ABC | Volume 115, Nº1, Julho 2020

Artigo Original Tozo et al. Medidas hipertensivas e obesidade infantojuvenil Arq Bras Cardiol. 2020; 115(1):42-49 adolescentes suficientemente ativos apresentaram redução de aproximadamente 1/3 do risco de PAD elevada (OR=0,33; IC95%: 0,15 a 0,72). Discussão Os principais resultados revelarammaior risco para HA em escolares com obesidade abdominal (OR=6,11) e obesidade geral (OR=2,91). Além disso, adolescentes que praticam AF- mv apresentaram redução de 33% do risco de PAD elevada. A literatura atual tem sido consistente em demonstrar que o IMC-z e a CC estão fortemente associados comHA na infância e na adolescência. 9 Em acréscimo, os achados deste estudo exibem relevante fator protetivo da prática de AF-mv para a HA na adolescência, aspecto que foi pouco explorado em estudos populacionais. De acordo com todo o exposto, as medidas antropométricas representam significativos preditores de HA, que se justificam como alternativa simples, rápida, de fácil interpretação e de bom custo-efetividade. 24,25 Vários relatos demonstram associação entre PA, IMC e CC, sugerindo a obesidade como forte fator de risco para o desenvolvimento de HA na vida adulta. 9,16 A distribuição excessiva de gordura visceral é acompanhada por alterações de vários marcadores inflamatórios e endoteliais 26 que estimulam o aumento de eventos de resistência à insulina, a disfunção endotelial e a elevação da retenção de líquido, que podem promover variações nos níveis de PA e crescimento do risco cardiovascular. 27 Identificou-se que 40,5% dos adolescentes apresentaram HA, sendo metade dos escolares com excesso de peso e 2/3 com CC elevada foram diagnosticados como HA em maior proporção em relação a adolescentes com medidas adequadas. Em estudo de representatividade nacional e regional que avaliou 73.399 estudantes com idades entre 12 e 17 anos da região Sul do Brasil, estimou-se que a prevalência de HA foi de 12,5% e de pré-hipertensão foi de 17%, o excesso de peso variou entre 29,8% 1 e 35,5% 28 dos adolescentes sul-brasileiros. Sugere-se que, além dos fatores genéticos e ambientais, a obesidade e a HA podem estar relacionadas às disfunções metabólicas. 27 Com relação às diferenças entre sexos, foram identificadas prevalência de HA e PAS similares entre meninos e meninas, entretanto, as meninas apresentaram maiores médias de PAD. Resultados semelhantes foram encontrados na literatura. 9 Uma possível explicação deve-se ao fato de que as meninas praticammenos atividades físicas por dia em relação aos meninos, o que demonstrou efeito protetivo para PAD elevada. Além disso, observou-se que meninas com excesso de peso praticam maior tempo de atividades físicas, bem como adolescentes considerados ativos apresentaram maiores médias de indicadores antropométricos. Este dado pode refletir a participação em atividades físicas como uma estratégia para reduzir o peso corporal. 14 Identificou-se que altos valores de CC e IMC-z foram associados ao maior risco de HA, entretanto, os considerados suficientemente ativos apresentaram redução de 1/3 do risco de PAD elevada, o que sugere que AF-mv pode interferir nos níveis pressóricos, além de reduzir o risco metabólico. 29 Entretanto, outro estudo 30 demonstrou que somente o sobrepeso e a obesidade associaram-se diretamente com HA, mas não a prática de AF-mv. 31 Grande parte dos adolescentes foram considerados suficientemente ativos, o que pode estar relacionado ao nível socioeconômico, com a oferta de atividades físicas fora dos períodos escolares. 32 O processo de urbanização, os avanços tecnológicos da sociedade moderna e o aumento da violência estão associados com a mudança no comportamento de crianças e adolescentes. 33 O aumento do tempo em atividades sedentárias e a menor prática AF-mv favorecem o ganho de peso e as doenças associadas à obesidade, entre elas, a HA. 1 Recomenda-se a prática de no mínimo de 300 minutos de AF- mv por semana para fornecer benefícios adicionais de saúde. 34 Tabela 2 – Caraterísticas da amostra Total (n=336) Sexo feminino (n=173) Sexo masculino (n=163) p Idade (anos)# 14,50 [13,35 a 15,88] 14,74 [13,52 a 15,99] 14,35 [13,16 a 15,54] 0,103 Peso corporal (kg)# 56,25 [47,90 a 64,60] 54,70 [46,90 a 62,00] 58,90 [49,35 a 70,50] 0,001 Estatura (cm) 1,62 [0,10] 1,59 [0,07] 1,66 [0,10] <0,001 Estatura-z# 0,49 [0,29 a 0,78] 0,44 [0,26 a 0,71] 0,57 [0,34 a 0,82] 0,003 CC (cm)# 68,00 [62,50 a 74,00] 65,00 [60,00 a 70,00] 71,00 [65,50 a 78,00] <0,001 IMC (kg/m 2 )# 21,29 [19,00 a 24,09] 21,55 [19,17 a 24,01] 20,79 [18,87 a 24,80] 1,000 IMC-z 0,51 [1,22] 0,37 [1,16] 0,65 [1,27] 0,034 PAS (mmHg)# 124,00 [113,50 a 132,50] 120,00 [111,00 a 131,00] 127,00 [118,00 a 135,25] <0,001 PAD (mmHg)# 69,50 [63,38 a 75,00] 70,00 [65,00 a 76,50] 68,00 [61,75 a 74,00] 0,009 AF-L (min/dia)# 19,29 [2,50 a 42,86] 14,29 [0,00 a 38,57] 25,71 [8,57 a 48,21] 0,007 AF-Mod (min/dia)# 17,14 [6,43 a 34,64] 12,86 [6,43 a 34,29] 17,14 [6,79 a 37,14] 0,282 AF-Vig (min/dia)# 7,14 [0,00 a 17,14] 5,71 [0,00 a 14,29] 8,57 [0,00 a 25,71] 0,009 DP: desvio padrão; #não paramétricas; PAS: pressão arterial sistólica; PAD: pressão arterial diastólica; IMC: índice de massa corporal; CC: circunferência da cintura; IMC-z: IMC-escore Z; AF-L: atividade física leve; AF-Mod: atividade física moderada; AF-Vig: atividade física vigorosa. 45

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