IJCS | Volume 31, Nº3, Maio / Junho 2018

251 Santos et al. Mortalidade por doenças hipertensivas no Brasil International Journal of Cardiovascular Sciences. 2018;31(3)250-257 Artigo Original Introdução As doenças cerebrovasculares têm sido classificadas entreasdemaiorimpactoemtermosdemorbimortalidade. 1 Dentre os principais fatores de risco cardiovascular, a hipertensão arterial sistêmica (HAS) representa o agravo de maior relevância, fazendo-se necessárias ações de saúde visando minimizar os fatores de impacto que são determinantes na saúde da população. 2 A prevalência global de hipertensão arterial foi de 22%, em 2014, em adultos com idade igual ou superior a 18 anos. 3 A HAS é caracterizada pela elevação dos níveis pressóricos para ≥ 140 e/ou 90 mmHg, na qual a condição clínica pode ser causada por vários motivos, podendo ser agravada por outros fatores de risco como dislipidemia, obesidade abdominal, intolerância à glicose, diabetes mellito (DM), além de fatores modificáveis, determinantes socioeconômicos e acesso inadequado aos cuidados de saúde. 3,4 Diversos estudos apontam para a influência de aspectos étnicos no surgimento de doenças hipertensivas. 5 Não raro, existe dificuldade de se dissociar o papel representado por um grupo étnico, de fatores socioeconômicos, simultaneamente atuantes. 6 No Brasil as taxas de mortalidade cerebrovascular apresentaram- se maiores em negros, seguidos por pardos e brancos. 7 Cerca de 32,6% de adultos e mais de 60% de idosos têm hipertensão arterial no Brasil, o que contribui direta ou indiretamente para 50% das mortes por doença cardiovascular (DCV).4 Empaíses de baixa e média renda, onde o tratamento e controle sãomenores do que empaíses desenvolvidos, estima-se em cerca de 80% a prevalência de doenças associadas à hipertensão. 8 O impacto dessa enfermidade se reflete emaltos custos para o SistemaÚnico de Saúde (SUS). Estima-se um gasto anual de US$ 398,9 milhões, ou seja, cerca de 1,43% dos gastos totais do SUS. 9 O objetivo dessa pesquisa é estimar o impacto da hipertensão arterial no território brasileiro em um período de cinco anos. Para tal, são analisadas tendências da taxa demortalidade associada a doenças hipertensivas no Brasil, entre 2010 e 2014, estratificando-se de acordo com cor da pele e faixa etária, tanto para os estados quanto para as regiões. Métodos Estudo epidemiológico realizado a partir de dados agregados, obtidos em estratos populacionais, e associado à análise espacial. Os dados de organização do território brasileiro, incluindo coordenadas, em formato “shapefile”, e a estimativa da população dos anos estudados foram coletados no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE. 10,11 As informações epidemiológicas acerca da mortalidade associada à hipertensão arterial foram obtidas mediante consulta ao banco de dados do Ministério da Saúde, DATASUS. 12 Esses dados representam notificações oriundas do Sistema de Informação sobre Mortalidade. 13 Os óbitos foram filtrados pela categoria I.10 do Código Internacional das Doenças (CID-10). Em seguida, os dados agregados foram obtidos por ano, estado do país, sexo, faixa etária e cor da pele. A seleção do período de análise, entre 2010 e 2014, ocorreu devido aos seguintes motivos. Primeiramente, devido ao fato de considerarmos que análises mais recentes apresentem maior fidedignidade na coleta de dados, em decorrência de progressiva melhora no processo de informatização com avanços da tecnologia. Emsegundo lugar, por retratar, potencialmente, o cenário de transição resultante da introdução da losartana, um fármaco anti-hipertensivo de boa eficácia, que passou a ser distribuído gratuitamente no “Programa Farmácia Popular” a partir de 2010, vindo a tornar-se em 2014 o medicamento com maior demanda de consumo em unidades do Sistema Único de Saúde (SUS), inclusive no interior do país. 14,15 Entretanto, deve-se considerar que o efeito desse programa pode ocorrer de forma desigual entre as regiões, o que influenciaria potencialmente a análise. Por fim, o término do período, o ano de 2014, decorreu do fato de ser a data mais recente disponibilizada no DATASUS para a obtenção de estatísticas vitais em todo o território brasileiro. As variáveis selecionadas foram ano, sexo, faixa etária, cor da pele, estado do país, região e número de ocorrência de óbitos. Por tratar-se de enfermidade crônica, as faixas etárias selecionadas para contagem de óbitos associados à hipertensão arterial foram: 50- 59 anos; 60-69 anos; 70-79 anos e 80 ou mais anos. Essa contagem foi computada para os vinte e seis estados nacionais e para o Distrito Federal. A variável cor da pele retrata fundamentalmente a cor da pele e traços étnicos, conforme consta na declaração de óbito, sendo classificada em “branca”, “amarela”, “parda”, “negra”, “indígena” ou “ignorado”.

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