ABC | Volume 115, Nº1, Julho 2020

Relato de Caso Infecção pelo SARS-Cov-2 e Tromboembolismo Pulmonar – Comportamento Pró - Trombótico da COVID-19 SARS-Cov-2 Infection and Pulmonary Thromboembolism – The Prothrombotic State in COVID-19 Hellen Dutra Passos, 1 Mariana Carvalho Alves, 1 Leonardo Baumworcel, 1 João Paulo Cerqueira Vieira, 1 Juliane Dantas Seabra Garcez, 1, 2 A ntônio Carlos Sobral Sousa 1,2,3, 4 Clínica e Hospital São Lucas/Rede D’Or, 1 São Luiz, Aracaju, SE - Brasil Divisão de Cardiologia do Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe, 2 São Cristovão, Sergipe, Brasil Departamento de Medicina da Universidade Federal de Sergipe, 3 São Cristovão, SE - Brasil Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal de Sergipe, 4 São Cristovão, Sergipe, Brasil Introdução A COVID-19, causada pelo novo coronavírus, o qual foi batizado pela OMS de “SARS-CoV-2” (sigla em inglês para Severe Acute Respiratory Syndrome CoronaVirus 2) espalhou-se pelo planeta com uma velocidade surpreendente. 1 No Brasil, o seu risco de alastramento (R 0 ) tem sido de aproximadamente 3.0, o que explica a sua rápida disseminação por todos os Estados da União. 2 Portadores de doenças cardiovasculares, hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, doença pulmonar obstrutiva crônica e os imunodeprimidos têm maior probabilidade de desfechos adversos. 3 Uma incidência relativamente alta de doença trombótica e tromboembólica tem sido observada em portadores de COVID-19, provavelmentedecorrentede efeitos diretos do SARS- CoV-2 ou por mecanismos indiretos da própria infecção. Ainda, interações medicamentosas entre terapias contra COVID-19 e agentes antiplaquetários ou anticoagulantes, e a interrupção inadvertida de drogas anticoagulantes podem, também, contribuir para o estado pró-trombótico encontrado nesta doença. 4 Objetivos Descrição de caso de paciente diagnosticado com infecção pelo SARS-CoV-2 evoluindo com tromboembolismo pulmonar sem evidência de trombose periférica. Métodos As informações contidas neste relato clínico foram obtidas mediante revisão de prontuário eletrônico, registro de exames complementares e revisão de literatura. Relato de Caso Paciente I.M.S., do sexo masculino, de 66 anos, procurou o setor de urgência de um hospital geral em Aracaju – SE, Brasil, em 28/03/2020, com quadro de congestão nasal, tosse seca, astenia, náusea e febre (chegando a 40º C), iniciados há oito dias, que havia se intensificado nas últimas 48 horas. Referiu ter realizado implantes dentários na cidade do Rio de Janeiro no início de março e retornado a Aracaju dia 18/03/2020. Nega comorbidades significativas, alergias ou uso regular de medicamentos. Cirurgia prévia de osteossíntese de úmero esquerdo há 16 anos, ex-tabagista (cessou há > 10 anos), é praticante regular, de atividade física. Ao exame físico, chamava a atenção apenas a presença de roncos difusos e sibilos inspiratórios na ausculta pulmonar. Encontrava-se eupneico, acianótico e estável do ponto de vista hemodinâmico. Foi, então, aventada a hipótese de COVID-19 e solicitados: 1) exames laboratoriais de rotina, evidenciando-se apenas proteína C reativa discretamente elevada, com demais parâmetros dentro da normalidade (incluindo marcadores de lesão miocárdica); 2) RT-PCR por swab orofaríngeo; e 3) realizada tomografia do tórax (Figura 1) que evidenciou áreas com atenuação em vidro fosco, predominando em periferia e sendo mais evidente em segmentos inferiores, acometendo menos que 50% do parênquima pulmonar. O eletrocardiograma (ECG) foi considerado dentro dos parâmetros de normalidade, com ritmo sinusal e frequência cardíaca de 65bpm. Por se tratar de idoso com acometimento pulmonar, o paciente foi internado em isolamento, na Unidade de Terapia Intensiva, com o diagnóstico de pneumonia viral, provavelmente por SARS-CoV-2. Foi iniciada terapia com Oseltamivir 150mg/dia, Azitromicina 500mg/dia e Ceftriaxona 2g/dia e associado profilaxia para trombose venosa com enoxaparina 40mg/ dia. Após 24h de internação, o paciente evoluiu com piora progressiva do padrão respiratório, culminando em insuficiência respiratória aguda, sendo necessária a intubação orotraqueal no segundo dia de hospitalização. Apresentou, também, quadro clínico de choque, recorrendo ao uso de droga vasoativa. Diante da piora hemodinâmica e como resultado da RT-PCR negativo para SARS-CoV-2, foi solicitado um ecocardiograma transesofágico (ETE) para afastar endocardite infecciosa. O ETE, realizado dia 02/04/2020, revelou: a) aumento do ventrículo esquerdo, o qual apresentava hipocinesia difusa Correspondência: Antônio Carlos Sobral Sousa • Centro de Ensino e Pesquisa do Hospital São Lucas/Rede D’Or - São Luiz, Av. Gonçalo Prado Rollemberg, 211, Sala 208. CEP 49010-410, Aracaju, SE - Brasil E-mail: acssousa@terra.com.br Artigo recebido em 04/05/2020, revisado em 06/05/2020, aceito em 14/05/2020 Palavras-chave Coronavirus; COVID-19; Embolia Pulmonar; Síndrome Respiratória Aguda Grave; Anticoagulantes; Diagnóstico por Imagem. DOI: https://doi.org/10.36660/abc.20200427 275

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