ABC | Volume 115, Nº1, Julho 2020

Artigo de Revisão Costa et al. Imagem Cardiovascular e Procedimentos Intervencionistas Arq Bras Cardiol. 2020; 115(1):111-126 Os achados da TC variam de acordo com o tempo da doença. Na fase inicial, 57-98% dos pacientes vão apresentar opacidades em vidro fosco, geralmente bilaterais, periféricas e arredondadas. 32 De 5% a 36% dos pacientes vão apresentar pavimentação em mosaico na fase de pico da doença (5 a 8 dias após o início dos sintomas). As consolidações estão presentes em 2% a 64% dos pacientes, comumente encontradas nos idosos e com a forma grave da doença. Na fase mais tardia, observam-se a presença de padrão reticular em 48% dos pacientes e a resolução das consolidações. 33,34 Outros achados de TC, mas com menor frequência, são: linhas subpleurais, broncogramas aéreos, linfonodomegalias, espessamento e derrame pleurais e derrame pericárdico. 35,36 4.3. Angiotomografia de Artérias Coronárias A ATAC pode ser utilizada nos pacientes com COVID-19 que evoluem com níveis elevados de troponina para exclusão de DAC. Nessa situação, a ATAC pode ser de grande ajuda para excluir ou confirmar uma síndrome coronariana aguda se o quadro clínico for incerto, substituindo a angiografia coronária invasiva e a exposição a ela associada de todos os membros da equipe do laboratório de cateterismo cardíaco. Outro papel importante e emergente da ATAC na pandemia é como substituta da ETE para descartar trombo no apêndice atrial esquerdo antes da cardioversão elétrica, limitando a exposição do ecocardiografista. 16 A Sociedade de Tomografia Computadorizada Cardiovascular lançou um guia de recomendações para auxiliar os médicos quando da realização dos exames de ATAC durante a pandemia, tendo em vista a necessidade de priorizar os exames urgentes e a TC de tórax nos pacientes com COVID-19. 37 Nas seguintes situações, os exames são considerados urgentes e devem ser realizados de 1 hora até 4 semanas: 37 • Dor torácica aguda com suspeita de DAC; • DAC estável em pacientes de risco para eventos ou preocupação de anatomia coronariana; • Paciente com necessidade urgente de correção de cardiopatia estrutural; • Avaliação do apêndice atrial esquerdo em pacientes com fibrilação atrial aguda antes da reversão para ritmo sinusal; • Avaliação de cardiomiopatia em paciente com probabilidade pré-teste baixa de DAC, em que a ATAC mudará a conduta; • Avaliação de disfunção de dispositivos de assistência ventricular; • Disfunção sintomática de prótese valvar, endocardite com acometimento perivalvar e suspeita de abscesso; • Novo tumor cardíaco com suspeita de etiologia maligna; • Necessidade de descartar trombo intracavitário. Os procedimentos ambulatoriais considerados eletivos podem ser reagendados para momento oportuno, entre 4 e 8 semanas. 37 Entretanto, é recomendável que se tenha cautela na avaliação de quais procedimentos podem ser adiados. Pode-se considerar o uso da telemedicina no auxílio à decisão e avaliação dos critérios. A Figura 2 sumariza as recomendações que podem auxiliar na decisão de realização ou adiamento dos exames. A ATAC deve ser considerada em pacientes estáveis, sendo em geral necessária a administração de fármacos para controle da frequência cardíaca e vasodilatores coronarianos. Idealmente, deve-se optar por protocolos com baixa dose de radiação e de contraste. 38 Importante observar e descrever no laudo dos exames os achados pulmonares que possam auxiliar no manejo clínico do paciente. 4.4. Ressonância Magnética Cardíaca A RMC pode ter importância na investigação etiológica de disfunção ventricular nova observada nos pacientes com COVID-19. Pacientes com troponinas positivas, disfunção miocárdica e arritmia grave/alterações eletrocardiográficas não explicadas por outros métodos podem ser candidatos à realização de RMC.16 Miocardite e síndrome de Takotsubo são etiologias sugeridas da disfunção ventricular relacionada ao SARS-CoV-2. 23,25,39,40 O diagnóstico de miocardite segue o mesmo critério das outras etiologias, habitualmente utilizando-se os critérios diagnósticos de Lake Louise, nos quais observam-se a presença de disfunção ventricular global ou segmentar, edema miocárdico, pericardite e/ou realce tardio de padrão não isquêmico. 41-43 A função ventricular esquerda pode estar preservada em alguns pacientes commiocardite. 43 O protocolo recomendado deve ser o mais curto possível, objetivando responder às perguntas do clínico. 44 Quanto aos exames eletivos, seu adiamento pode ser considerado se o médico requisitante julgar que não gera risco adicional à saúde do paciente. É necessário que o médico responsável pela realização do exame entre em contato com o solicitante para que a decisão de adiamento seja a opção mais segura para o paciente (Figura 3). Em se decidindo pela realização do exame, o menor número de profissionais deve estar em contato com o paciente. Medidas de precaução devem ser tomadas durante todo o exame e o transporte. 16 Os profissionais devem ser treinados para o uso correto de EPI. Se possível, deve haver apenas umaparelho dedicado aos pacientes comCOVID-19 suspeita ou confirmada. A limpeza do aparelho e da sala deve ser feita após a realização dos exames. 45 5. Procedimentos Intervencionistas A pandemia pela COVID-19 representa um desgaste sem precedentes nos sistemas de saúde em todo o mundo, mais do que nunca exigindo eficiência na utilização de recursos e aumentando a busca por assistência justa, consistente, ética e eficiente. A decisão de realizar um procedimento de cardiologia intervencionista durante uma pandemia precisa levar em consideração os riscos de exposição viral da equipe de saúde, a utilização desnecessária de recursos e o potencial benefício do método. 5.1. Recursos Humanos Recomendamos que cada unidade tome as medidas apropriadas para separar trabalhadores em grupos para que possíveis quarentenas possam ser aplicadas a grupos dentro 116

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