ABC | Volume 115, Nº1, Suplemento, Julho 2020

Correlação Clínico-radiográfica Caso 5/2020 – Transposição Corrigida das Grandes Artérias em Boa Evolução Natural em Mulher de 65 Anos Case 5/2020 – Corrected Transposition of the Great Arteries, with Good Natural Evolution in a 65-Year-Old Woman Edmar Atik, 1 Renato Maluf Auge, 1 Alessandra Costa Barreto, 1 Maria Angélica Binotto 1 Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, 1 São Paulo, SP – Brasil Palavras-chave Bloqueio Atrioventricular; Disfunção Ventricular; Transposição Congênita Corrigida de Grandes Artérias/cirurgia; Marca-Passo Artificial; Adulto; Diagnóstico por Imagem. Dados clínicos Paciente evolui sem sintomas, nos afazeres habituais como doméstica e costureira, quando foi identificado em avaliação de rotina bloqueio atrioventricular total com frequência cardíaca de 66 bpm. Nesta ocasião foi feito diagnóstico de transposição corrigida das grandes artérias (TCGA) por ecocardiograma, com insuficiência discreta da valva atrioventricular esquerda. Por insuficiente cronotropismo e doença binodal, foi colocado, aos 59 anos de idade, marcapasso atrioventricular à direita. Permanece assintomática em uso de medicação anti-hipertensiva, anlodipina, enalapril e hidroclorotiazida. Nega qualquer sintoma como palpitações, dor precordial ou cansaço. Exame físico: bom estado geral, eupneica, acianótica, pulsos normais nos 4 membros. Peso: 61 Kg, Alt.: 147 cm, PAMSD: 118 x 70 mmHg, FC: 72 bpm. Precórdio: Ictus cordis na linha hemiclavicular esquerda e algo impulsivo, sem impulsões sistólicas na borda esternal esquerda. Bulhas cardíacas hiperfonéticas, estando a segunda bulha desdobrada. Sopro sistólico+/++/4, suave, mais audível na ponta cardíaca. Cicatriz na região infraclavicular esquerda pela loja domarcapasso. Fígado não palpado e pulmões limpos. Exames complementares Eletrocardiograma: Ritmo comandado por marcapasso no átrio direito e sinais de bloqueio do ramo direito pela colocação do marcapasso à direita a nível do ventrículo anatomicamente esquerdo (Figura 1). Radiografia de tórax: Aumento discreto a moderado da área cardíaca a custa do arco ventricular esquerdo alongado (ICT=0,68). Trama vascular pulmonar aumentada com arco aórtico à esquerda (Figura 1). Ecocardiograma : Conexão atrioventricular e ventrículo- arterial discordantes. Valva tricúspide à esquerda displásica e redundante. Aumento discreto do átrio esquerdo (46 mm com volume= 36 ml/m 2 ), e do ventrículo direito à esquerda, estando normais as outras cavidades (VD= 44, VE= 31, Ao= 36) assim como as outras válvulas cardíacas. Não havia hipertrofia miocárdica com septo e parede posterior= 8 mm. A pressão sistólica da artéria pulmonar foi estimada pelo Doppler em 26 mmHg. A função biventricular era normal e a fração de ejeção do ventrículo esquerdo de 60%. TAPSE de VD= 1,6 cm e FAC de VD= 40%. (Figura 2). Ventriculografia radioisotópica: Função biventricular normal (VD= 55% e VE= 53%). Diagnóstico clínico: TCGA com insuficiência da valva atrioventricular à esquerda, discreta a moderada intensidade e bloqueio atrioventricular total em evolução natural em paciente de 65 anos , assintomática e com preservação da função miocárdica. Houve colocação de marcapasso atrioventricular à direita aos 59 anos. Raciocínio clínico: Havia elementos clínicos de orientação diagnóstica da cardiopatia congênita, apesar da ausência de sintomas evidentes. A segunda bulha hiperfonética na expressão da transposição das grandes artérias e o sopro sistólico na ponta referente à insuficiência da valva atrioventricular à esquerda seriam os dois elementos diagnósticos da anomalia congênita. Acresce ainda a evolução natural para bloqueio atrioventricular total como elemento também orientador do diagnóstico. Outro elemento seria extraído do eletrocardiograma com potenciais inversos da despolarização e repolarização ventricular, mas não disponíveis. Esse diagnóstico clínico elaborado não pode ser realizado anteriormente à colocação do marcapasso pela falta de sintomas, mas também pela negligência de um exame clínico semiológico devidamente realizado e avaliado com a acurácia adequada. O diagnóstico no caso foi estabelecido pelo ecocardiograma. Diagnóstico diferencial: Outras cardiopatias que se acompanham de hiperfonese de segunda bulha e sopro sistólico sem expressividade poderiam orientar no adulto a cardiopatias que são acompanhadas de hipertensão arterial sistêmica. Dentre as cardiopatias congênitas, lembro as que se operadas conservam a anatomia da transposição arterial como na transposição das grandes artérias submetida à operação de Senning, assim como as operadas sob a técnica cavopulmonar total. Conduta: Em face da boa evolução da paciente na preservação da função normal ventricular direita e sem defeitos cardíacos dignos de significância, a conduta expectante é facilmente adotada comos controles adequados domarcapasso inserido há cerca de 6 anos. Espera-se daí uma continuidade da boa evolução ao longo de muitos anos adiante. Correspondência: Edmar Atik • Consultório privado. Rua Dona Adma Jafet, 74, conj.73, Bela Vista. CEP 01308-050, São Paulo, SP – Brasil E-mail: conatik@incor.usp.br DOI: https://doi.org/10.36660/abc.20190489 34

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