IJCS | Volume 31, Nº2, Março / Abril 2018

91 Barbosa et al. Impacto dos fatores de risco sobre o custo da CRM Int J Cardiovasc Sci. 2018;31(2)90-96 Artigo Original Introdução As doenças cardiovasculares representam uma importante causa de mortalidade e morbidade. 1 No cenário nacional, a prevalência da doença isquêmica do coração está aumentando ao longo dos últimos anos, levando a um aumento no número de internações hospitalares e dos gastos com a saúde. 2 A cirurgia de revascularização do miocárdio (CRM) é um tratamento indicado para pacientes selecionados e tem um elevado custo. As condições de saúde do paciente no pré-operatório podem ter um importante papel nos gastos com este procedimento. Entretanto, são escassas as informações sobre o impacto dos fatores de risco cardiovasculares relacionados ao desenvolvimento da doença arterial coronariana (DAC) nos custos com a CRM no cenário nacional. O objetivo deste estudo é o de pesquisar o impacto dos fatores de risco nos custos da CRVM no Sistema Único de Saúde (SUS). Métodos Este é umestudo observacional, prospectivo, realizado em um único centro. Foram selecionados 239 pacientes consecutivos submetidos à CRM no Instituto Nacional de Cardiologia (INC), que é umhospital público terciário do SUS de referência para procedimentos de alta complexidade em Cardiologia, no período entre 01 de Janeiro de 2013 e 31 de Dezembro de 2013. Foram incluídos pacientes com idade superior a 30 anos, de ambos os sexos, com DAC comprovada por coronariografia e com indicação para a realização de CRM. Foram excluídos os pacientes que realizaram a CRM associada a outros procedimentos cirúrgicos tais como cirurgias valvares associadas, endarterectomia de carótidas, cirurgias vasculares, dentre outras. Foram considerados como fatores de risco para a DAC a hipertensão arterial sistêmica, o diabetes mellitus, a dislipidemia, o tabagismo atual ou prévio, o sedentarismo, a história familiar de DAC, a insuficiência renal crônica e a obesidade. Foram contabilizados a partir de dados no prontuário os gastos da internação hospitalar relacionados aos medicamentos, exames laboratoriais, exames complementares de imagem, materiais, profissionais e outrosgastoscomunsrateadosconformeosdadosfornecidos pelos centros de custo. Utilizou-se a metodologia do microcusteio, pelaqual as intervenções às quais os pacientes foram submetidos são contabilizadas individualmente, levando finalmente à consolidação do custo total da internação hospitalar. Os valores utilizados como base de cálculo dos gastos foram obtidos por meio de consulta ao Sistema de Gerenciamento da Tabela de Procedimentos e Medicamentos do SUS (SIGTAP). Análise exploratória dos dados foi obtida com as medidas de frequência para as variáveis categóricas. As variáveis contínuas forneceram informações sobre a média, mediana e outras medidas de tendência central, de dispersão e ordenamento, quando pertinentes. Os dados foram submetidos ao teste de normalidade de Shapiro-Wilk. A análise estatística das variáveis contínuas foi conduzida com a análise de variância (ANOVA) ou com o teste de Kruskal-Wallis, quando indicado. As variáveis categóricas foram analisadas com o teste do qui-quadrado. Foram considerados como significativos os valores de p < 0,05 para os testes estatísticos. Foi utilizado o programa SPSS 20.0 (IBM). O presente estudo foi aprovado na Comissão de Ética em Pesquisa sob o número 648089 e está de acordo com a Declaração de Helsinki. Resultados Foram observados 239 pacientes, que apresentaram entre 1 e 6 fatores de risco cardiovasculares. Sete pacientes apresentaram apenas um fator de risco, 32 pacientes apresentaram dois fatores de risco, 75 pacientes apresentaram três fatores de risco, 78 pacientes apresentaram quatro fatores de risco, 36 pacientes apresentaram cinco fatores de risco e 11 pacientes apresentaram seis fatores de risco. As características dos pacientes estão expostas na Tabela 1 e as definições dos fatores de risco cardiovascular estão descritos na Tabela 2. Os pacientes com maior número de comorbidades apresentaramum IMCmais elevado quando comparados com os pacientes commenos fatores de risco (p < 0,001). Não foramobservadas diferenças significativas na média de idade entre os grupos. Os pacientes apresentaram uma prevalência variável dos fatores de risco cardiovascular, sendo mais frequentes a hipertensão arterial sistêmica e a dislipidemia, presentes em 95,8% e 76,6% dos casos, respectivamente. A prevalência dos fatores de risco analisados está ilustrada na Figura 1. ATabela 3 exibe os custos da hospitalização observados na formademicrocusto, estratificados comomedicamentos, exames laboratoriais, exames complementares de imagem, materiais, profissionais e custos comuns rateados.

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