ABC | Volume 115, Nº2, Agosto 2020

Artigo Original Jardim et al. Tratamento multidisciplinar da hipertensão Arq Bras Cardiol. 2020; 115(2):174-181 Results: A total of 1,548 patients were included, with a mean follow-up time of 7.6 ± 7.1 years. Most patients were female (73.6%; n=1,139) with a mean age of 61.8 ±12.8 years. BP control rates in all the sample, and in non-diabetics and diabetics were 68%, 79%, and 37.9%, respectively. Diabetes was inversely associated with BP control (OR 0.16; 95%CI 0.12-0.20; p<0.001) while age ≥ 60 years (OR 1.48; 95%CI 1.15-1.91; p=0.003) and female sex (OR 1.38; 95%CI 1.05-1.82; p=0.020) were directly associated. Conclusions: a BP control rate of 70% was found in patients attending a multidisciplinary team care for hypertension. Further studies on male hypertensive, diabetic patients, younger than 60 years should be performed to confirm and improve these results. (Arq Bras Cardiol. 2020; 115(2):174-181) Keywords: Hypertension; Blood Pressure/prevention and control; Exercise; Treatment Adherence and Compliance; Sedentarism; Obesity; Motor Activity; Life Style. Full texts in English - http://www.arquivosonline.com.br Introdução A hipertensão (HTN) pode ser definida como elevação na pressão sanguínea detectada em duas ou mais leituras obtidas em duas ou mais ocasiões, ou uso de medicamentos anti-hipertensivos. 1,2 Apesar do debate acerca dos limiares a serem adotados para definição da HTN, não há dúvida de que essa condição é um fator de risco cardiovascular e uma causa importante de incapacidade e morte. 3-5 Pressão arterial (PA) elevada é o fator de risco tratável mais importante de acidente vascular cerebral, fibrilação atrial e insuficiência cardíaca. Reduções na PA são efetivas para prevenir lesões nos órgãos alvo, eventos cardiovasculares e morte em condições clínicas variadas envolvendo diferentes níveis de PA, perfis de risco cardiovascular, e comorbidades. 6,7 Apesar disso, a HTN não controlada continua uma situação muito prevalente em todo o mundo. 8 Entre as estratégias que objetivam melhorar o controle da PA, intervenções em equipe têm se mostrado muito promissoras. 9,10 Essas estratégias consistem em intervenções organizacionais centradas no paciente, multifacetadas, lideradas por equipes multidisciplinares, que objetivam melhorar a qualidade do cuidado à HTN. O tratamento da HTN em equipe inclui pacientes, profissionais da atenção primária, e outros profissionais, tais como cardiologistas, enfermeiros, farmacêuticos, médicos assistentes, nutricionistas, trabalhadores sociais, profissionais da saúde comunitária, entre outros. Esses profissionais se complementam, oferecendo apoio ao outro e dividindo responsabilidades. 1 Apesar do cuidado em equipe ser recomendado para pacientes com HTN pela maioria das diretrizes, 1,2,11,12 os resultados dessa intervenção em um ambiente real são escassos na literatura. Conduzimos o presente estudo com o objetivo de relatar os resultados de uma intervenção terapêutica multidisciplinar de longo prazo para pacientes com HTN, com foco na avaliação das taxas de controle da PA e fatores associados. Métodos Dados de todos os pacientes com HTN e idade de 18 anos, com pelo menos duas visitas de seguimento em um centro de tratamento multidisciplinar para HTN na região centro-oeste do Brasil em junho de 2017 foram avaliados retrospectivamente por conveniência. A HTN foi definida de acordo com a 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial: (1) PA no consultório ≥ 140 × 90 mmHg; monitorização ambulatorial da PA ≥ 130 × 80 mmHg; (3) monitorização residencial da PA ≥ 135 × 85 mmHg. 13 Pacientes em tratamento para HTN também foram considerados hipertensos. O centro de tratamento em equipe multidisciplinar está em funcionamento por mais de 25 anos, e se dedica ao tratamento de HTN, à educação de profissionais da saúde e à pesquisa. Pacientes com diagnóstico recente de HTN e pacientes com dificuldade de controlar os níveis de PA foram encaminhados para o centro, e o número de pacientes incluídos no estudo foi 1701. A equipe multidisciplinar é composta por médicos (clínicos gerais, cardiologistas, endocrinologistas e nefrologistas), enfermeiros, nutricionistas, terapeutas ocupacionais, educadores físicos, psicólogos e musicoterapeutas. Com o objetivo de melhorar a adesão ao tratamento e reduzir perdas de acompanhamento, o intervalo máximo entre cada visita foi de três meses. O intervalo máximo entre duas consultas médicas foi de seis meses, e em relação a outros profissionais de saúde, não houve visitas de rotina, isto é, as consultas foram agendadas de acordo com as necessidades dos pacientes determinadas por avaliação clínica. Além disso, atividades educacionais e de promoção da saúde foram realizadas a cada duas semanas com os pacientes. 14,15 Desde o início desse serviço multidisciplinar, as consultas foram registradas em um formulário padronizado. Todos os profissionais diretamente envolvidos no cuidado do paciente foram treinados rotineiramente para o preenchimento desse formulário, assegurando confiabilidade e reprodutibilidade dos dados ao longo dos anos. 16,17 Coleta de dados Foram coletados dados da última visita do paciente, independentemente da especialidade do profissional que o atendeu. Ainda, as datas da primeira consulta foram coletadas e usadas para calcular o período de acompanhamento (diferença entre a primeira e a última visita do serviço), em anos. Os seguintes dados foram coletados dos prontuários médicos: sexo; idade: em anos, e avaliada pela diferença entre a data de nascimento e a data da última visita; dados antropométricos: peso, altura e Índice de Massa Corporal (IMC), calculado pela fórmula de Quetelet (IMC: peso em Kg/altura 2 em metros). O estado nutricional foi classificado de acordo com o IMC, seguindo as definições 175

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