IJCS | Volume 31, Nº3, Maio / Junho 2018

199 DOI: 10.5935/2359-4802.20180026 EDITORIAL International Journal of Cardiovascular Sciences. 2018;31(3)199-200 Correspondência: Claudio Gil Soares de Araújo Rua Siqueira Campos, 93, salas 101-103. CEP: 22031-070 - Copacabana, Rio de Janeiro, RJ - Brasil E-mail: cgaraujo@iis.com.br É Possível Remodelar o Coração com Trinta e Cinco Semanas de Treinamento Militar Intenso em Jovens já Fisicamente Ativos The Heart of Physically Active Young Individuals can be Remodeled with an Intense 35-Week Military Training Claudio Gil Soares de Araújo Diretor de Pesquisa da Clínica de Medicina do Exercício - CLINIMEX - Rio de Janeiro, RJ, Brasil Exercício, Técnicas de Exercício e de Movimento, Adolescentes, Treinamento Intervalado de Alta Intensidade, RemodelamentoAtrial/fisiologia, Arritmias Cardíacas / diagnóstico por imagem. Palavras-chave Os médicos são formados e capacitados para tratar doenças e salvar vidas. Isso é particularmente notável e valorizado nos cardiologistas. No entanto, nem todos conseguem ver ou pensar na outra “ponta” no cotidiano de suas vidas profissionais atribuladas. Na realidade, muito frequentemente adoecemos porque não promovemos adequadamente nossa saúde, comumestilo de vida adequado, e por não adotarmos as estratégias preventivas mais recomendadas. Parece ser cada vez mais importante atuar antes da doença e, nesse sentido, a prática regular de exercício físico passa a ser uma grande ou a maior prioridade. Todavia, há uma natural preocupação clínica com a possibilidade dessa prática de exercício ser “exagerada” e por em risco a saúde e a integridade física dos exercitantes. Nesse contexto, é oportuno ler o artigo escrito pelos colegas portugueses e suecos 1 e publicado nesse número do International Journal of Cardiovascular Sciences . Dinis et al., 1 estudaram 76 jovens portugueses que já tinham patamares bastante altos de exercício físico regular - > 10 horas/semanais –, e que foram participar de um programa especial de treinamento militar. Esse treinamento especial consistiu de 20 horas de exercícios de diversos tipos e de uma intensidade propositadamente muito alta, divididos em cinco dias da semana por 35 semanas. Provavelmente, em função do nível muito alto de exigência desse treinamento especial, somente 17 dos jovens, todos com atuação e experiência desportiva competitiva prévia, conseguiramcompletar as 35 semanas. O treinamento produziu diversas modificações nos jovens, incluindo acentuado ganho de massa muscular e expressiva perda de gordura corporal, produzindo um perfil bem saudável de composição corporal. Como esperado, discretas reduções de frequência cardíaca e de pressão arterial em repouso foram também observadas na comparação entre os valores médios antes e após a intervenção. Todavia, o achado mais interessante do estudo foi o significativo remodelamento estrutural identificado no ventrículo esquerdo, através das medidas ecocardiográficas realizadas antes e ao final do período de treinamento militar especial, indicando que, mesmo em jovens já fisicamente treinados e com função cardíaca normal, o coração ainda é capaz de gerar adaptações morfofuncionais de natureza fisiológica, observáveis em repouso. A questão proposta por Dinis et al., 1 é certamente relevante e, dentro do contexto emque se insere, é original, trazendo os seus resultados uma potencial contribuição para o corpo do conhecimento existente na cardiologia do exercício e do esporte. Não obstante, como acontece com qualquer estudo, e esse não é exceção, há algumas limitações, muitas delas explicitadas pelos próprios autores. A primeira seria a ausência de um grupo controle. Contudo, a meu ver, com variações tão óbvias na comparação entre os resultados pré e pós-treinamento, essa é uma limitaçãomuitomais da teoria dametodologia científica do que de significado prático e objetivo para o clínico. Por outro lado, teria sido bastante oportuno ter obtidodados de uma avaliação funcional dos componentes aeróbicos e não aeróbicos da aptidão física 2 e, em caráter

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