IJCS | Volume 31, Nº3, Maio / Junho 2018

241 mostrou preditor independente de positividade nesse teste. A literatura apresenta divergências quanto à associação entre etilismo e doenças isquêmicas cardíacas. O efeito do álcool empacientes com isquemia miocárdica é descrito como fator protetor em até uma dose de bebida alcoólica por dia 6,7 ou até duas doses por dia. 9,10 Outros estudos apontaram o etilismo como fator de risco para isquemia miocárdica quando o consumo médio foi de uma ou mais doses por dia 13 ou em qualquer dose diária. 12,14 Divergências e falta de correlação entre isquemia miocárdica e álcool evidenciadas em certos estudos podem ser explicadas pelas diferenças individuais inerentes às características genéticas. 11 Roerecke e Rehm, 6 em revisão sistemática, avaliaram 44 estudos observacionais que relacionavam doenças isquêmicas cardíacas ao consumo leve a moderado de álcool, entre 1980 e 2010, apresentando um total de 957.684 participantes. A partir dela, demonstrou- se que, embora exista alguma forma de associação cardioprotetora confirmada, heterogeneidades substanciais permaneceram inexplicadas e intervalos de confiança foram relativamente amplos, particularmente entre uma e duas doses diárias de bebida alcoólica. A cardioproteção relacionada ao etilismo foi descrita, portanto, como uma associação que não pode ser presumida, mesmo ao se avaliar consumo leve de álcool. As variáveis sexomasculino, dislipidemia e tabagismo - ditas preditoras independentes do etilismo leve a moderado no presente estudo - também apresentaram relação íntima com a isquemia miocárdica. Observa-se, em congruência com a literatura, maior frequência de consumo de álcool entre homens 7,13 e com hábito de tabagismo, 13,14 amplamente apontados como fatores de risco para isquemiamiocárdica. 17 Por sua vez, Perissinotto et al. 24 evidenciarammaiores valores séricos de colesterol LDL e colesterol total entre idosos cujo consumo de álcool era moderado, assim como no presente estudo, embora haja descrição na literatura desse consumo como inversamente associado à dislipidemia. 11,14 A literatura carece de dados ergométricos e ecocardiográficos relacionados ao consumo leve a moderado de álcool, visto que foram evidenciadas diferenças significativas no presente estudo. Observou- se significância estatística na relação entre o etilismo e maior tamanho de aorta e átrio esquerdo, assim como na associação commaior frequência de infradesnivelamento de segmento ST e menor frequência de disfunção diastólica e insuficiência cronotrópica. Em relação às limitações do estudo, destacam-se as inerentes a qualquer estudo observacional, em que variáveis não mensuradas podem contribuir para diferenças estatísticas entre os grupos. Ademais, não foi possível quantificar com precisão intervalos distintos de consumo de álcool, assim como não foi possível avaliar o tempo de etilismo, o tipo de bebida alcoólica e história prévia do hábito. Conclusão Etilismo leve a moderado não se apresentou como preditor independente da presença de isquemia miocárdica à EEF. Observou-se, no grupo dos etilistas, um predomínio de homens, dislipidêmicos e tabagistas, importantes variáveis preditoras de isquemiamiocárdica. Contribuição dos autores Concepção e desenho da pesquisa: Fontes VJB, Oliveira JLM. Obtenção de dados: Fontes VJB, Souto MJS, Conceição FMS, Telino CJCL, Silveira MS, Dória JAS, Matos CJO, Oliveira JLM. Análise e interpretação dos dados: Fontes VJB, Souto MJS, Sousa ACS, Melo EV, Conceição FMS, Telino CJCL, Silveira MS, Dória JAS, Matos CJO, Oliveira JLM. Análise estatística: Melo EV. Redação do manuscrito: Fontes VJB, Souto MJS, Sousa ACS, Melo EV, Conceição FMS, Telino CJCL, Matos CJO, Oliveira JLM. Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Fontes VJB, Souto MJS, SousaACS, Melo EV, Conceição FMS, Telino CJCL, Matos CJO, Oliveira JLM. Supervisão / como investigador principal: Oliveira JLM. Tabela 5 – Regressão logística multivariada com parâmetros clínicos associados ao consumo de álcool leve a moderado Variáveis Odds Ratio IC 95% p Isquemia miocárdica à EEF 0,96 0,83-1,11 0,603 Sexo masculino 5,88 5,21-6,63 < 0,001 Idade 0,97 0,96-0,97 < 0,001 Tabagismo 2,73 2,11-3,54 < 0,001 Dislipidemia 1,51 1,02-1,29 0,017 EEF: ecocardiografia sob estresse físico; IC: intervalo de confiança. Fontes et al. Consumo de álcool e isquemia miocárdica à EEF International Journal of Cardiovascular Sciences. 2018;31(3)235-243 Artigo Original

RkJQdWJsaXNoZXIy MjM4Mjg=