IJCS | Volume 31, Nº2, Março / Abril 2018

124 Soares et al. Mortalidade Cardiovascular X Produto Interno Bruto Int J Cardiovasc Sci. 2018;31(2)123-132 Artigo Original Introdução As condições de saúdedas populações são influenciadas de forma complexa por determinantes sociais, como distribuição de renda, riqueza e educação, como se esses indicadores fossem fatores de risco interdependentes para a ocorrência de doenças. 1 Durante o século XX, observou-se em quase todo o mundo uma melhora nos indicadores socioeconômicos, assimcomo uma queda nas taxas de mortalidade geral, com consequente aumento da expectativa de vida das populações. Também ocorreu uma mudança no perfil epidemiológico, onde as doenças transmissíveis deixaram de ser as principais causas de óbito, e esse lugar foi ocupado pelas doenças não transmissíveis, comdestaque para as doenças do aparelho circulatório (DAC) que são as principais causas mundiais de mortalidade, correspondendo a aproximadamente um terço de todos os óbitos. Mesmo sendo o grupo de maior número de óbitos, as mortes por DAC apresentam progressiva redução a partir de meados do século XX nos países desenvolvidos, e no Brasil essa queda é observada a partir da década de 1970. 2-5 No ano de 2010, o Estado do Rio de Janeiro possuía 15.989.929 habitantes segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nessa época dividido em 92 municípios, com uma densidade populacional de 365,23 habitantes/km 2 . O Produto Interno Bruto (PIB) do estado corresponde a 11,3%doPIBnacional. 6 Osmunicípios do estado apresentam estrutura socioeconômica bastante heterogênea. Há municípios como Porto Real, onde o PIB per capita (PIBpc) ultrapassa 200 mil reais e outros como Japeri onde é próximo a 5 mil reais, semelhante àquele de países comoCongo, Samoa e Suazilândia, emuito inferior à médiadoBrasil, de 19mil reais. 6 Oestadopossuimunicípios com índice de pobreza superior a 36%, como São Francisco de Itabapoana e outros com índice inferior a 10%, como Niterói e Volta Redonda. O índice de pobreza pondera três variáveis: a curta duração da vida (o percentual da população que não atinge os 40 anos), falta de educação elementar (o percentual da população analfabeta), a falta de acesso aos recursos públicos e privados (porcentagem composta das pessoas com falta de acesso ao serviço de saúde, água potável e de crianças subnutridas). 7 Existem estudos de avaliação da evolução da mortalidade por DAC e seus dois principais grupos, doenças isquêmicas do coração (DIC) e doenças cerebrovasculares (DCBV) no Brasil, 5,8-11 porém são escassos aqueles sobre suas correlações com indicadores socioeconômicos por unidades municipais. Portanto, ao realizarmos umestudo comosmunicípios do Estado do Rio de Janeiro, que apresentam variada e heterogênea estrutura socioeconômica, seremos capazes de construir modelos de evolução das taxas de mortalidade por DAC e do PIBpc, estimando correlações entre essas variáveis com o objetivo de sugerir fatores envolvidos na redução nas taxas de mortalidade por DAC, DIC e DCBV. Métodos Foram coletados dados de PIBpc e de mortalidade nos municípios do Estado do Rio de Janeiro, que foram analisados de acordo com a estrutura geopolítica do ano de 1950, agrupando os municípios emancipados a partir dessa data com sua sede original. Essas agregações municipais implicaram na redução do número total de municípios existentes em 2010 no Estado do Rio de Janeiro, que era de 92, para 56 agregados para fins de análise neste estudo. Os agregados municipais também foram analisados por regiões. Neste estudo, foi utilizada a divisão regional proposta pela Secretaria Estadual de Saúde do Estado do Rio de Janeiro com uma modificação pelo desmembramento da região metropolitana, em Cinturão Metropolitano, que compreende todos os municípios da região, excetuados os municípios do Rio de Janeiro e de Niterói que, por sua vez, passarama se constituir emduas regiões autônomas. As demais regiões, Médio-Paraíba, Serrana, Norte, Baixada Litorânea, Noroeste, Centro-Sul, e Baía da Ilha Grande, são as mesmas definidas pela Secretaria Estadual de Saúde 12 do Estado doRio de Janeiro. Os dados de PIB foram obtidos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada 13 para os anos 1949, 1959, 1970, 1975, 1980 e 1985 a 2010. Os dados populacionais são provenientes do IBGE 6 para os anos de recenseamento geral (1950, 1960, 1970, 1980, 1991, 2000 e 2010) e de contagem (1996). Estimativas das populações para os anos intercensitários foram realizadas pelo método aritmético com os anos de censo ou contagem imediatamente anterior ou posterior. Essas estimativas foram feitas para as frações correspondentes às faixas etárias, com intervalos de dez anos, em cada um dos sexos. O PIBpc foi calculado pela divisão do PIB absoluto, em reais, e do município pela população no ano correspondente. O PIBpc foi, posteriormente, convertido em dólares (1 Dólar = 3,2 reais, câmbio de abril de 2015). Para construção das taxas de mortalidade foram analisados os dados dos óbitos restritos aos adultos

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