ABC | Volume 115, Nº1, Julho 2020

Artigo Original Macedo et al. Hipertensão resistente em afrodescendentes Arq Bras Cardiol. 2020; 115(1):31-39 dessas drogas deva participar dos critérios de definição para HRf. 27 Em nosso estudo, aproximadamente um terço dos pacientes estava recebendo clortalidona, enquanto quase metade usavam espironolactona. Ambos foram usados​ significativamente commaior frequência empacientes comHRf (47,9% dos pacientes com HRf usavam clortalidona e 77,5% espironolactona, versus 11,5 e 22,5%dos HR, respectivamente), o que pode corroborar uma provável classificação adequada de HRf em uma boa parte dos pacientes. A relativamente baixa preferência pela clortalidona como diurético tiazídico pode ser justificada pelo fato de ser um serviço público e a droga não participar da lista governamental de distribuição gratuita de anti-hipertensivos, enquanto a hidroclorotiazida é distribuída gratuitamente. Também é possível que alguns dos participantes não estejam em uso de espironolactona devido a efeitos adversos e/ou contraindicações para esse medicamento. Entretanto, a frequência de uso de clortalidona e espironolactona em nosso trabalho foi, de certa forma, semelhante à de outros estudos. 7,8,14,16 No entanto, há uma clara necessidade de estimular o uso mais frequente desses medicamentos, que, de acordo com as evidências atuais, seriam mais adequados para o tratamento da HR. Por sua característica transversal, nosso estudo tem algumas limitações, uma vez que não é possível estabelecer uma relação de causalidade e temporalidade entre algumas associações encontradas, por exemplo, uma maior prevalência de AVC entre aqueles com HRf. Os dados aqui apresentados, no entanto, têm valor em levantar hipóteses a serem comprovadas em estudos longitudinais com maior poder estatístico. Essa amostra de conveniência é derivada de uma população atendida em um ambulatório de referência para pacientes hipertensos graves, com alto RCV, e pode ter superestimado as prevalências e associações descritas. Outro aspecto importante refere-se ao fato de que alguns pacientes com pseudorresistência podem ter sido incluídos, o que também poderia superestimar as prevalências encontradas. No entanto, esses pacientes são acompanhados em um ambulatório específico, a maioria por um longo período (média acima de 10 anos) e com tempo médio de diagnóstico de hipertensão por mais de 20 anos. Eles passam por reavaliações frequentes, incluindo a MAPA 35 e o escore de Morisky, 25 para avaliar o efeito do avental branco e a adesão à terapia, respectivamente. Isso poderia minimizar a ocorrência de indivíduos com pseudorresistência nessa amostra. Alguns outros importantes estudos, contudo, têm avaliado pacientes com resistência ao tratamento da HAS, definindo-os como hipertensos resistentes ou refratários aparentes e encontrado associações relevantes. 10,36,37 A classificação dos indivíduos quanto à cor da pele foi autorreferida, conforme recomendado em estudos em populações brasileiras que envolvem essa variável, 38 poderia levar a vieses, devido à grande miscigenação étnica da população brasileira. Contudo, o perfil étnico da amostra estudada é condizente com o da população local e com o da que historicamente frequenta a unidade de saúde onde foi realizado o estudo. A estratificação dos indivíduos como resistentes ou refratários levou em consideração o controle da PA e o número de medicamentos prescritos, desconsiderando se estavam ou não utilizando clortalidona e espironolactona, o que pode, segundo alguns autores, ter superestimado a prevalência de HRf. Conclusões Indivíduos com HR acompanhados nesse ambulatório de referência para tratamento de casos graves de HAS eram em sua maioria afrodescendentes, com alta prevalência de fatores de risco para doenças cardiovasculares e, consequentemente, alto risco cardiovascular segundo o ERF. Encontramos uma alta proporção de indivíduos com a forma mais grave de apresentação fenotípica de resistência ao tratamento da hipertensão, definida como HRf, que apresentou maior frequência de dislipidemia e história de AVC compatível com uma frequência possivelmente maior de dano a órgãos-alvo. Outros estudos mais abrangentes devem ser realizados para melhorar o conhecimento sobre as características dessa população de alto risco, contribuindo para a definição de estratégias adequadas de prevenção e tratamento. Contribuição dos autores Concepção e desenho da pesquisa: Macedo C, Aras Junior R; Acquisition of data: Macedo C, Macedo IS; Análise e interpretação dos dados e Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Macedo C, Aras Junior R, Macedo IS; Análise estatística e Redação do manuscrito: Macedo C. Potencial conflito de interesses Declaro não haver conflito de interesses pertinentes. Fontes de financiamento O presente estudo não teve fontes de financiamento externas. Vinculação acadêmica Este artigo é parte de tese de Doutorado de Cristiano Macedo pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia. Aprovação ética e consentimento informado Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética do Hospital Ana Nery sob o número de protocolo 138.371. Todos os procedimentos envolvidos nesse estudo estão de acordo com a Declaração de Helsinki de 1975, atualizada em 2013. O consentimento informado foi obtido de todos os participantes incluídos no estudo. 37

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