IJCS | Volume 31, Nº2, Março / Abril 2018

144 Introdução A insuficiência cardíaca (IC) evoca a imagem de um coração dilatado, com função sistólica e fração de ejeção reduzidas (IC com fração de ejeção reduzida, ICFER). Porém, o estudo de Burkhoff et al., 1 mostrou que uma grande proporção de pacientes com sintomas de IC tem fração de ejeção dentro da faixa normal, sendo então classificados como portadores de IC com fração de ejeção normal (ICFEN). 2,3 A limitada tolerância aos esforços na IC é frequentemente a primeira e principal característica clínica da doença. 4 Na identificação dessa intolerância ao esforço, o teste de caminhada de seis minutos (T6m) tem sido utilizado como instrumento para avaliar a evolução após diferentes intervenções. 5 Há poucos estudos realizados com utilização de analisadores de gases portáteis para descrever e analisar o comportamento de variáveis no T6m e possíveis características ou marcadores que auxiliem na orientação terapêutica e na melhora prognóstica na IC, 6-10 especialmente em portadores de ICFEN. O objetivo deste estudo foi descrever e analisar o comportamento cinético a cada minuto de variáveis hemodinâmicas, ventilatórias emetabólicas emportadores de ICFENduranteoT6mcomautilizaçãodeumanalisador de gases portátil e comparar os resultados com os obtidos durante o teste de esforço cardiopulmonar (TECP). Métodos Estudo prospectivo, analítico, com amostra não probabilística, intencional e por conveniência, conforme critérios adotados, realizado no Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP) da Universidade Federal Fluminense (UFF) no período de março de 2010 a julho de 2013. O projeto deste estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do HUAP sob o nº 152A/2010, e todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Todos os procedimentos envolvidos nesse estudo estão de acordo comaDeclaração deHelsinki de 1975, atualizada em2013. Os critérios de inclusão adotados para caracterizar a ICFEN foram os descritos por Paulus et al., 11 além dos seguintes fatores: (A) queixas sugestivas de IC (dispneia e/ou fadiga e/ou edema); (B) relato de hospitalização prévia por doença cardíaca descompensada, porém no momento do teste em classe funcional II a III pela New York Heart Association (NYHA); (C) idade > 18 anos; (D) duração da doença maior que 6 meses; (E) uso de medicação e (F) doença estável. Os critérios de exclusão adotados foram: (A) doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) por critérios clínicos, (B) classe funcional IV ou outros critérios de contraindicação para a realização do TECP 12 e (C) participação em programas de reabilitação cardíaca supervisionada. Os pacientes foram orientados a manter os medicamentos em uso. Os testes compreenderam três momentos: T6m convencional (T6m1), T6m acoplado a um analisador de gases portátil (T6m2) e TECP em esteira. Por questão de fluxo do hospital, alguns pacientes realizaram de forma aleatória primeiro o T6m e outros o TECP. O T6m foi realizado em um corredor com 30 metros de extensão. O primeiro T6m (T6m1) tinha por objetivo um efeito de aprendizagem, conforme recomendado pela literatura. 6 O segundo T6m (T6m2) foi realizado no mínimo 3 dias e no máximo 3 semanas após o primeiro, quando o paciente repetia o T6m, agora acoplado ao analisador de gases portátil. O intervalo máximo entre o T6m e o TECP foi tambémde 3 semanas. O T6m e o TECP foramcoordenados pelomesmo avaliador e aplicados pela mesma equipe para evitar variabilidade na sua aplicação . Utilizou-se para as avaliações o analisador metabólico MedGraphics (MGC) VO2000 (Imbrasport, Porto Alegre, RS, Brasil), sistema Ergo PC Elite 13 e esteira Centurion 300 (MicroMed , Brasília, DF, Brasil). O analisador de gases foi calibrado antes de cada teste pelo sistema de autocalibração em ambiente ventilado. O controle biológico da calibração ocorreu a cada mês e o controle pelo representante do equipamento (CAEL, Rio de Janeiro, RJ, Brasil) foi realizado a cada 3 meses. No TECP, cada paciente passava por 2 minutos de coleta basal e realizava 1 minuto de aquecimento a 1 km/h e 0º de inclinação, para então iniciar o protocolo de rampa. Para a análise e obtenção das variáveis do TECP, utilizou-se o programa ErgoPCElite paraWindows 13W (MicroMed, Brasília, DF, Brasil). A percepção de esforço (PE), avaliada pela escala de Borg (variação de 0-10), e as variáveis hemodinâmicas e eletrocardiográficas eram registradas a cada minuto. Durante a fase de recuperação o paciente permanecia sentado. Dois árbitros analisaram o laudo do teste para obtenção das seguintes informações: valor da inclinação VE/VCO 2 , presença de ventilação periódica (VP) e estabelecimento do limiar ventilatório I, a partir desse momento denominado Teixeira et al. Análise de Gases noTeste da Caminhada na ICFEN Int J Cardiovasc Sci. 2018;31(2)143-151 Artigo Original

RkJQdWJsaXNoZXIy MjM4Mjg=