ABC | Volume 115, Nº2, Agosto 2020

Minieditorial Controle da Pressão Arterial: O Segredo é... Trabalho em Equipe! Blood Pressure Control: The secret is…Team Work! Andrea Pio-Abreu 1 e Luciano F. Drager 1, 2 Unidade de Hipertensão, Divisão de Nefrologia, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, 1 São Paulo, SP - Brasil Unidade de Hipertensão, Instituto do Coração (InCor), Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, 2 São Paulo, SP – Brasil Minieditorial referente ao artigo: Controle da Pressão Arterial e Fatores Associados em um Serviço Multidisciplinar de Tratamento da Hipertensão Correspondência: Luciano F. Drager • Unidade de Hipertensão, Instituto do Coração (InCor), Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – Av. Dr. Eneas de Carvalho Aguiar, 44. CEP 05403-900, São Paulo, SP - Brasil. E-mail: luciano.drager@incor.usp.br Palavras-chave Hipertensão; Pressão Arterial; Prevenção e Controle; Fatores de Risco; Equipe de Assistência ao Paciente/ tendências; Anti-Hipertensivos; Adesão à Medicação. A hipertensão é uma das principais causas de morte cardiovascular. 1 De fato, dados do Heart and Stroke Statistics mostraram que 45% da mortalidade cardiovascular é potencialmente atribuída à hipertensão. 1 Esse cenário preocupante não mudou nas últimas décadas, apesar da disponibilidade das intervenções não-farmacológicas e o desenvolvimento de várias classes de remédios anti- hipertensivos que efetivamente contribuíram para o controle da pressão arterial (PA). 2-5 As razões de nossa baixa efetividade no controle da PA no nível populacional são múltiplas, incluindo a falta de políticas públicas organizadas que regulem o consumo de sal e aumentem a conscientização, a detecção precoce e o tratamento efetivo. Desafios adicionais incluem a característica assintomática da hipertensão, inércia terapêutica, entre outros. 1 Nesta edição dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia, Jardim et al., 6 relataram dados de um estudo retrospectivo explorando uma estratégia de equipe multidisciplinar na taxa de controle da pressão arterial (estabelecida no tradicional <140/90 mmHg). Os autores avaliaram dados demográficos e clínicos de 1.548 pacientes hipertensos de um centro especializado em hipertensão, acompanhados regularmente por 7,6 ± 7,1 anos (média de idade de 62 anos, 73,6% de mulheres). A abordagem multidisciplinar descrita pelos autores consistiu na disponibilidade de enfermeiros, nutricionistas, terapeutas ocupacionais, educadores físicos, psicólogos e musicoterapeutas trabalhando em conjunto com os médicos da equipe (clínicos gerais, cardiologistas, endocrinologistas e nefrologistas). O intervalo máximo para consultas médicas foi de 3 meses. De acordo com as necessidades dos pacientes (determinados pela avaliação clínica), os médicos agendavam visitas aos profissionais mencionados acima em uma demanda flexível. Além disso, foram realizadas atividades educacionais e de promoção da saúde a cada duas semanas com os pacientes. Toda essa informação foi registrada em um formulário padronizado. Usando essa estratégia, os autores descobriram que essa abordagem de equipe multidisciplinar estava associada a um controle geral da pressão arterial de 68%, sendo mais acentuado naqueles com idade ≥60 anos (OR 1,45; IC 95% [1,13-1,90]) e em mulheres (OR 1,36; IC95% [1,09-1,88]). Por outro lado, pacientes com diabetes foram associados a uma menor probabilidade de atingir a meta de PA em comparação com pacientes sem diabetes. Curiosamente, não foram observadas diferenças significativas no número de medicamentos anti-hipertensivos nos grupos que controlaram ou não a PA. Esse achado sugere que a adesão a essa abordagem multidisciplinar pode variar, como geralmente observado em qualquer outra intervenção. Vale ressaltar o mérito do serviço relacionado, cuja prática multidisciplinar é adotada, de acordo com os autores, há mais de 25 anos. 6 O controle da PA é impressionante, considerando as estimativas atuais do controle da PA no Brasil (geralmente abaixo de 30% em estudos individuais). 3 De maneira geral, a principal contribuição dessa investigação é que a literatura é relativamente escassa (principalmente de grandes estudos multicêntricos observacionais ou randomizados) ao abordar o impacto potencial de uma equipe multidisciplinar em pacientes com hipertensão. Estudos anteriores envolvendo tamanhos de amostras modestos sugeriram a importância dos enfermeiros na melhora da adesão a tratamentos anti- hipertensivos e do efeito de jaleco branco. 6-11 Da mesma forma, a abordagem ativa de farmacêuticos, educadores físicos e nutricionistas parece contribuir para melhorar a adesão e o controle da PA. 12,13 Entretanto, é crucial definir se toda a estrutura de equipe disponível (e não os ‘compartimentos’ distintos) pode contribuir para a eficácia do controle da PA. Em outras palavras, o todo é melhor do que qualquer componente individual ou a soma das partes? O estudo realizado por Jardim et al. não foi projetado para abordar essa questão, mas destacou que a luta contra a hipertensão não se baseia em um único ator. Infelizmente, a falta de um grupo controle (por exemplo, pacientes de outros centros sem acesso a uma abordagem de equipe multidisciplinar organizada) e o desenho retrospectivo impedem conclusões definitivas, mas abrem caminho para futuras investigações nesta importante área de pesquisa. Atenção especial deve ser dedicada aos pacientes com diabetes. A menor taxa de controle da PA nos desafia a realizar esforços extras nessa população de alto risco cardiovascular. DOI: https://doi.org/10.36660/abc.20200544 182

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