IJCS | Volume 31, Nº3, Maio / Junho 2018

275 Camargo et al. Drenagem linfática manual, natriurese e lipólise International Journal of Cardiovascular Sciences. 2018;31(3)274-281 Artigo Original Introdução A drenagem linfática manual (DLM) foi criada pelo médico dinamarquês Emil Vodder em 1936 como uma técnica coadjuvante, estabelecida como padrão ouro no tratamento de linfedema. 1 Entretanto, atualmente a sociedade dita um padrão de beleza no qual muitas mulheres submetem-se a tratamentos sem fundamentação científica para se sentirem bem. A partir desta realidade, a DLM tornou-se uma técnica popular, realizada por pessoas sem conhecimento sobre a fisiologia e a fisiopatologia do sistema linfático e sua relação com demais sistemas no nosso organismo, e amplamente aplicada em indivíduos saudáveis para redução de medidas. Sabe-se que o sistema linfático tem papel crucial no equilíbrio do fluído corporal e macromolecular, absorção lipídica e na função imune. Porém, omecanismo fisiológico da DLM sobre demais sistemas permanece pouco investigado. 1 O balanço hidroeletrolítico nas mulheres é influenciado pelos hormônios ovarianos. Seus receptores estão presentes nos tecidos reprodutivos e também naqueles envolvidos na regulação do fluido corporal, como o hipotálamo, o sistema cardiovascular e os túbulos renais. Tais hormônios interferem na dinâmica capilar, aumentando a reabsorção renal de sódio e alterando o volume plasmático. 2,3 Stachenfeld e Taylor, 4 demonstraram que o estradiol aumenta o volume plasmático pela ação na permeabilidade do endotélio capilar, diminuindo o escape de proteínas e água, sem modificar o volume do fluido extracelular. Os estrogênios podem influenciar na filtração e permeabilidade capilar, seja por ação direta no endotélio capilar ou por estimulação de substâncias como o peptídeo natriurético atrial (ANP) e óxido nítrico. 4 O ANP é um importante hormônio estocado nos grânulos secretórios das células atriais cardíacas, contribuindo para o equilíbrio hidroeletrolítico. Sua liberação ocorre pela distensão atrial decorrente do aumento do retorno venoso, distensão mecânica ou hipernatremia, provocando natriurese intensa acompanhada de diurese osmótica e vasodilatação, relaxando a musculatura lisa vascular das pequenas artérias, arteríolas emeta-arteríolas, causando hipotensão. Além disso, o ANP inibe a liberação de renina, aldosterona e vasopressina. Sua ação vasodilatadora é potente sobre os rins, contribuindo para o aumento do fluxo sanguíneo e na taxa de filtração glomerular, resultando em natriurese e aumento do fluxo urinário. 5 No adipócito, o ANP induz a lipólise via guanosina monofosfato cíclico (GMPc), que leva à ativação de proteína quinase dependente de GMPc tipo I (GK-I), e degradação de triglicerídeos por perilipina A e lipase hormônio-sensível (LHS). 6 Nelson et al., 7 investigaram em 12 homens jovens, saudáveis e treinados, a concentração plasmática de glicerol e sua excreção urinária. Observaram que o pico da concentração plasmática de glicerol coincidia com o seu pico na excreção urinária. Krupek et al., 8 avaliaram o glicerol urinário antes e após doze sessões de DLM em 3 mulheres jovens e saudáveis. Esse estudo não apontou aumento de glicerol na urina. Além de escassos, os resultados na literatura são conflitantes quanto aos efeitos desta técnica sobre a natriurese e a lipólise. Diante do exposto, nosso objetivo foi avaliar o efeito agudo de uma sessão de DLM sobre a natriurese e lipólise de mulheres jovens usuárias ou não de anticoncepcional oral. Material e métodos Respeitando as normas de conduta em pesquisa experimental comseres humanos (Resolução 466/2012 do Conselho Nacional da Saúde), este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa FCM/UNICAMP (CAAE: 24537613.2.0000.5404), Registro Brasileiro de Ensaios Clínicos RBR-45c8br. Todos os participantes assinaramo Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foi realizado o cálculo amostral para esta população tomando por base estudo piloto. Utilizou-se o programa GraphPad Statmate versão 2 para nível de confiança 95% e poder amostral 80%. Com isso, 30 voluntários por grupo são necessários para que o poder amostral estatístico pudesse ser considerado relevante. Este estudo estatístico foi realizado pela Profª Maria Imaculada de Lima Monteselo, especialista na área. Participaram 29 mulheres não usuárias de anticoncepcional oral (MnACO 21,5 ± 0,6 anos, IMC 21,3 ± 0,5 kg/m 2 ) e 29 usuárias (MACO 21,4 ± 0,5 anos, IMC 21,8 ± 0,4 kg/m 2 ), sedentárias (Questionário Internacional de Atividade Física, IPAQ-v8), 9 autodeclaradas saudáveis e semuso de medicações exceto anticoncepcional oral (ACO). O grupo MnACO participou na fase lútea do ciclo menstrual, enquanto que MACO na fase de repouso do ACO. Todos os procedimentos foram realizados em sala climatizada entre 22 e 24°C e umidade relativa do ar entre 40 e 60%, sempre no período da manhã. Durante

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