IJCS | Volume 31, Nº2, Março / Abril 2018

168 O paciente do sexo masculino tem maior propensão ao desenvolvimento de mediastinite, sendo inclusive considerado um fator de risco independente para seu desenvolvimento. 18,19 Um dos mecanismos prováveis se relaciona com os aspectos anatômicos do homem (folículos pilosos na região da esternotomia), favorecendo o crescimento e a infecção bacteriana. Guaragna et al., 8 verificaram tal relação: a maioria dos pacientes que desenvolveu mediastinite era do sexo masculino. No presente estudo, não foi possível avaliar esta relação, pois o sexo foi utilizado para pareamento dos controles. Com relação ao tipo de cirurgia, a correlação entre CRVM e o desenvolvimento de mediastinite é bem documentada na literatura. Foram mencionados mais de 80% dos casos da infecção como complicação associada à cirurgia. 3 Estudos de Souza et al., 4 Sá et al., 1 e Magalhães et al., 3 verificaram esta relação, assim como observado neste estudo em que a CRVM, além de ter sido a cirurgia mais realizada, apresentou maior proporção de pacientes commediastinite, apesar da não apresentar diferença estatística. A incidência de mediastinite nos estudos avaliados, como descrito na diretriz da American College of Cardiology/American Heart Associtaion (ACC/AHA), 11 encontra-se entre 0,4 e 4,0%. Neste estudo, não foi possível avaliar a incidência de mediastinite, devido ao delineamento utilizado. No entanto, nos estudos de coorte, a menor incidência de mediastinite foi observada no estudo de Ariyaratnam et al., 17 realizado no Reino Unido. Estudos conduzidos no Brasil apresentaram incidência variando de 1,3 a 3,3%, 3,4,6,8,16 com exceção de Sá et al., 1 que apresentaram incidência de 5,6%. Os autores justificam a elevada incidência por terem considerado todos os tipos de cirurgias cardíacas, inclusive CRVM, segundo eles associada à maior risco de mediastinite. Outros estudos, 1,3,4 também verificaram associação entre CRVM e risco aumentado de mediastinite, mas demonstraram incidência dentro do limite apontado pela diretriz da ACC/AHA. 11 Com relação à mortalidade, altos índices têm sido descritos na literatura, com dados variando entre 14 e 47%. 3 Em estudos brasileiros de pacientes que realizaram cirurgias cardíacas, observaram-se taxas de mortalidade de 15,8 a 42,8%. 1,3,4,6,8,15 Foram observadas, em estudo internacional, taxas mais baixas de mortalidade (9,1%), 17 porémmais elevadas nos pacientes que desenvolveram mediastinite, 17 tal como neste estudo. Esta variação sugere que tanto a incidência da mediastinite quanto a mortalidade possam estar relacionadas com a instituição avaliada, podendo ser influenciadas pela rotina da instituição, pelo uso de antimicrobianos profiláticos ou pela padronização de técnicas assépticas. Com relação aos fatores de risco pré-operatórios, neste estudo, não foram observadas diferenças significativas quando os fatores foram avaliados isoladamente, assim como no estudo anterior realizado nesta mesma instituição. 15 Porém, no modelo de regressão logística, maior chance de desenvolver mediastinite foi atribuída ao maior número de fatores de risco pré-operatórios. Cada acréscimo de fator de risco aumentou a chance de ter mediastinite em 57,3%. Revisão da literatura buscou identificar os fatores de risco relacionados à ocorrência de mediastinite pós-esternotomia em pacientes adultos submetidos à CRVM. Os principais fatores de risco identificados foram idade acima de 65 anos, DM, obesidade, DPOC e reintervenção cirúrgica. 20 Tiveron et al., 16 verificaram os fatores de risco pré‑operatórios em pacientes (maioria submetida à CRVM) e ocorrência de mediastinite, e identificaram balão intra-aórtico, hemodiálise e intervenção vascular extracardíaca. Já Oliveira e Paula, 21 encontraram DM, tempo de internação superior a 7 dias no pré-operatório, tabagismo e obesidade. Guaragna et al., 8 por sua vez, avaliaram pacientes submetidos à cirurgia cardíaca, e os fatores de risco pré-operatórios foram: obesidade, DM, DPOC, cirurgia cardíaca prévia, tabagismo e sexo − sendo fatores de risco independentes (obesidade , DPOC e DM), mesmo quando analisados por sexo e idade. Estudo realizado em pacientes submetidos à CRVM apresentaram fatores de risco pré-operatórios independentes relacionados à mediastinite, como DM, obesidade e tabagismo, 1 Em estudo realizado no Reino Unido, 17 foram listados os seguintes fatores: idade, índice de massa corporal, DM e DPOC. Muitos fatores de risco têm sido associados ao desenvolvimento de mediastinite pós-cirurgia cardíaca. No entanto, tem-se percebido não haver consenso definido sobre os mais importantes associados à mediastinite, e nem se cada fator pode ser considerado um preditor independente de risco no pós-operatório. De maneira geral, os estudos apenas descrevem os principais fatores de risco associados à doença em diferentes serviços de saúde. 22 Estudos realizados emdiferentes serviços de saúde 1,8,17,21 apresentaram resultados semelhantes aos observados na revisão de literatura, 20 que apontou idade, DM, obesidade, Pinto et al. Fatores Associados à Mediastinite Pós-Esternotomia Int J Cardiovasc Sci. 2018;31(2)163-172 Artigo Original

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