IJCS | Volume 31, Nº3, Maio / Junho 2018

224 Cardoso et al. Correlação entre lesões coronarianas e troponina International Journal of Cardiovascular Sciences. 2018;31(3)218-225 Artigo Original comparou os níveis de troponina I com a gravidade da lesão coronariana, quantificada pelas características das lesões observadas ao cateterismo ou alteração do fluxo coronariano. Nesse estudo, o autor demostrou que apesar de não haver significância estatística entre os níveis elevados de troponina I e a gravidade da lesão ou alteração do fluxo coronariano, esses níveis correlacionavam-se com maior número de vasos com lesões obstrutivas significativas e presença de trombo. 13 Observamos, ainda, correlação entre as dosagens do mesmo biomarcador e os escores clínicos prognósticos GRACE e TIMI. A correlação linear entre essas variáveis, embora fraca, sugere um pior prognóstico àqueles pacientes com níveis de TnUs mais elevados. A mediana dos escores GRACE (121) e TIMI (3) encontrada na população estudada indicam pacientes de risco intermediário já com níveis de TnUs superiores a 4 vezes o limite da normalidade (valor de corte de referência utilizado: 14 pg/dL). Pesquisa semelhante publicada por Biener et al., 14 relacionou o padrão ascendente ou descendente dos níveis admissionais de TnUs com o escore de risco GRACE, objetivando demonstrar se as alterações nesse biomarcador adicionavam informação prognóstica ao escore. O estudo sugeriu que um escore de risco GRACE elevado (≥ 140 pontos) e valores de admissão de TnUs acima do percentil 99 são indicadores confiáveis de eventos cardiovasculares adversos em pacientes internados com suspeita de SCA. Já as alterações cinéticas de troponina emqualquer direção não parecemadicionar informação prognóstica. 14 O nosso estudo, apesar de não avaliar a presença de alterações cinéticas enemmesmoeventos cardiovasculares futuros, encontrou níveis pouco elevados de TnUs já associados a valores de GRACE escore intermediários. A relação linear, apesar de fraca, pode também sugerir pior prognóstico a esses pacientes. No que se refere ao escore TIMI, também foram encontrados alguns artigos na literaturaqueo comparassem diretamente com a troponina. No estudo de Gomes et al., 15 por exemplo, a TnUs contribuiu para a reclassificação, para um risco superior, de pacientes com SCA sem supradesnivelamento do segmento ST, previamente estratificados quanto ao risco pelo TIMI. Já O´Donoghue et al., 16 após avaliar diversos biomarcadores, concluíram que a troponina T estava relacionada a escores TIMI mais elevados. Apesar de também não terem utilizado a TnUs, esses dados corroboramos encontrados nopresente estudo. Frente aos dados apresentados, há uma correlação entre os valores de TnUs nos pacientes com SCA e a complexidade das lesões quantificada pelo escore anatômico SYNTAX, assim como uma correlação entre o valor desse biomarcador e os escores clínicos prognósticos GRACE e TIMI. Assim, apesar das limitações nas coletas de sangue para dosagemde troponina e a chegada tardia dos pacientes ao nosso pronto atendimento, a troponina mostrou ser um biomarcador capaz de predizer níveis intermediários de escores de risco e maior complexidade das lesões coronárias, indicando pior prognóstico. Estudos adicionais, com maior número de pacientes e acompanhamento de eventos cardiovasculares futuros são necessários para melhor avaliação e, se possível, identificação do ponto de corte indicador de pior prognóstico para a troponina utilizada no nosso serviço. Apesar de não ser o objetivo desse estudo, encontramos na população avaliada níveis de colesterol LDL nãomuito elevados, visto ser a média da população classificada como risco intermediário. Mesmo com níveis limítrofes de colesterol, os pacientes apresentaram evento coronariano agudo, ressaltando a importância de outros fatores de risco associados. Outro achado, apesar de não ter sido avaliado em toda a amostra da população em função de dados insuficientes nos prontuários, foi amédia elevada de proteína c-reativa (valor de referência inferior a 5 mg/dL na instituição), indicando maior inflamação nesses pacientes, o que já possui correlação bem estabelecida com risco aumentado para eventos coronarianos agudos. Conclusão O presente estudo encontrou correlação linear positiva, significativa emoderada entre os níveis de TnUs e a complexidade das lesões coronarianas avaliada pelo SYNTAX escore. Além disso, observou correlação fraca entre as dosagens do mesmo biomarcador e os escores clínicos prognósticos TIMI e GRACE. Contribuição dos autores Concepção e desenho da pesquisa: Cardoso MR, Silva Junior DG. Obtenção de dados: Cardoso MR, Ribeiro EA, Rocha Neto AM. Análise e interpretação dos dados: CardosoMR, Silva JuniorDG, RibeiroEA, RochaNetoAM. Análise estatística: Cardoso MR, Silva Junior DG. Redação domanuscrito: CardosoMR. Revisão crítica domanuscrito quantoao conteúdo intelectual importante: Silva JuniorDG.

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