensurações séricas repetidas de 25-hidroxivitamina D foram utilizadas para avaliar a associação da deficiência vitamínica com IMC, prática de atividade física, tipo de dieta (mais saudável versus menos saudável), consumo de álcool e tabagismo. Como resultados, níveis séricos mais baixos de vitamina D foram associados com maior IMC, menor nível de atividade física, consumo de dietamenos saudável, maior consumo de álcool e tabagismo. 42

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