IJCS | Volume 31, Nº4, Julho / Agosto 2018

422 DOI: 10.5935/2359-4802.20180025 International Journal of Cardiovascular Sciences. 2018;31(4)422-432 ARTIGO DE REVISÃO Correspondência: Antonio José Lagoeiro Jorge Rua Marques de Paraná, 303 - 6º andar; CEP: 24033-900, Centro, Niterói, RJ - Brasil. E-mail: lagoeiro@cardiol.br, lagoeiro@globo.com Deficiência da Vitamina D e Doenças Cardiovasculares Vitamin D Deficiency and Cardiovascular Diseases Antonio José Lagoeiro Jorge, Jamerson Reis Cordeiro, Maria Luiza Garcia Rosa, Diego Braga Campos Bianchi Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ - Brasil Artigo recebido em 27/05/2017; revisado em 21/08/2017; aceito em 25/09/2017. Deficiência de Vitamina D/fisiopatologia, Doenças Cardiovasculares, Radiação Solar, Cálcio, Fósforo. Palavras-chave Resumo A vitamina D é considerada um hormônio esteroide com amplo espectro de atuação no organismo humano. Sua ação ocorre a partir da ligação do seu metabólito ativo (1 α ,25-di-hidroxivitamina D) com seu receptor (VDR) que se encontra presente em todo o organismo, inclusive nas células musculares lisas vasculares e nos cardiomiócitos. Inicialmente, a deficiência de vitamina D havia sido relacionada apenas com alterações no sistema musculoesquelético. Porém, nos últimos anos, pesquisadores têm demonstrado sua relação com diversas patologias pertencentes a outros sistemas, tais como as doenças cardiovasculares. O objetivo deste trabalho foi revisar a fisiopatologia da vitamina D, descrever sua relação com as doenças cardiovasculares com base nas publicações mais recentes e destacar os resultados da suplementação vitamínica na prevenção de tais patologias. Introdução A vitamina D, quarta vitamina a ser descrita, foi inicialmente caracterizada como um fator capaz de curar o raquitismo, doença caracterizada por desmineralização óssea e deformidades esqueléticas. 1 Atualmente, a vitamina D engloba um grupo de moléculas secosteroides derivadas do 7-deidrocolesterol (7-DHC), onde há o metabólito ativo (1 α ,25-di- hidroxivitamina D ou calcitriol), seus precursores (colecalciferol ou vitamina D3, ergocalciferol ou vitamina D2 e a 25-hidroxivitamina D ou calcidiol), bem como seus produtos de degradação. 2 Essas moléculas, em conjunto com suas proteínas carreadoras e receptores, formamum importante eixo metabólico: o sistema endocrinológico da vitamina D. 3 A vitamina D ativa apresenta um papel fundamental na regulação da fisiologia osteomineral, em especial no metabolismo do cálcio e do fósforo. Ela está também envolvida na homeostase de vários outros processos celulares, tais como a modulação da autoimunidade e síntese de interleucinas inflamatórias, 4 controle da pressão arterial 5 e participação nos processos de multiplicação e diferenciação celular. 6 O espectro de ação da vitamina D é tão amplo que estudos com microarranjos mostram que a 1 α ,25-di-hidroxivitamina D tem mais do que 900 genes-alvos potenciais, correspondendo a cerca de 3% do genoma humano. 7 Estudos epidemiológicos têm constatado que uma parcela significativa da população mundial, independente de idade, etnia e localização geográfica, apresenta baixos níveis séricos de vitamina D, 8 como ilustra a Figura 1. Alguns países chegam a apresentar taxas de deficiência de vitamina D superiores a 50%, como observado no Brasil, Dinamarca e Alemanha. Pesquisas recentes têm associado níveis séricos inadequados de vitamina D com diversas doenças não relacionadas com o sistema musculoesquelético, tais como câncer (cólon, próstata e mama), doenças autoimunes e inflamatórias (esclerose múltipla, doença de Crohn), depressão e doenças cardiovasculares (DCVs), como hipertensão arterial (HAS), doença arterial coronariana (DAC) e insuficiência cardíaca (IC). 9 O objetivo deste trabalho foi revisar a fisiopatologia da vitamina D, descrever sua relação com as DCVs

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