ABC | Volume 115, Nº1, Julho 2020

Artigo de Revisão Síndrome Cardiorrenal Aguda: Qual Critério Diagnóstico Utilizar e sua Importância para o Prognóstico? Acute Cardiorenal Syndrome: Which Diagnostic Criterion to Use And What is its Importance for Prognosis? Andréa de Melo Leite, 1,2, 3 Bruno Ferraz de Oliveira Gomes, 2 A ndré Casarsa Marques, 2 João Luiz Fernandes Petriz, 2 Denilson Campos de Albuquerque, 2,3, 4 Pedro Pimenta de Mello Spineti, 4 Antonio José Lagoeiro Jorge, 1 Humberto Villacorta, 1 Wolney de Andrade Martins 1 Universidade Federal Fluminense - Faculdade de Medicina - Pós-graduação em Ciências Cardiovasculares, 1 Niterói, RJ – Brasil Rede D’Or São Luiz, 2 Rio de Janeiro, RJ – Brasil Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino, 3 Rio de Janeiro, RJ – Brasil Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 4 Rio de Janeiro, RJ – Brasil Resumo A indefinição de critérios diagnósticos para síndrome cardiorrenal aguda (SCRA) impacta em diferentes resultados prognósticos. Objetivou-se avaliar os critérios diagnósticos da SCRA e o impacto no prognóstico. Procedeu-se à revisão sistemática utilizando-se a metodologia PRISMA e os critérios PICO nas bases MEDLINE, EMBASE e LILACS. A pesquisa incluiu artigos originais do tipo ensaio clínico, coorte, caso-controle e meta-análises publicados no período de janeiro de 1998 até junho de 2018. Não foi encontrada na literatura nem nas diretrizes de insuficiência cardíaca uma definição clara dos critérios diagnósticos da SCRA. O critério diagnóstico mais comumente utilizado é o aumento da creatinina sérica de pelo menos 0,3 mg/dl em relação à basal. Entretanto, existem controvérsias na definição de creatinina basal e de qual deveria ser a creatinina sérica de referência dos pacientes críticos. Esta revisão sistemática sugere que os critérios de SCRA devem ser revistos para que se inclua o diagnóstico de SCRA na admissão hospitalar. A creatinina sérica de referência deve refletir a função renal basal antes do início da injúria renal aguda. Introdução A insuficiência cardíaca (IC) é um desafio clínico e um problema epidemiológico em progressão em todo o mundo, com elevada morbimortalidade. 1 No estudo ARIC, 2 as taxas de letalidade em 30 dias, 1 ano e 5 anos após hospitalização por IC foram 10,4%, 22,0% e 42,3%, respectivamente. O I Registro Brasileiro de Insuficiência Cardíaca (BREATHE), 3 estudo observacional com 1263 pacientes de diferentes regiões do Brasil, mostrou uma mortalidade hospitalar de 12,6%. A síndrome cardiorrenal, definida como um processo de injúria renal ocasionada por IC, foi descrita pela primeira vez em 1951 4 e categorizada no ano de 2008 em cinco subtipos (Tabela 1). 5 A síndrome cardiorrenal tipo 1, ou síndrome cardiorrenal aguda (SCRA), caracteriza-se pela injúria renal aguda (IRA) ocasionada por IC descompensada (ICD). Alguns autores referem-se à SCRA por piora da função renal no paciente com IC ( Worsening Renal Function - WRF ). Este fenômeno é uma condição frequente, acometendo 11% a 40% das internações por ICD. 6,7 A piora da função renal é avaliada pelo aumento da creatinina sérica, geralmente >26,5 μmol/l, equivalente a 0,3 mg/dl, e/ou aumento de 25% na creatinina ou queda de 20% na taxa de filtração glomerular (TFG). 8 O critério de aumento absoluto da creatinina em 0,3 mg/dl tem sido adotado pela maioria dos autores como ponto de corte arbitrado para definir a SCRA. O registro norte-americano ADHERE 9 é um estudo observacional com mais de 100 mil pacientes admitidos com ICD. Nesse registro, aproximadamente 35% dos pacientes apresentaram disfunção renal moderada a grave. A piora da função renal ocorre em 30% a 50% dos casos de ICD, dependendo da definição utilizada, e está associada com maior tempo de hospitalização, despesas de saúde elevadas e maior mortalidade. 10-14 Entretanto, a ausência de Palavras-chave Síndrome Cardiorrenal; Insuficiência Renal; Creatinina; Prognóstico; Insuficiência Cardíaca; Revisão Sistemática. Correspondência: Andréa de Melo Leite • Universidade Federal Fluminense - Faculdade de Medicina – Pós-graduação em Ciências Cardiovasculares – Av. Marquês do Paraná, 303. CEP 24230-030, Niterói, RJ – Brasil E-mail: andreamelo@cardiol.br, andreamelocardiologia@gmail.com Artigo recebido em 05/04/2019, revisado em 04/08/2019, aceito em 18/08/2019 DOI: https://doi.org/10.36660/abc.20190207 Tabela 1 – Subtipos de síndrome cardiorrenal Tipo Nome Mecanismo 1 SCR aguda IRA induzida por disfunção cardíaca aguda 2 SCR crônica IRA progressiva secundária à IC crônica 3 Síndrome renocárdica aguda IC aguda precipitada por IRA 4 Síndrome renocárdica crônica IC secundária à IRC 5 SCR secundária Disfunção miocárdica e renal por doenças sistêmicas SCR: síndrome cardiorrenal; IRA: injúria renal aguda; IRC: insuficiência renal crônica; IC: insuficiência cardíaca.Adaptado de Di Lullo et al. 40 127

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