ABC | Volume 115, Nº1, Julho 2020

Minieditorial Exercício Intervalado de Alta Intensidade versus Exercício Contínuo: Há Diferença na Magnitude de Redução da Pressão Arterial? High-intensity Interval Training versus Continuous Exercise: Is There a Difference Regarding the Magnitude of Blood Pressure Reduction? Filipe Ferrari 1, 2 e Vítor Magnus Martins 3 Programa de Pós-Graduação em Cardiologia e Ciências Cardiovasculares - Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Hospital de Clínicas de Porto Alegre, 1 Porto Alegre, RS – Brasil Grupo de Pesquisa em Cardiologia do Exercício (CardioEx) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Hospital de Clínicas de Porto Alegre, 2 Porto Alegre, RS – Brasil Hospital de Clínicas de Porto Alegre - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 3 Porto Alegre, RS – Brasil Minieditorial referente ao artigo: Efeito Agudo do Exercício Intervalado versus Contínuo sobre a Pressão Arterial: Revisão Sistemática e Metanálise Correspondência: Filipe Ferrari • Hospital de Clínicas de Porto Alegre – Rua Ramiro Barcelos, 2350. CEP 90035-007, Santa Cecília, Porto Alegre, RS – Brasil E-mail: ferrari.filipe88@gmail.com Palavras-chave Hipertensão; Exercício; Insuficiência Cardíaca; Fatores de Risco; Pressão Arterial; Hipotensão Pós Exercício; Terapia por Exercício; Estilo de Vida. A hipertensão arterial sistêmica (HAS) está fortemente associada a eventos cardiovasculares adversos, incluindo insuficiência cardíaca, cardiopatia isquêmica e doenças cerebrovasculares. 1 Apresentando alta prevalência mundial, em geral a HAS associa-se a fatores de risco como história familiar, obesidade, alta ingestão de sódio e sedentarismo. Considerando estes fatores, estima-se que 1/3 da população dos EUA e a da Inglaterra seja de indivíduos hipertensos. 2 No Brasil, especificamente em 2016, foi relatada prevalência acima de 32% de HAS (36 milhões) em indivíduos adultos, sendo em mais de 60% nos idosos. A HAS contribuiu, direta ou indiretamente, para metade dos óbitos por doenças cardiovasculares. 3 É necessária uma técnica padronizada e apropriada para aferição da pressão arterial (PA). Idealmente, várias etapas devem ser seguidas para alcançar a máxima precisão. Recomenda-se medir a PA com o paciente sentado, suas pernas descruzadas, seus pés apoiados no chão e o dorso recostado; seu braço deve estar na altura do coração e sua palma da mão virada para cima. 3 O manejo adequado da HAS compreende intervenções farmacológicas e não farmacológicas. Aquelas não farmacológicas, como o exercício físico, são um pilar importante do tratamento, auxiliando na diminuição dos níveis pressóricos e potencialmente contribuindo na redução da dose diária de medicação anti-hipertensiva. Além do exercício, dieta balanceada com especial limitação no consumo de sal e controle do estresse e do consumo de álcool também são consideradas importantes condutas. 4 Assim, a mudança de estilo de vida visando à redução da PA é recomendada para todos os indivíduos com HAS. 5 Em relação ao exercício físico, postula-se que o treinamento intervalado de alta intensidade (TIAI), conhecido popularmente como HIIT (do inglês high-intensity interval training ) seja um protocolo de treinamento alternativo e até mais eficiente do que o treinamento contínuo (TC) de intensidade moderada (TCIM), que é o padrão-ouro recomendado em várias diretrizes. 6 O TIAI intercala atividade vigorosa (~ 85 a 95% da frequência cardíaca máxima [FC máx ] e/ou volume de oxigênio máximo [VO 2máx] ) com duração de 1 a 4 minutos, com períodos de recuperação (descanso ou exercício de baixa intensidade). 7 Foi demonstrado que o TIAI pode ser superior ao TCIM na melhora de aptidão cardiorrespiratória, função endotelial, sensibilidade à insulina, marcadores de atividade simpática e rigidez arterial, 8 fatores que podem influenciar melhor resposta da PA pós-exercício. Clark et al. 9 estudaram os efeitos de 6 semanas de TIAI versus TCIM em PA avaliada por monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA) e rigidez aórtica em 28 homens com sobrepeso ou obesidade. Os indivíduos realizaram exercício em bicicleta estacionária 3 vezes/semana. O TIAI teve correlação mais forte do que o TCIM, reduzindo a PA em cerca de 3 a 5 mmHg, sendo mais pronunciada naqueles com PA basal mais alta, mas não houve diferenças estatísticas na eficácia entre o TIAI e o TCIM nos valores de PA. 9 Em outro estudo, 19 pacientes (8 normotensos e 11 hipertensos) com síndrome metabólica foram divididos em três grupos: TIAI (maior que 90% da FCmáx, ≈ 85% do VO 2máx ), TCIM (≈ 70% da FC máx , ≈ 60% do VO 2máx ) e grupo-controle sem atividade física. Nos indivíduos normotensos não foram encontradas diferenças nos valores da MAPA. Em hipertensos que praticaram TIAI, a PA sistólica sofreu redução em 6,1 ± 2,2mmHg, quando comparada à dos grupos TCIM e controle (130,8 ± 3,9 versus 137,4 ± 5,1 e 136,4 ± 3,8mmHg, respectivamente; p <0,05). No entanto, a PA diastólica foi semelhante nos três grupos. Assim, a intensidade do exercício parece influenciar a magnitude redutora da PA, com o TIAI sendo superior ao TCIM. 10 Nessa edição dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia, Perrier-Melo et al. 11 compararam a magnitude da hipotensão pós-exercício (HPE) – sendo considerada entre 45 e 60minutos pós-exercício – no TIAI (≈ 80 a 100% da FCpico) versus TC em indivíduos adultos. Neste estudo, tanto protocolos com intensidade moderada (64 a 76% da FCpico) quanto vigorosa DOI: https://doi.org/10.36660/abc.20200261 15

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