IJCS | Volume 31, Nº4, Julho / Agosto 2018

415 Guerra et al. Rastreamento: depressão na insuficiência cardíaca Int J Cardiovasc Sci. 2018;31(4)414-421 Artigo Original Introdução Adepressão é umdistúrbio de naturezamultifatorial. 1 Quando associada à insuficiência cardíaca (IC), compromete a capacidade funcional, a qualidade de vida e a sobrevida do paciente. 2-7 É necessário explorar os métodos de rastreamento empregados para o diagnóstico da depressão, pois apesar de haver uma variedade de instrumentos aplicados, não existem estudos realizados para avaliar a concordância dos métodos em pacientes com IC. 1,8 O diagnóstico da depressão é realizado através da história clínica do paciente e do tempo de evolução dos sinais e sintomas, além da aplicação de escalas específicas. 1,8-9 Existem aproximadamente 49 escalas utilizadas na avaliaçãomultidimensional da depressão, 10 entre as quais se destacam a Escala de Avaliação de Depressão de Hamilton (HAM-D), 11 Inventário de Depressão de Beck-II 12 e Patient Health Questionnaire 9 (PHQ-9), 13 entre outras. Um estudo realizado por Matias et al., 1 que comparou o rastreamento da depressão através das escalas PHQ-9 e Escala de Depressão Geriátrica de Yesavage, concluiu que ambos os instrumentos são úteis para detectar depressão em idosos, com uma correlação rho de 0,387 (p < 0,000), confiabilidade kappa de 0,41 (p < 0,001), sensibilidade de 80%, especificidade de 44% e moderada concordância. Um estudo randomizado realizado por Freedland et al., 14 avaliou a eficácia de uma terapia de intervenção comportamental cognitiva integrativa na depressão (medida pelas escalas de BDI-II [46%] e HAM-D [51%]) e autocuidado empacientes ambulatoriais com IC (n = 158); os resultados do estudo mostraram que a intervenção foi eficaz para a depressão, mas não para o autocuidado. Outro estudo 15 realizado para determinar os pontos de melhor sensibilidade e especificidade do BDI-II e HAM-D em pacientes (n = 73) de um centro de referência em neuropsiquiatria mostrou que o BDI- II teve maior sensibilidade e especificidade (94,4% e 90,6%, respectivamente) do que o HAM-D (95% e 75,5%, respectivamente). O BDI-II tem sido descrito como um instrumento padrão-ouro para rastrear depressão na IC. 3,16 No entanto, esta é uma escala de autoavaliação, portanto de aplicação limitada no caso de pacientes com prejuízo cognitivo ou baixa escolaridade. Nestes casos, as escalas de heteroavaliação podem ser aplicadas por profissionais com experiência em entrevistar pacientes deprimidos. 15,17 Este estudo teve por objetivo determinar a prevalência da depressão e a concordância entre métodos de rastreamento para depressão em pacientes com IC. Métodos Tipo de estudo Estudo transversal comamostra consecutiva, realizado entre março de 2015 e janeiro de 2017 em uma clínica especializada em IC na Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói, RJ, Brasil. Participantes Os participantes estavam inscritos no programa multidisciplinar de uma clínica especializada emIC (UFF). Foram incluídos no estudo pacientes vinculados ao programa da clínica, comdiagnóstico de IC pelos critérios de McMurray et al. 18 (2012), de ambos os sexos e com capacidade de responder às perguntas dos questionários. Foram excluídos os pacientes com deficiência cognitiva de acordo com registro de prontuário, dificuldade ou incapacidade de compreensão dos instrumentos, com história prévia de terapia cognitiva ou em uso de medicamentos antidepressivos. Ao todo, 76 pacientes compuseram a amostra final do estudo e foram avaliados com três questionários de rastreamento de sintomas depressivos: HAM-D, BDI-II e PHQ-9. A entrevista foi conduzida por umúnico entrevistador, que seguiu o protocolo de consulta guiada para o questionário de heteroavaliação (HAM-D). 17 Os questionários BDI-II e PHQ-9 foram aplicados conforme recomendação da literatura. Os questionários foram aplicados durante a mesma entrevista, conduzida por um único examinador. No caso dos questionários de autoaplicação (BDI-II e PHQ-9), os pacientes foram informados de que estes questionários avaliariam seu estado de saúde mental. Em seguida, foram orientados a ler os questionários com atenção e assinalar as questões de acordo com a intensidade dos seus sintomas, cuja direção era semelhante (ou seja, quanto maior a gravidade do sintoma, maior a pontuação a ser assinalada). Não houve limitação no tempo para que os participantes completassem os questionários e o examinador não interferiu na leitura das questões para evitar viés de interpretação pelo entrevistado.

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