ABC | Volume 115, Nº1, Julho 2020

Artigo Original Perrier-Melo et al. Hipotensão pós-exercício: intervalado versus contínuo Arq Bras Cardiol. 2020; 115(1):5-14 devido a diminuição da pré-carga, que não é compensada por aumento da frequência cardíaca. 26,45,50 Os estudos que compararam diretamente os efeitos agudos do EC e do EI sobre a PA mostraram que os mecanismos relacionados à HPE entre esses modelos de exercício parecem ser diferentes. 26,30,32,34 Em normotensos, Rossow et al. 26 observarammaior redução da resistência vascular periférica e aumento do débito cardíaco (mediado por aumento da frequência cardíaca) após o protocolo de EI comparado ao EC. Em homens pré-hipertensos, Lacombe et al. 32 demonstraram que o EI gerou maiores mudanças na sensibilidade barorreflexa e variabilidade da frequência cardíaca do que o EC no período pós-exercício. Morales-Palomo et al. 34 observaram, em indivíduos com síndrome metabólica (normotensos e hipertensos), maiores reduções no volume sistólico, resistência vascular periférica, resistência vascular cutânea, maior fluxo sanguíneo na pele e maiores aumentos da frequência cardíaca após EI, em comparação a EC. Emmulheres hipertensas de meia-idade e idosas, Costa et al. 30 observaram que 60 minutos após EI houve redução da resistência vascular periférica, emcomparação à sessão-controle, o que não ocorreu após EC. Em conjunto, o EI parecer induzir maior redução da resistência vascular periférica pós-exercício, em comparação ao EC. É importante destacar que os estudos que compararam os determinantes hemodinâmicos da HPE entre EI e EC são poucos e envolvem diferentes populações, o que dificulta o entendimento das possíveis diferenças entre esses protocolos. Do ponto de vista clínico, redução crônica de 2 mmHg na PA sistólica reduz em 6% o risco de mortalidade por acidente vascular cerebral e em 4% o risco de doença arterial coronariana, ao passo que redução de 5 mmHg diminui o risco em 14% e 9%, respectivamente. 15 Uma metanálise demonstrou que o efeito anti-hipertensivo crônico do EI e do EC é similar em indivíduos com pré-hipertensão e hipertensão, tanto sobre a PA sistólica (-6,3 versus -5,8 mmHg) quanto sobre a diastólica (-3,8 versus -3,5 mmHg) em repouso. 19 Em relação ao efeito anti-hipertensivo agudo do exercício, a presente revisão sugere superioridade do EI em relação ao EC tanto para a PA sistólica (~3mmHg) quanto para a diastólica (~1,3mmHg). Entretanto, é importante ressaltar que esse efeito foi observado entre 45 e 60 minutos pós-exercício. Portanto, exercício físico deve ser realizado com regularidade para que os benefícios crônicos sejam alcançados. Os achados deste estudo demonstraram que uma única sessão de exercício aeróbio é capaz de promover HPE em adultos, independentemente do estímulo realizado (EC ou EI). A magnitude da HPE foi relacionada a intensidade e natureza intervalada do exercício, de tal forma que o EI gerou maior HPE. No entanto, é importante destacar que existem diferentes formas de prescrição de EI, o que impossibilita a determinação de um protocolo que maximize a HPE. Apesar dos resultados interessantes e novos, essa revisão sistemática apresenta algumas limitações: i) apenas quatro bases de dados forampesquisadas para inclusão dos estudos; ii) poucos estudos foram incluídos nessa revisão; iii) os estudos incluídos envolveram uma pequena quantidade de participantes (10 a 30 indivíduos); iv) diferentes métodos de aferição da PA foram Tabela 3 - Análise da qualidade metodológica dos estudos incluídos Autores Qualidade do estudo Parcial (0 a 5) Qualidade do estudo Parcial (0 a 10) Total (0 a 15) 1 2 3 4 5 6 a 6 b 6 c 7 8 a 8 b 9 10 11 12 Costa et al. (2020) 1 1 1 1 0 4 1 0* - 1 1 1 1 NC 1 1 7 11 Pimenta et al. (2019) 1 1 0 1 0 3 1 1 - 1 1 1 1 NC 1 1 8 11 Boeno et al. (2019) 1 1 0 1 0 3 1 0* - 1 1 1 1 NC 1 1 7 10 Maya et al. (2018) 1 1 0 1 0 3 1 0* - 1 1 1 1 NC 1 1 7 10 Santos et al. (2018) 1 1 0 1 0 3 1 0* - 1 1 1 1 NC 1 1 7 10 Morales-Palomo et al. (2017) 1 1 0 1 0 3 1 0* - 1 1 1 1 NC 1 1 7 10 Costa et al. (2016) 1 1 0 1 0 3 1 0* - 1 1 1 1 NC 1 1 7 10 Graham et al. (2016) 1 1 0 1 0 3 1 0* - 1 1 1 1 NC 1 1 7 10 Angadi et al. (2015) 1 1 0 1 0 3 1 1 - 1 1 1 1 NC 1 1 8 11 Lacombe et al. (2011) 1 1 0 1 0 3 1 1 - 1 1 1 1 NC 1 1 8 11 Rossow et al. (2010) 1 1 0 1 0 3 1 0* - 1 1 1 1 NC 1 1 7 10 Mourot et al. (2004) 1 1 0 1 0 3 1 0* - 1 1 1 1 NC 1 1 7 10 * : estudos que não reportaram o número de desistências, porém todos finalizaram com o mesmo número de participantes que iniciaram a intervenção; 6c: não se enquadra, todos os estudos são de análise aguda; NC: sem grupo-controle. Qualidade dos estudos: 1 = critério de elegibilidade específico; 2 = tipo de randomização especificada; 3 = alocação ocultada; 4 = grupos similares no baseline ; 5 = os avaliadores foram cegados (pelo menos em um resultado principal); 6 = resultados avaliados em 85% dos participantes (6a = 1 ponto se concluíram mais de 85%; 6b = 1 ponto se os eventos adversos foram relatados; 6c = se for relatado atendimento ao exercício); 7 = intenção de tratar a análise estatística; 8 = comparação estatística entre os grupos foi relatada (8a = 1 ponto se comparações entre grupos são relatadas para a variável de desfecho primário de interesse; 8b = 1 ponto se comparações estatísticas entre grupos são relatadas para pelo menos uma medida secundária); 9 = medidas pontuais e medidas de variabilidade para todas as medidas de resultado que foram relatadas; 10 = monitoramento da atividade no grupo-controle; 11 = a intensidade relativa ao exercício permaneceu constante; 12 = o volume do exercício e o gasto de energia foram relatados. Fonte : elaboração do Autor. Recife, 2019. 11

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