ABC | Volume 115, Nº1, Julho 2020

Artigo Original Vargas e Rigatto A PA dos pais e o comprometimento autonômico de jovens do sexo masculino Arq Bras Cardiol. 2020; 115(1):52-58 experimental. 16 Pelo menos em parte, é razoável acreditar que nossos resultados indicam que a primeira alteração no processo hipertensivo atinge os sistemas simpático e parassimpático. Essas conclusões estão em consonância com Vargas et al., 11 que também demonstraram que, em atletas, um pequeno aumento na PA acarreta alterações no sistema nervoso simpático, sem com isso alterar a FE ou o VO 2max . Levando-se em conta que a regulação autonômica pode ser avaliada por meio de uma abordagem não-invasiva para examinar a VFC nos domínios do tempo e da frequência, 8 seria útil detectar o seu comprometimento e fornecer aos médicos dados para avaliarem a eficácia do tratamento ou, até mesmo, prevenir doenças. Apesar do enorme impacto da diminuição da VFC sobre o risco cardiovascular, não encontramos nenhuma pesquisa na literatura mostrando a correlação entre a história familiar de hipertensão e esses parâmetros em indivíduos saudáveis. Acreditamos que nossos resultados podem chamar a atenção para ummétodo simples, de baixo custo e que pode apresentar dados associados a um risco cardiovascular significativo, como a VFC. Isso contribuirá não apenas para prevenir a hipertensão em sujeitos que estão em risco genético, mas também abrir uma nova possibilidade de monitoramento de pacientes hipertensos. No nosso estudo, o grupo FM-H apresentou índices LFnu e relaçãoLF/HFmais elevados quandocomparadocomogrupoFM- N. Ademais, no grupo FM-H, oHFnu, no domínio da frequência, e os índices SDNN, RMSSD, NN50, pNN50 e triangular da VFC, no domínio do tempo, foram significativamente menores do que aqueles observados no grupo FM-N. Esses resultados indicam que a história familiar de hipertensão é acompanhada por um aumento da modulação simpática cardíaca e por uma diminuição da modulação parassimpática, independentemente da PA normal dos jogadores de futebol. Além disso, Tozawa et al., 17 buscaram determinar se a história familiar de hipertensão estaria quantitativamente associada à prevalência de hipertensão na coorte rastreada. Concluíram que o número crescente de membros da família com hipertensão tem uma correlação com um aumento na prevalência de PA mais elevada, independentemente dos fatores de risco convencionais para a hipertensão. Esses achados estão em consonância com os nossos, uma vez que também encontramos uma diferença significativa na modulação autonômica apenas quando ambos os pais eram hipertensos, o que enfatiza a importância dos antecedentes genéticos para a VFC, que é um preditor de risco cardiovascular. Não restam dúvidas de que a atividade física está associada a efeitos benéficos para a PA. Porque o exercício é ummétodo saudável de controle das doenças cardiovasculares, 3 decidimos estudar apenas atletas. Nossos resultados corroboram a importância dos antecedentes genéticos. Atletas jovens e saudáveis, que tinham pai ou mãe hipertensos, apresentaram um aumento significativo da relação LF/HF, bem como uma redução na VFC. Há também evidências consistentes demonstrando que a melhora da modulação parassimpática está associada ao aumento no VO 2max em indivíduos jovens saudáveis. 10 Entretanto, no presente estudo, não foram encontradas diferenças no VO 2max , PA e FE na comparação de todos os grupos. Isso provavelmente se deve ao fato de que, por serem compostos de jovens atletas, com dieta e consumo de nutrientes semelhantes, nossos grupos tiveram um desempenho físico elevado, o que atenuou as diferenças. No entanto, observamos uma diferença significativa na modulação autonômica cardíaca entre os grupos FM-H e FM-N, mas não encontramos diferença significativa no VO 2max e na FE, o que, em última análise, manteve a PA dentro de valores normais, apesar da história familiar de hipertensão. Em consonância com Lucini et al., 9 nossos resultados demonstraram que as alterações autonômicas possivelmente precedem a disfunção endotelial. Foi observado que, nos indivíduos com valores de pressão arterial enquadrados na faixa normal limítrofe, houve comprometimento da VFC. Os autores também relataram que essas alterações podem sugerir que um distúrbio na regulação autonômica anteceda o estado hipertenso, 9 como observado na hipertensão neurogênica. Um ponto de crítica ao nosso método é o fato de que nós não separamos os grupos de acordo com o tipo de hipertensão dos pais. Por outro lado, sabemos que a probabilidade de haver apenas pais com hipertensão neurogênica no grupo FM-H é muito baixa. Desse modo, é razoável acreditar que, apesar da causa de hipertensão, a FE foi preservada. Conforme nossos resultados demonstraram, reforçados por estudos prévios que também buscaram respostas sobre o início do processo de hipertensão arterial, 9,12,17 parece que a disfunção autonômica precede a disfunção endotelial. Desse modo, a descoberta de um tratamento para o desequilíbrio simpatovagal e redução o risco cardiovascular representa um desafio. Tabela 4 – Características da artéria braquial dos atletas na posição supina FM-N (n=14) F-H (n=11) M-H (n=10) FM-H (n=11) B-DIA (mm) 0,355±0,043 0,364±0,035 0,344±0,041 0,383±0,037 RH-DIA (mm) 0,387±0,042 0,387±0,028 0,366±0,042 0,402±0,045 VMF (%) 9,323±3,028 6,745±1,263 6,261±1,726 5,097±3,157 Antes da NTG. (mm) 0,368±0,044 0,363±0,032 0,352±0,043 0,387±0,039 Após a NTG. (mm) 0,431±0,039 0,431±0,036 0,419±0,041 0,453±0,034 NTG (%) 17,639±7,086 18,920±3,991 19,472±6,456 17,678±7,503 B-DIA: diâmetro da artéria braquial basal; VMF: vasodilatação mediada pelo fluxo; NTG: diâmetro da artéria braquial com nitroglicerina; RH-DIA: diâmetro da artéria braquial com a hiperemia reativa. Os valores são apresentados como média ± DP. 57

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