IJCS | Volume 31, Nº4, Julho / Agosto 2018

419 Tabela 3 - Medidas de qualidade dos instrumentos HAM-D e PHQ-9 como testes diagnósticos para depressão em pacientes ambulatoriais com insuficiência cardíaca Instrumento Acurácia Sensibilidade Especificidade % de falso- positivos % de falso- negativos HAM-D 76,3 86,3 56,0 14,5 9,2 PHQ-9 55,3 47,1 72,0 9,2 35,5 HAM-D: Escala de Avaliação de Depressão de Hamilton; PHQ-9: Patient Health Questionnaire 9 . Guerra et al. Rastreamento: depressão na insuficiência cardíaca Int J Cardiovasc Sci. 2018;31(4)414-421 Artigo Original cognitivo ou analfabetos, este instrumento não é recomendado. 10,12,21 Portanto, nossos resultados de investigação em relação à consistência interna das escalas revelam que o BDI-II, HAM-D e PHQ-9 mostraram ser ferramentas úteis para aplicação em pacientes com IC. Observamos neste estudo uma possível vantagem na concordância do HAM-D com o instrumento padrão- ouro, BDI-II. Isto se deve provavelmente ao número de itens destes questionários. A concordância significativa entre as escalas indica uma avaliação da intensidade dos sintomas no mesmo sentido, isto é quanto maior o número de pontos, maior a gravidade. 37,40 Uma possível explicação sobre a diferença entre a prevalência identificada na escala PHQ-9 pode ser pelas suas características autorreferidas, já que retratam uma resposta subjetiva do indivíduo (como este percebe sua saúde e seu sintoma). Embora, o instrumento já tenha sido testado em vários níveis de atenção à saúde e diferentes contextos culturais, 1 ainda são realizadas poucas pesquisas no Brasil com PHQ-9 para rastrear depressão empacientes ambulatoriais com IC. Umestudo realizado em Minnesota avaliou com a escala PHQ-9 a ocorrência de depressão emuma amostra de 425 pacientes ambulatoriais com IC e identificou uma prevalência de 42,1% (n = 179), 38 em linha com os nossos achados. As escalas de autoavaliação e heteroavaliação devem levar em consideração vários aspectos, como o nível educacional do indivíduo, sua disponibilidade de tempo para a avaliação e o objetivo da avaliação. As escalas BDI-II e HAM-D são os instrumentos utilizados em mais de 50% dos estudos, 10 e apresentam sensibilidade e especificidade aproximadas de 0,84 e 0,72, respectivamente, 37,39 também em linha com os nossos resultados. Uma revisão 9 avaliou as escalas HAM-D, BDI-II, Escala de Depressão Abreviada de Zung, Escala de Depressão Geriátrica de Yesavage e Escala deAvaliação deDepressão de Montgomery-Åsberg (MADRS). Os resultados mostraramrelevância na identificação de sinais e sintomas de transtornos depressivos, direcionando a atenção para intervenções na saúde mental do idoso. No presente estudo, observamos que os pacientes apresentavam comorbidades clínicas importantes (diabetes, dislipidemia, obesidade, IRC e hipertensão), mas estas não estiveram associadas à depressão. Um estudo realizado por Aguiar et al. (2010) em pacientes hospitalizados com IC (n = 43), os pacientes deprimidos (55,8%, n = 24) de acordo com a escala de HAM-D, não diferiram dos não deprimidos quanto ao sexo, idade, anemia e função renal, fatores que reconhecidamente podem influenciar na ocorrência demanifestações clínicas. Adepressão é um importante fator de risco associado à IC, 2 uma condição clínica sindrômica. Quando adepressão não é especificada, é confundida e subdiagnosticada nestes indivíduos, 35 provavelmente pela superposição dos sintomas da IC (dispneia, alteração de peso, sono, fadiga) e os sintomas neurovegetativos da depressão (insônia, lentidão psicomotora e diminuição de energia, concentração e apetite). 36 Umestudo realizadopor Freedlandet al. 32 (2016) emuma amostra de 682 pacientes com IC mostrou que 245 (36%) pacientes apresentavamdepressão clinicamente significante (segundo os critérios do Manual Diagnóstico e Estatístico de TranstornosMentais -DSM-IV), enquantoque 436 (64%) foramclassificados comonãodeprimidos.Ospacientes com depressão também não foram significativamente afetados pela presença de outras comorbidades importantes, como diabetes ou doença renal ou pela presença de apenas uma destas condições. Estes resultados estão alinhados com os do nosso estudo e diferem em alguns aspectos de observações descritas na literatura. Porém, considerando- se que a depressão acentua as manifestações clínicas e piora a evolução dos pacientes com IC, mais atenção deve ser dedicada a esta condição, inclusive no seu

RkJQdWJsaXNoZXIy MjM4Mjg=