IJCS | Volume 31, Nº3, Maio / Junho 2018

236 Introdução A doença arterial coronária (DAC) permanece mund i a lmen t e c omo a p r i nc i pa l c aus a de morbimortalidade. 1,2 NoBrasil, esse cenárionão é diferente, visto que as doenças cardiovasculares constituemmais de um terço das mortes anualmente. 3 Dessa forma, um dos mais frequentes desafios da prática cardiológica cotidiana é a avaliaçãoprecocedaDAC. Essa investigação implica ônus substancial e crescente aos sistemasde saúde, especialmente considerando a peculiaridade da população brasileira, da qual aproximadamente dois terços são usuários do Sistema Único de Saúde. Portanto, torna-se imperativa a identificação de grupos de alto risco que se beneficiariam cominvestigações adicionais edaqueles combaixo risco, nos quais procedimentos adicionais podem ser dispensados. 4,5 Os efeitos do consumo de álcool são numerosos e, na maioria, prejudiciais à saúde. 6,7 Enquanto sua influência em óbitos por causas externas e na morbimortalidade de neoplasias é constantemente descrita, 8 o impacto do consumo leve amoderadode álcool noprognósticodaDAC ainda se mantém incerto. 6,8 Estudos recentes descreveram o consumo moderado de álcool como cardioprotetor, 7-11 embora tal associação tenha sido contestada. 12-15 A definição de consumo moderado possui ampla variação (de 5 a 60 gramas de etanol por dia), porém é comumente atribuída a não mais que uma dose de bebida alcoólica por dia para mulheres e até duas doses diárias de bebida alcoólica para homens. 10,11 Mais especificamente, uma dose de bebida alcoólica pode ser definida como cerca de 330 mL de cerveja comum, 100 mL de vinho ou 30 mL de destilado. 16 A ecocardiografia sob estresse é um método não invasivo estabelecido para a avaliação da isquemia miocárdica em pacientes com DAC suspeita ou conhecida, para determinação do diagnóstico e prognóstico, e para auxílio às decisões terapêuticas. 17 A ecocardiografia sob estresse físico (EEF), por sua vez, é a prática de primeira escolha em pacientes com capacidade física preservada, apresentando-se mais seguro e versátil que sob estresse farmacológico. 18 O objetivo do presente trabalho, portanto, é estudar a relação do consumo leve a moderado de álcool com a presença de isquemia miocárdica à EEF. Métodos Trata-se de umestudo transversal analítico e descritivo realizado entre janeiro de 2000 e dezembro de 2015. Pacientes A amostra, por conveniência, consistiu inicialmente em10.827 pacientes comDAC suspeita e/ou estabelecida, Fontes et al. Consumo de álcool e isquemia miocárdica à EEF International Journal of Cardiovascular Sciences. 2018;31(3)235-243 Artigo Original Abstract Background: The impact of alcohol consumption on the development of myocardial ischemia remains uncertain. Studies diverge whether low to moderate alcohol consumption provides cardioprotection or whether it is a risk factor for myocardial ischemia. Objective: To study the relationship between low to moderate alcohol consumption and myocardial ischemia on exercise stress echocardiography (ESE). Methods: Cross-sectional study with 6632 patients with known or suspected coronary artery disease undergoing ESE between January/2000 and December/2015. The patients were divided into two groups: G1, composed of 2130 (32.1%) patients whose report showed maximal consumption of 1 drink per day on average for women or of 2 drinks per day for men; G2, composed of individuals denying any alcohol consumption. For comparing between the groups, Student t test was used for quantitative variables, and chi-square test or Fisher exact test, for categorical variables. The significance level adopted was p < 0.05. Logistic regression was also used to evaluate independent risk factors for myocardial ischemia. Results: G1 had a higher number of men (77.1%; p < 0.001), lower mean age (54.8 ± 10.3 years old; p < 0.001) and higher frequency of myocardial ischemia on ESE (p = 0.014). Age, male sex, dyslipidemia, systemic arterial hypertension, diabetes mellitus, smoking and family history were independently associated with myocardial ischemia on ESE. Independent association between low to moderate alcohol consumption and myocardial ischemia on ESE (OR 0.96; 95%CI: 0.83 to 1.11) was not observed. However, age, male sex, smoking and dyslipidemia were associated with alcohol consumption. Conclusion: Low to moderate alcohol consumption was not an independent predictor of myocardial ischemia on ESE. Nevertheless, we observed a predominance of the male sex, dyslipidemia and smoking habit, important predictors of myocardial ischemia, in the group of alcohol consumers. (Int J Cardiovasc Sci. 2018;31(3)235-243) Keywords : Alcoholic Beverages; Alcohol Drinking; Risk Factors; Coronary Artery Disease; Echocardiography, Stress. Full texts in English - http://www.onlineijcs.org

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