IJCS | Volume 31, Nº2, Março / Abril 2018

182 Medicina Nuclear: a ventriculografia radioisotópica (VRI), também conhecida como angiocardiografia radionuclear, é método alternativo à ecocardiografia, na quantificação da fração de ejeção (FE) do VE, tendo como vantagem a de ser ummétodo quantitativo e livre de inferências geométricas, conferindo-lhe o papel de verdadeirométodo padrão-ouro no contexto. Quando há necessidade de quantificação simultânea da FEVD e da FEVE, a VRI tem sido empregada com sucesso e pode revelar disfunçãomais precoce e intensa do VD, inclusive em portadores da forma digestiva isolada da doença de Chagas. 57 O estudo cintilográfico de perfusão miocárdica pode ser necessário para investigação não invasiva de pacientes com CCDC exibindo precordialgia. O estudo negativo para isquemia miocárdica praticamente afasta a possibilidade de presença de doença arterial coronária significativa, retratando umalto valor preditivo negativo. Contudo, defeitos perfusionais reversíveis têm sido registrados em 30 a 50% dos pacientes, na ausência de doença obstrutiva aterosclerótica da árvore arterial coronária epicárdica. 58-60 Estas alterações perfusionais têm sido atribuídas à doença de microcirculação coronária da CCDC e tem-se postulado que tais alterações isquêmicas possam contribuir para o dano miocárdico regional na fase crônica da cardiomiopatia. 37,60 Defeitos perfusionais fixos, por outro lado, são tambémcomumente observados em pacientes portadores de CCDC e, de forma geral, devem significar áreas de fibrose consequentes à fisiopatologia típica da doença de Chagas. 42 A c i n t i l o g r a f i a m i o c á r d i c a c o m metaiodobenzilguanidina marcada com Iodo-123 ( 123 I-MIBG)permiteaavaliaçãonão invasivada integridade neuronal do sistema nervoso simpático cardíaco em nível miocárdico. O emprego desta técnica de imagem permitiu identificar denervação regional miocárdica em fases precoces de evolução da CCDC, em pacientes ainda sem acometimento aparente da função ventricular esquerda, envolvendo principalmente as porções basais da parede póstero-lateral e inferior e da região apical. 61 Os resultados desses estudos sugerem que a extensão/ gravidade da desnervação regional miocárdica e a intensidade do desarranjo global da inervação simpática (obtido nas imagens planares) correlacionam-se com a gravidade da disfunção sistólica ventricular esquerda . 61 Estudo mais recente mostrou que cardiopatas com função sistólica VE preservada ou levemente reduzida e exibindo taquicardia ventricular sustentada (TVS) apresentam maior extensão da denervação simpática avaliada pela cintilografia miocárdica com 123 I-MIBG quando comparados aos indivíduos semTVS, reforçando a noção de que a desnervação autonômica cardíaca possa desempenhar relevante papel na arritmogênese desta doença miocárdica - Figura 4. 39 Figura 4 – Exemplo ilustrativo de imagens de paciente com CCDC, apresentando Taquicardia Ventricular Sustentada (TVS, documentada no ECG da imagem B) e exibindo defeito de captação nas paredes inferior e póstero lateral nas imagens de SPECT-123I-MIBG (imagem C). As imagens de perfusão miocárdica com Sestamibi (MIBI) mostram-se normais com viabilidade miocárdica nos segmentos miocárdicos desnervados que se correlacionam topograficamente com o sítio onde se origina a TVS. Reproduzido a partir de Gadioli, LP et alii. Journal of Nuclear Cardiology March 23, 2016 (doi:10.1007/s12350-016-0556-6). Simões et al. Cardiomiopatia da doença de chagas Int J Cardiovasc Sci. 2018;31(2)173-189 Artigo de Revisão

RkJQdWJsaXNoZXIy MjM4Mjg=