ABC | Volume 115, Nº1, Julho 2020

Artigo Original Benchimol-Barbosa et al. Condução AV dinâmica para acoplamento ao intervalo RR Arq Bras Cardiol. 2020; 115(1):71-77 Conclusion: In elite runners, AVCT to RR-interval dynamic coupling shows spontaneous discordant AV conduction, characterized by negative AVCT vs. RR-interval regression line slope. RR-intervals standard deviation and AVCT vs. RR-interval regression line slope are independent explanatory variables of MET. (Arq Bras Cardiol. 2020; 115(1):71-77) Keywords: Athletes; Adults; Resistance Training; Physical Fitness; Ventricular Remodeling; Sedentarism; Electrocardiography/methods; Heart Ventricles; Ventricular Function. Full texts in English - http://www.arquivosonline.com.br Introdução A adaptação cardíaca secundária à aptidão física se reflete na remodelação mecânica, elétrica e autonômica do coração, como consequência de repetidas atividades de alta demanda. Atletas bem treinados costumam apresentar discreto ganho de massa ventricular, aumento da amplitude da onda do ECG, repolarização precoce, redução da frequência cardíaca em repouso e aumento da variabilidade da frequência cardíaca, relacionados ao status de condicionamento. 1-7 Particularmente, a maior parte do remodelamento autonômico do coração em atletas bem condicionados é consequência do aumento do tônus vagal e redução da estimulação simpática sobre os nós sinusal e atrioventricular (AV). 1,6 Embora o aumento do tônus vagal possa ser detectado diretamente pela medida da frequência cardíaca em repouso, diferenciar os efeitos do aumento da atividade parassimpática sobre o nó sinusal daqueles sobre o nó AV ao ECG de superfície pode não ser tão simples. Frequentemente, atletas de alta demanda apresentam remodelamento do nó AV, caracterizado por vários graus de bloqueio de condução AV, ritmo atrial ou juncional baixo não-sinusal e, mais raramente, bloqueio AV completo. 8-10 Esses distúrbios da condução AV dependem do status do condicionamento físico e estão relacionados não apenas ao aumento da atividade parassimpática sobre o nó AV, mas também ao remodelamento secundário das fibras do nó AV e ao acoplamento célula a célula. 11-13 Embora os distúrbios da condução AV tenham sido documentados repetidamente em atletas, a adaptação dinâmica da condução AV ao ciclo cardíaco nessa população ainda precisa de esclarecimentos. Na população geral, a duração AV varia dinamicamente de acordo com a duração do intervalo RR, caracterizando um efeito semelhante a uma sanfona. Entretanto, em atletas, o remodelamento autonômico pode influenciar a adaptação dinâmica da condução AV ao intervalo RR, expressa em um comportamento paradoxal da condução AV em resposta a variações dos intervalos RR ao longo tempo. O presente estudo avaliou as variabilidades do tempo de condução AV (TCAV) batimento por batimento e do intervalo RR em corredores de elite e indivíduos sedentários saudáveis, em repouso, com o objetivo de avaliar o efeito do status da aptidão física na duração do acoplamento espontâneo de TCAV ao intervalo RR. Métodos Informações detalhadas sobre o protocolo do estudo, aprovação do Comitê de Ética e aquisição de dados do ECG foram descritas em outro artigo. 6 O presente estudo analisou dados brutos de ECG de alta resolução do banco de dados de ECG do Programa de Engenharia Biomédica, utilizando uma nova técnica para extração do tempo de condução atrioventricular e intervalos RR. 14 O procedimento de amostragem de dados foi descrito em outro artigo. 6 A população do estudo foi composta por 20 voluntários divididos em dois grupos: ‘Atleta’, composto por dez corredores de elite de longa distância (≥ 16,0 equivalentes metabólicos máximos [MET]) calculados como o consumo máximo de oxigênio obtido durante o teste de estresse dividido por 3,5 mL·kg -1 ·min -1 , [média ± DP] 19,5 ± 1,3 MET; idade 25,1 ± 7,1 anos) e ‘Controle’, constituído por dez voluntários sedentários saudáveis do sexo masculino (≤ 11,5 MET; 8,7 ± 1,9 MET; idade 29,0 ± 5,4 anos). Vale ressaltar que o termo ‘MET’ é empregado ao longo do texto como o equivalente metabólico máximo alcançado durante o teste de estresse. O programa de treinamento dos atletas consistiu em seis a oito sessões de treinamento / semana; 90 a 120 min / sessão; 90 a 110 km / semana. A detecção das ondas e do ponto fiducial foi realizada no ECG realizado com derivações XYZ de Frank modificadas em posição supina em repouso, usando filtro passa-baixa a 15 Hz (Butterworth, 4ª ordem). Para a análise da duração do intervalo RR, artefatos e batimentos ectópicos foram adequadamente excluídos. 15,16 A distância entre o pico da onda P e o pico da onda R em batimentos normais definiu o intervalo PR-pico e foi utilizada para analisar a adaptação instantânea do TCAV ao ciclo cardíaco. 14 O acoplamento PR-pico a intervalos RR foi avaliado batimento a batimento durante todo o registro do ECG, utilizando a derivação que mostra a onda P mais alta, geralmente a derivação Y. O intervalo RR foi avaliado como o tempo entre os picos das ondas R de dois batimentos normais consecutivos. O intervalo PR-pico foi avaliado imediatamente antes do segundo batimento do respectivo intervalo RR. Para cada indivíduo, foi calculada a média (M) e o desvio padrão (DP) de todos os intervalos RR normais consecutivos (M-RR e DP-RR) e o respectivo intervalo PR-pico (M-TCAV e DP-TCAV). Os intervalos PR-pico foram correlacionados com os respectivos intervalos RR e o slope (inclinação) das linhas de regressão foi calculado (RR-TCAV slope ). Análise Estatística As variáveis foram expressas como média ±DP ou mediana e variação interquartil, quando apropriado. A normalidade dos dados foi avaliada pelo teste de Kolmogorov-Smirnov, e todas as variáveis analisadas tiveram sua premissa de normalidade aceita. As variáveis foram comparadas entre os grupos usando o teste t de Student não pareado. Para avaliar os melhores 72

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