IJCS | Volume 31, Nº2, Março / Abril 2018

164 Introdução Amediastinite é uma infecção grave pós-esternotomia mediana, que acomete os tecidos adjacentes profundos, com evidência clínica e/ou microbiológica do comprometimento do espaço retroesternal, e que pode estar associada à osteomielite do esterno, com ou sem instabilidade. 1,2 Apresenta incidência de 0,4 a 5%e elevada mortalidade (14 a 47%). 3 Mesmo com o diagnóstico e o tratamento precoces, não tembomprognóstico, sobretudo se houver sepse e outros agravos à saúde. 4 Os fatores de risco associados à mediastinite são pré‑cirúrgicos, cirúrgicos epós-cirúrgicos. 5 Sãoconsiderados fatores pré-cirúrgicos idade avançada, sexo masculino, desnutrição, obesidade, tabagismo, Diabetes Melito (DM) e outras doenças; 5,6 também o são a Insuficiência Renal Crônica (IRC) e/ou creatinina sérica>1,5mg/dL e a Fração de Ejeção do Ventrículo Esquerdo (FEVE) < 40%. 7,8 Os fatores de risco cirúrgicos incluemo tipo de cirurgia (eletiva ou urgência), o tempo cirúrgico prolongado, a Cirurgia de Revascularização do Miocárdio (CRM) utilizando artérias mamárias bilaterais e a inserção de balão intraórtico. 9,10 São citadas ainda rotinas como a raspagemdos pelos, e o tempo decorrido entre a tonsura dos pelos e a incisão cirúrgica, além da esterilização dos materiais cirúrgicos e do número de pessoas nas salas de cirurgia. 10,11 Outras condições apontadas são a profilaxia com antibióticos, complicações intraoperatórias, 5 uso abusivo de eletrocautério e corticoterapia prévia. 12,13 Como fatores de risco pós-cirúrgicos, destacam-se os tempos prolongados de internação hospitalar e de permanência nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI), sangramento, complicações respiratórias, nefrológicas e gastrintestinais e necessidade de reintervenção cirúrgica, além de traqueostomia e da instabilidade esternal. 5,9,12,13 Muitos fatores de risco têm sido associados ao desenvolvimento da mediastinite, mas variam entre instituições, revelando a necessidade de estudos em diferentes centros hospitalares. Faz-se necessária ainda a verificação do diagnóstico bacteriológico, em geral, com presença de Staphylococcus aureus ou Staphylococcus epidermidis , responsáveis por 70 a 80% dos casos. 14 O objetivo deste estudo foi avaliar o perfil dos pacientes submetidos à esternotomia para tratamento de doenças cardíacas e identificar os fatores de risco para o desenvolvimento de mediastinite, além de avaliar o diagnóstico bacteriológico destes casos. Métodos Trata-se de um estudo caso-controle, realizado emum hospital de grande porte em Belo Horizonte (MG), com dados de prontuários em papel, de pacientes maiores de 18 anos submetidos à cirurgia cardíaca no período de janeiro de 2015 a janeiro de 2016. A amostra foi composta por 65 pacientes, sendo 52 controles, pareados por sexo e idade em uma razão 1:4. O grupo caso foi composto por pacientes com diagnóstico demediastinite pós-esternotomia confirmado pelo Serviço de Controle e Infecção Hospitalar e pelo cirurgião responsável. No grupo controle, foram incluídos pacientes submetidos à esternotomia nomesmo período, que não desenvolveram mediastinite. Foi elaborado um formulário de coleta de dados contendo informações sobre as características do paciente (sexo e idade), condições pré-cirúrgicas (data de internação hospitalar e realização da cirurgia) e fatores de risco pré‑cirúrgicos (consumo de álcool, tabagismo, sedentarismo, obesidade, DM, dislipidemia, hipertensão arterial,DoençaPulmonarObstrutivaCrônica -DPOC, IRC, insuficiênciacardíacacongestivaclasse III, acidentevascular encefálico, doença arterial coronariana e cirurgia cardíaca prévia), alémdo valor da FEVE. A condição transcirúrgica avaliada foi o tempo de Circulação Extracorpórea (CEC). Em relação ao período pós-cirúrgico, foram avaliados: data de admissão e das altas hospitalar e da UTI; febre (> 38,3°C); creatinina pós‑cirúrgica e óbito. Nos casos, foram avaliados também os medicamentos utilizados em caráter profilático e o diagnóstico bacteriológico. Análise estatística As variáveis qualitativas foram descritas como contagens e porcentuais, e as quantitativas foram descritas por meio de média ± desvio padrão oumediana ± distância interquartílica, conforme normalidade dos dados, testada pelo teste de Shapiro-Wilk. Para comparação de médias, foram adotados os testes  t de Student e Wilcoxon Mann-Whitney para amostras independentes, quando adequados. A associação entre variáveis categóricas foi avaliada via teste exato de Fisher. Foi adotado nível de significância de 5%. O efeito conjunto das variáveis sobre os grupos foi avaliado pelomodelo de regressão logística. As variáveis com p < 0,20 na análise bivariada foram incluídas no modelo múltiplo e, para seleção de variáveis, foi adotada Pinto et al. Fatores Associados à Mediastinite Pós-Esternotomia Int J Cardiovasc Sci. 2018;31(2)163-172 Artigo Original

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