IJCS | Volume 31, Nº2, Março / Abril 2018

190 DOI: 10.5935/2359-4802.20170089 International Journal of Cardiovascular Sciences. 2018;31(2)190-192 RELATO DE CASO Correspondência: Antonio José Lagoeiro Jorge Avenida Marques de Paraná, 303. CEP: 24033-900, Centro, Niterói, Rio de Janeiro, RJ – Brasil. E-mail: lagoeiro@cardiol.br; lagoeiro@globo.com InsuficiênciaMitral GraveporHipertireoidismonaAusênciadeDilataçãoVentricular Esquerda Severe Mitral Regurgitation by Hyperthyroidism in the Absence of Left Ventricular Dilatation Antonio José Lagoeiro Jorge, Wolney de Andrade Martins, Eliza de Almeida Gripp, Breno Macêdo de Almeida, Camila Cezário Rocha Paz Figueroa, Cíntia Lobo Sabino Hospital Universitário Antônio Pedro, Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói, RJ – Brasil Artigo recebido em 17/12/2016; revisado em 31/05/2017; aceito em 17/07/2017. Insuficiência da Valva Mitral, Hipertireoidismo, Doença de Graves, Gestantes. Palavras-chave Introdução A doença de Graves (DG) é uma doença autoimune, causamais comumde tireotoxicose, 1,2 comenvolvimento multissistêmico, que acomete principalmente mulheres entre os 40 e 60 anos de idade. É a causa mais prevalente de hipertireoidismo autoimune na gravidez 1,2 e pode ser distinguida da tireotoxicose gestacional pela presença de bócio difuso e história de hipertireoidismo prévio. 3 O hipertireoidismo clínico ocorre em 0,2 % das mulheres grávidas. 4 A insuficiência cardíaca (IC) é uma raramanifestação da DG descompensada e representa um desafio diagnóstico devido à baixa suspeição clínica desta etiologia. 1 Relata-se caso de uma mulher grávida com DG que apresentou tireotoxicose e IC comgrave disfunçãomitral no final da gestação, porém sem dilatação ventricular. Relato do caso Paciente feminina, 23 anos, gestante de 37 semanas, com história prévia de DG, em tratamento irregular com Propiltiouracil há quatro anos, deu entrada no serviço de emergência devido à tosse seca e febre alta. Foi internada no setor de obstetrícia do hospital para investigação onde se constatou T4 livre de 6,0 ng/dL e TSH 0,011 ng/dL. Negou cirurgias prévias, hipertensão arterial, diabetes mellitus, febre reumática, tuberculose, uso de drogas ilícitas, etilismo ou tabagismo. Evoluiu com trabalho de parto e após quatro dias foi indicada a realização de cesariana por sofrimento fetal agudo. Recebeu alta hospitalar cinco dias após o parto em uso de Tapazol 20mg/dia e propranolol 80mg/dia. Retornou ao hospital dois dias após a alta, queixando-se de cansaço, prostração, ortopneia e dispneia paroxística noturna. Apresentava-se lúcida, orientada, emagrecida, taquidispneica comuso de musculatura acessória, hipocorada (2+/4+), febril e tremor leve de extremidades. Pressão arterial de 150x80 mmHg; FC: 110 bpm; FR: 32 irpm; TAX: 38,4°C; exoftalmia e bócio de consistência fibroelástica e sem nodulações; ritmo cardíaco regular, bulhas hiperfonéticas, sopro sistólico de +++/6 em foco mitral; ausculta pulmonar com estertores finos em ambas as bases, sem edemas. Hemoglobina de 7,4 g/dL; 18800 leucócitos; TSH: 0,034 ng/dL e T4 Livre: 1,92 ng/dL. Radiografia torácica com consolidação em hemitórax direito e congestão pulmonar. Realizado ecocardiograma transtorácico, que mostrou função e dimensões das cavidades ventriculares preservadas, com leve aumento biatrial e grave refluxo valvar mitral, sem lesão estrutural, com jato excêntrico. Insuficiência mitral (IM) grave foi caracterizada pelo jato excêntrico, que ocupava área maior que 40% do átrio esquerdo, e com fluxo holossistólico denso ao color Doppler. (Figura 1). Foi iniciado antibiótico, furosemida 80 mg/dia, metildopa 750 mg/dia, propranolol 120 mg/dia e aumentada a dose do tapazol para 30 mg/dia. No oitavo dia de internação, a paciente encontrava-se assintomática e novo ecocardiograma mostrou regressão expressiva da regurgitaçãomitral (Figura 2). Recebeu alta assintomática, em classe funcional I da NYHA, e estável clinicamente. Discussão Apresenta-se o caso de uma gestante com hipertireoidismo prévio, sem tratamento adequado, que apresentou quadro de infecção pulmonar e IC associado à regurgitação mitral grave, confirmada pelo ecocardiograma e que, após otimização do tratamento,

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