IJCS | Volume 31, Nº2, Março / Abril 2018

170 Também Souza et al., 4 que avaliaram prontuários de pacientes submetidos à cirurgias cardíacas entre 1991 e 2000, verificaram S. aureus como o microrganismo mais frequentemente isolado na ferida operatória (46,0%), seguido por Pseudomonas aeruginosa (21,6%) e S. epidermidis (8,1%). Os casos com isolamento de S. epidermidis desenvolveram mediastinite crônica. Charbonneau et al., 37 realizaram estudo em pacientes com mediastinite pós-cirurgia cardíaca internados em UTI, de 2000 a 2008, em dois hospitais na França, e verificaram que 309 pacientes desenvolveram mediastinite pós-esternotomia, sendo 29,4% com bactérias Gram -positivas. A presença de bactérias Gram -positivas foi associada a falhas de drenagem, infecção secundária, necessidade de ventilação mecânica prolongada e/ou uso de vasopressores. Várias são as possibilidades de portas de entrada para agentes patogênicos nos pacientes submetidos à cirurgia torácica ou cardíaca, como comprometimento da irrigação do esterno com utilização de artérias torácicas internas durante a revascularização do miocárdio, utilização de próteses em contato com a corrente sanguínea, debilidade orgânica e, em alguns casos, precária condição hemodinâmica nos pós-operatório dos pacientes, ocasionando baixa debilidade no sistema imunológico, principalmente nos pacientes diabéticos, idosos e/ou com grave disfunção do miocárdio. 10,38 Assim, medidas preventivas 39 são fundamentais para evitar a colonização do paciente por microrganismos, como reduzir ao máximo o tempo de internação hospitalar, principalmente antes da cirurgia, evitando a colonização por microrganismos selecionados do ambiente hospitalar; realizar assepsia rigorosa do paciente; utilizar o mínimo possível o eletrocautério na diérese; manipular cuidadosamente os tecidos; evitar ao máximo o trauma cirúrgico do esterno; fazer hemostasia rigorosa; orientar periodicamente a equipe e avaliar os equipamentos utilizados no centro cirúrgico ou na UTI; além de manipular adequadamente os drenos, os cateteres e os curativos operatórios. Este estudo teve como limitações o curto período de avaliação de uma infecção com baixa prevalência, o que resultou no registro de poucos casos. A utilização de dados de prontuários em papel pode apresentar fragilidades como missings e imprecisão de informações. Além disto, o estudo foi realizado com dados de um único hospital, não sendo uma amostra representativa do Estado de Minas Gerais. Conclusão Muitos fatores de risco têm sido associados com o desenvolvimento de mediastinite pós-cirurgia cardíaca. No entanto, tem-se percebido não haver consenso definido sobre os mais importantes associados à mediastinite e também se cada fator pode ser considerado um preditor independente de riscoparamediastinite nopós-operatório. Neste estudo observou-se predominância do sexo masculino, idade média de 58,8 anos e cirurgia de revascularização do miocárdio como o tipo cirúrgico mais comum , estando de acordo com os achados da literatura. As características dos pacientes que tiveram diagnóstico de mediastinite foram maior proporção de homens, maior realização de cirurgia de revascularização do miocárdio e maior ocorrência de óbito. Com relação aos fatores de risco, foram observados: maior número médio de fatores de risco pré-cirúrgicos, maior tempo de internação e maior ocorrência de febre pós-cirurgia. O microrganismo mais frequentemente observado em pacientes com mediastinite foi Staphylococcus aureus , e a presença de bactérias Gram -positivas foi elevada. Os resultados apontam a necessidade de investigação dos fatores responsáveis pelo surgimento desta complicação, visando à prevenção e ao controle de infecções relacionadas à assistência à saúde, para melhorar a qualidade da assistência e a segurança do paciente. Esforços devem ser concentrados para o controle dos fatores de risco antes do procedimento, além do aprimoramento de medidas que possam diminuir ou eliminar o surgimento da complicação, com vistas à prevenção e ao controle de infecções relacionadas à assistência à saúde. Para tanto, é necessário treinamento das equipes de saúde para o controle dos fatores de risco associados à mediastinite, além do reforço das medidas preventivas, para evitar a colonização do paciente por microrganismos. Contribuição dos autores Concepção e desenho da pesquisa: PintoDCG, Jentzsch NS. Obtenção de dados: Pinto DCG, Gonçalves FL, Jentzsch NS. Análise e interpretação dos dados: Pinto DCG, Bahia Neto AFC, Gomes IC, Sternick EB, Almeida AM, Jentzsch NS. Análise estatística: Gomes IC, Almeida AM. Redação do manuscrito: Pinto DCG, Bahia Neto AFC, Almeida AM. Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual Pinto et al. Fatores Associados à Mediastinite Pós-Esternotomia Int J Cardiovasc Sci. 2018;31(2)163-172 Artigo Original

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