IJCS | Volume 31, Nº2, Março / Abril 2018

130 Soares et al. Mortalidade Cardiovascular X Produto Interno Bruto Int J Cardiovasc Sci. 2018;31(2)123-132 Artigo Original No período em que o PIBpc foi analisado, de 1950 a 2010, houve sua elevação em todos os municípios, porém de forma heterogênea. Os maiores valores de PIBpc foram encontrados nos municípios do Rio de Janeiro e de Niterói, o primeiro, atual capital do estado, capital do Brasil de 1763 a 1960 25 e do extinto Estado da Guanabara até 1975, e o segundo foi a capital do Estado do Rio de Janeiro até 1975. 26 Outros municípios apresentaramPIBpc elevados, municípios que estão diretamente relacionados a determinadas atividades industriais, como BarraMansa ligada à indústria siderúrgica (Volta Redonda, sede da Companhia Siderúrgica Nacional, está agregado a Barra Mansa por só ter se emancipado em 1955 27 ), Angra dos Reis ligada à indústria naval, Resende ligada à indústria automobilística, além dos municípios relacionados com a indústria petrolífera como Duque de Caxias, Macaé, Campos dos Goytacazes, Casimiro de Abreu, Cabo Frio e São João da Barra. 28 Porém, a grande elevação do PIBpc desses municípios ocorreu apenas nos últimos anos do estudo, provavelmente ainda não se correlacionando com a redução dos óbitos por DAC, essa influência possivelmente ocorrerá em anos futuros. Demonstramos que o coeficiente de correlação médio da elevação do PIBpc a partir de 1950 com a mortalidade por DAC, em adultos, a partir de 1979, com defasagem de pouco mais de 20 anos, de todos os municípios do Estado do Rio de Janeiro foi negativo e elevado (-0,84). Por ser negativo revela que a relação foi inversa, isso é, quanto maior o PIBpc menor a mortalidade por DAC. Isso é uma evidência de que a melhoria nos indicadores socioeconômicos precedeu a redução dos óbitos cardiovasculares. O comportamento da DCBV é semelhante ao da DAC, tanto em relação ao índice de correlação com o PIBpc como com a defasagem temporal. Nas correlações com DIC, os índices de correlação não foram tão próximos ao valor máximo negativo, apesar de também terem sido expressivos, assim como a defasagem temporal ótima também foi pouco menor, na ordem de 18 anos. Esses achados diferenciais da DIC em relação à DAC e DCBV podem se dever ao fato de que as taxas de mortalidade por DIC foram as menores em quase todos os municípios ao longo de todo o período de estudo. 21 Isto deve ter ocasionado maiores flutuações nas taxas de DIC do que nas demais, o que se percebe ainda melhor quando se observa que é justamente nos municípios de menor tamanho de população que ocorreram os menores índices de correlação e maiores variações da defasagem temporal ótima. O aumento do PIBpc provavelmente influenciou na redução das mortes por DAC. Esse impacto foi bastante variado nos diversos municípios do Estado do Rio de Janeiro, nas regiões e mesmo nos municípios da mesma região. Há municípios como Carmo e Cordeiro na região Serrana, e Nilópolis no Cinturão Metropolitano, onde o incremento de 100 dólares no PIBpc esteve relacionado à redução de mais de 50 mortes anuais por DAC. Já em outros, como Angra dos Reis na Baia da Ilha Grande, Macaé na região Norte e Cantagalo na região Serrana, o mesmo incremento do PIBpc relacionou-se com a redução de menos de 10 óbitos anuais por DAC. O fenômeno, em dois desses municípios, pode ser explicado pelo fato de Macaé e Angra dos Reis terem apresentado grande elevação do PIBpc no período analisado, pois mesmo apresentando redução dos óbitos por DAC semelhante aos outros municípios, a grande elevação do PIBpc nesses municípios fez com que a variação dos óbitos em relação ao crescimento do PIBpc fosse menor. As DCBV comparadas às DIC destacam-se como grupo de causa onde houve maior redução do número de óbitos anuais, ainda que deva ser considerado o fato de que as DCBV apresentavam maiores taxas de mortalidade nos anos iniciais do estudo. O que também se pode inferir é que os custos para prevenção e redução da mortalidade por DCBV são menores do que aqueles estimados para as DIC, já que a redução da incidência do acidente vascular cerebral, a principal causa de morte por DCBV, está intimamente relacionada à melhora na atenção básica de saúde e ao controle da hipertensão arterial, condições que são abrangidas com a melhora econômica global refletida no aumento do PIB. 29-31 Este estudo corrobora com maiores e importantes detalhes a clara relação inversa entre as taxas de mortalidade cardiovascular e o PIBpc, descendo a análise ao nível dos municípios do Estado do Rio de Janeiro. Essa relação inversa dessas variáveis foi aventada em estudo 32 anterior que relacionou o PIBpc do Brasil entre 1947 e 2004 com a mortalidade por DIC no Estado do Rio de Janeiro entre 1980 e 2002, mostrando também a defasagem temporal entre essas variáveis. A utilização do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) também demonstrou no município do Rio de Janeiro relação inversa com as taxas de mortalidade por DCBV nas regiões administrativas do município, sendo que a cada redução de 0,05 no IDH ocorreu um aumento de 65% no número de óbitos por DCBV. 33 Uma das possíveis limitações do presente estudo são as variações de qualidade no preenchimento das

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