ABC | Volume 115, Nº1, Julho 2020

Imagem Lesão Miocárdica na COVID-19: Um Desafio para o Cardiologista Clínico Myocardial Injury in COVID-19: a Challenge for Clinical Cardiologists Roberto Cintra de Azevedo Aragão, 1, 2 M ariana Carvalho Alves, 2 Hellen Dutra Passos, 2 Luiz Flavio Galvão Gonçalves, 1,2 Leonardo Baumworcel, 2 José Augusto Soares Barreto-Filho 1, 2 Universidade Federal de Sergipe, 1 São Cristovão, SE - Brasil Hospital São Lucas Rede São Luiz D’or - Centro de Ensino e Pesquisa, 2 Aracaju, SE - Brasil Correspondência: Roberto Cintra de Azevedo Aragão • Universidade Federal de Sergipe - Departamento de Medicina - Av. Marechal Rondon, s/n. CEP 49100-000, Jardim Rosa Elze, São Cristovão, SE – Brasil E-mail: robertocaa@hotmail.com Artigo recebido em 06/05/2020, revisado em 16/05/2020, aceito em 21/05/2020 Paciente masculino, 39 anos, sem comorbidades prévias, deu entrada no serviço de urgência com queixa de dor torácica de forte intensidade, associada a náuseas, sudorese e leve desconforto respiratório. A dor era de característica opressiva e irradiava para ambos os ombros. Relatava que há 2 dias iniciou quadro de astenia, inapetência e febre (38,9 ºC), evoluindo com lesões de pele eritematosas polimórficas no dorso, há 1 dia da admissão. Exame físico revelou o seguinte: PA = 140/100 mmHg, FC = 90 bpm, afebril, SpO 2 = 98% em ar ambiente, ritmo cardíaco regular em 2 tempos, sem sopros, pulmões limpos, com boa perfusão periférica e sem edema. Eletrocardiograma evidenciou ritmo sinusal e supradesnivelamento do segmento ST nas derivações precordiais de V2 a V6 (Figura 1). Exames laboratoriais demonstraram o seguinte: troponina I = 25,20 ng/mL (valor normal [VN]: até 0,034 ng/ml), peptídeo natriurético cerebral = 1.460 pg/mL (VN: até 125 pg/ml), d-dímero = 104 ng/ml (VN: até 400 ng/ml), hemoglobina = 14,3 g/dl, leucócitos = 7.020 mm 3 (78,1% neutrófilos e 9,7% linfócitos), plaquetas 145.000 e creatinina 0,6 mg/dl. As sorologias para HIV e citomegalovírus foram negativas, assim como a pesquisa do antígeno NS1. O paciente recebeu dupla anti-agregação plaquetária com ácido acetilsalicílico 200 mg e ticagrelor 180 mg, sendo encaminhado para o serviço de hemodinâmica, onde foi submetido à cineangiocoronariografia que demonstrou coronárias com discretas irregularidades parietais difusas, isentas de ateromatose significativa. Tomografia computadorizada de tórax evidenciou tênues áreas focais com opacidade em vidro fosco, isoladas na periferia do segmento basal posterior do lobo inferior direito (comprometimento < 25%), achado que pode ser visto em casos de pneumonia viral, porém não específico. Ecocardiograma evidenciou hipocinesia do segmento médio da parede ântero-septal, com fração de ejeção preservada (62%) e mínimo derrame pericárdico difuso. As câmaras cardíacas estavam dentro dos limites da normalidade. No terceiro dia após início dos sintomas, foi coletado swab oral e nasal para pesquisa de PCR-RT para COVID-19, que resultou positivo. Para elucidação diagnóstica do caso, optou-se por realizar ressonância magnética do coração que mostrou realce tardio meso-epicárdico envolvendo paredes inferior, ínfero- lateral e ântero-lateral, associado a hipersinal em T2, com discreta extensão para pericárdio adjacente, compatível com miopericardite aguda (Figura 2). O paciente foi internado inicialmente na unidade de terapia intensiva. Evoluiu em bom estado geral, assintomático e recebeu alta hospitalar no oitavo dia, em uso de betabloqueador e inibidor do receptor da angiotensina AT1. Diante da pandemia pelo novo coronavírus, já é possível evidenciar a correlação entre a COVID-19 e as complicações cardiovasculares desta doença. 1,2 Nesse contexto, o acometimento cardiovascular como condição de alta morbi- mortalidade vem se mostrando com grande variabilidade de apresentações, sobrepondo-se às manifestações da COVID-19, 3-5 sendo então necessária a avaliação cardiológica inicial e regular no seguimento dos pacientes infectados, a fim de minimizar desfechos desfavoráveis. No caso em questão, foi observado que um paciente jovem, sem fatores de risco, também pode ser alvo de complicações cardíacas no curso da infecção pelo novo coronavírus. Ainda serão necessários maiores estudos para que haja melhor elucidação dos fatores preditores e desfechos deste acometimento. Contribuição dos autores Concepção e desenho da pesquisa e Obtenção de dados: Aragão RCA, Alves MC, Passos HD; Análise e interpretação dos dados e Redação do manuscrito: Aragão RCA, Barreto‑Filho JAS; Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Aragão RCA, Gonçalves LFG, Baumworcel L, Barreto-Filho JAS. Potencial conflito de interesses Declaro não haver conflito de interesses pertinentes. Fontes de financiamento Opresente estudo não teve fontes de financiamento externas. Palavras-chave Doenças Cardiovasculares; Dor torácica; Lesão Cardíaca; Miocardite; Coronavirus; COVID-19; Pandemia. DOI: https://doi.org/10.36660/abc.20200434 272

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