ABC | Volume 114, Nº6, Junho 2020

Ponto de Vista Síndromes Coronarianas Agudas no Contexto Atual da Pandemia COVID-19 Acute Coronary Syndromes in the Current Context of the Covid-19 Pandemic Raphael Boesche Guimarães, 1 Breno Falcão, 2,3 Ricardo Alves Costa, 4,5 Marcelo Antônio Cartaxo Queiroga Lopes, 6 Roberto Vieira Botelho, 7 Ricardo Petraco, 8 Rogério Sarmento-Leite 1,9,1 0 Instituto de Cardiologia, 1 Porto Alegre, RS - Brasil Hospital de Messejana, 2 Fortaleza, CE - Brasil Hospital Universitário Walter Cantídeo, 3 Fortaleza, CE - Brasil Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, 4 São Paulo, SP - Brasil Hospital Sírio-Libanês, 5 São Paulo, SP - Brasil Hospital Alberto Urquiza Wanderley, 6 João Pessoa, PB - Brasil Instituto do Coração do Triângulo, 7 Uberlândia, MG - Brasil Imperial College London, 8 Londres, Inglaterra Hospital Moinhos de Vento Porto Alegre, 9 RS - Brasil Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, 10 Porto Alegre, RS - Brasil Introdução A COVID-19, descrita inicialmente no final de 2019 na China, pode, nas formas graves, cursar como pneumonia atípica e síndrome do desconforto respiratório grave. 1 Classificada em fevereiro de 2020 como pandemia 2 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), tem determinado importantes repercussões clínicas, sociais, políticas e econômicas, deixando marcas, consequências e aprendizados. A sociedade como um todo teve que se adaptar à uma nova realidade. Hospitais precisaram reescrever suas rotinas e procedimentos operacionais. A criação de cuidados especiais para evitar a disseminação interna dos vetores de contaminação tornou-se imperativa. Unidades dedicadas à COVID foram montadas, e ações protocolares de biossegurança foram instaladas. Recursos humanos, materiais e financeiros foram alocados no intuito de proporcionar a melhor qualidade assistencial possível, sem prejuízo à segurança das equipes. O isolamento social, principal forma de conter a disseminação da doença, permitiu, em algumas localidades, o “achatamento da curva”, evitando o esgotamento total do sistema de saúde. No entanto, ainda é uma incógnita a extensão de duração da doença, risco de contágio e manutenção de todos os cuidados. Os sintomas clássicos da COVID-19 são bem conhecidos, 3,4 e a maioria dos infectados tem apresentações clínicas brandas. Todavia, em virtude das recomendações das autoridades de saúde para procurar atendimento hospitalar somente em casos graves, literalmente, do medo da população de se expor ao vírus, o diagnóstico, o tratamento e o prognóstico de várias outras condições clínicas a que usualmente os seres humanos estão expostos também têm sido duramente impactados. Isso aumenta o sinal de alerta para questões inerentes ao manejo da síndrome coronariana aguda (SCA), que pode encontrar obstáculos no atual cenário mundial. 5 Não obstante a isso, indivíduos acima de 60 anos de idade ou que tenham doenças respiratórias, cardiovasculares prévias ou diabetes estão mais propensos a desenvolver as formas graves da COVID-19, podendo ter o seu sistema cardiovascular comprometido e sofrer manifestações de miocardite ou infartos do tipo II e fenômenos tromboembólicos. 6,7 Experiências Internacionais Experiências internacionais de países que nos antecederam na aparição de casos apontaram associações importantes entre a COVID-19 e a doença cardiovascular. Portadores de doença cardiovascular ou cerebrovascular acometidos por COVID-19 representam cerca de 40% dos casos graves e têm pior prognóstico. 8 Em pacientes com COVID-19, contrastando com uma taxa de fatalidade por caso geral de 2,3%, a taxa de fatalidade por caso entre os portadores de doença cardiovascular preexistente foi de 10,5% e, entre os diabéticos, de 7,3%. 9 Manifestações cardiológicas atribuídas à COVID-19 também foram reportadas. Arritmias ocorreram em 16,7% e lesão miocárdica aguda em 7% dos casos, 10 com elevações de troponina registradas, particularmente nos casos mais graves. 11 Além dessas associações diretas, “efeitos colaterais” da pandemia de COVID-19 no atendimento de SCA geraram preocupação. Registrou-se queda brusca na procura por atendimento ao pronto-socorro cardiológico pelos pacientes com SCA, possivelmente relacionada com o medo de contrair a infecção no ambiente hospitalar, que pode redundar em Correspondência: Rogério Sarmento-Leite • Instituto de Cardiologia - Avenida Princesa Isabel, 395. 90620-000, Porto Alegre, RS – Brasil rsl.sarmento@gmail.com Artigo recebido em 21/04/2020, revisado em 24/04/2020, aceito em 29/04/2020 Palavras-chave Síndrome Coronariana Aguda/complicações; Coronavirus; COVID-19; Pandemia; Infarto Agudo doMiocárdio/prevenção e controle; Telemedicina/tendências; Quarentena. DOI: https://doi.org/10.36660/abc.20200358 1067

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