IJCS | Volume 31, Nº2, Março / Abril 2018

184 Tabela 1 – Escore de Rassi para estratificação de risco de pacientes com cardiopatia chagásica Característica clínica Pontuação Gênero masculino 2 ECG com QRS de baixa voltagem 2 Taquicardia ventricular não sustentada 3 Alteração global ou de mobilidade segmentar de VE 3 Cardiomegalia ao raio X de tórax 5 Insuficiência cardíaca CF III/IV NYHA 5 Em recente estudo observacional prospectivo, incluindo 456 pacientes com insuficiência cardíaca, os 68 pacientes com CCDC apresentaram menor sobrevida quando comparados aos de outras etiologias. 71 Vários fatores fisiopatológicos podem explicar esta diferença, mas alguns marcadores prognósticos já foram definidos como preditores independentes, dentre eles a disfunção contrátil VE, tanto avaliada pela ecocardiografia como apenas sugerida pela cardiomegalia ao RX de tórax. 4,72 O escore de Rassi é ferramenta útil na estratificação do risco de morte para pacientes com cardiopatia chagásica crônica, 9,73-75 tendo em sua construção pontos atribuídos a características simples e obtidas com métodos básicos de avaliação (Tabela 1). Este escore permite detectar significativos estratos no risco de mortalidade de pacientes com CCDC. Ao longo de cerca de 10 anos de seguimento, os pacientes classificados como baixo risco (escore de 0 a 6) apresentaram mortalidade de 9 a 10%; aqueles com risco intermediário (escore entre 7 e 11) apresentaram mortalidade de 37 a 44% e os de alto risco (escore entre 12 e 20) apresentaram mortalidade de 84 a 85%. A combinação de disfunção sistólica ventricular esquerda, mesmo que apenas regional, e TVNS associou-se a risco de morte particularmente elevado, da ordem de 15,1 vezes. Adetecçãode TVNS isoladamente foi associada a aumento da mortalidade de 2,15 vezes. Na figura 6, reproduz-se algoritmo para estratificação de risco nos pacientes com CCDC, derivado de revisão sistemática de estudos observacionais. 73 Tratamento Tratamento etiológico O papel dos agentes antiparasitários para tratamento da infecção pelo T.cruzi é consideravelmente limitado na fase crônica da cardiopatia da doença de Chagas, uma vez que não se deve esperar muita reversão do dano tissular já estabelecido nestas fases avançadas da cardiomiopatia. 76 O estudo BENEFIT, 77 publicado em 2015, foi o único ensaio clínico de grande escala realizado sobre a Doença de Chagas. O estudo randomizou 2854 pacientes para o uso de benznidazol ou placebo, tendo como objetivo essencial a avaliação da eficácica deste tratamento. A terapia tripanossomicida foi eficaz apenas na negativação da detecção do parasita avaliada pela técnica da polymerase chain reaction (PCR) (66% no grupo tratamento x 34% no grupo controle), todavia a negativação não se correlacionou com benefício clínico ao longo do seguimento de 5 anos. 76 Após a publicação inicial dos resultados, análise suplementar cotejando os desfechos verificados no Brasil com os obtidos nos quatro demais países, permite a geração da hipótese de que, provavelmente pelo predomínio da linhagem Tc-II do T. cruzi mais encontradiço em nosso país, e que é mais sensível à ação tripanossomicida do banznidazol, o efeito do tratamento etiológico possa vir a ter benefício clínico para os pacientes brasileiros cronicamente infectados, mas ainda sem cardiopatia muito avançada. 77 Assim, o tratamento poderia ser oferecido, em base individual, para pacientes com esse perfil, visando a eventual decisão, seguindo o modelo de compartilhamento com o médico responsável. Tratamento da Insuficiência cardíaca Terapia medicamentosa Há nítida carência de evidências comprovando o benefício clínico da clássica terapia medicamentosa da IC sistólica, baseada precipuamente no bloqueio neuro-hormonal, nos pacientes com CCDC. Contudo, considerando-se que o fenótipo geral da IC causada Simões et al. Cardiomiopatia da doença de chagas Int J Cardiovasc Sci. 2018;31(2)173-189 Artigo de Revisão

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