ABC | Volume 114, Nº6, Junho 2020

Artigo Original Velten et al. Hipotensão ortostática e variação pressórica: ELSA Arq Bras Cardiol. 2020; 114(6):1040-1048 média de idade maior (56,5 anos na categoria de menor escolaridade e de 51,9 na de maior, na população total; na subamostra essas médias foram de 53,4 anos e de 49,3 anos, respectivamente). Com relação à presença de sintomas, observamos que a prevalência de HO é significantemente maior quando algum sintoma característico de queda no fluxo sanguíneo cerebral é relatado, principalmente quando a queda ocorre em ambas as pressões. No Cardiovascular Health Study, 18 20% dos indivíduos com HO apresentaram sintomas e no Rotterdam Study 30 este indicador foi de 13,9%. Esses valores são próximos aos detectados no ELSA-Brasil, confirmando que a HO é assintomática na maioria dos indivíduos. A presença de sintomas é relevante para iniciar novas avaliações diagnósticas e tomar decisões terapêuticas. No entanto, não há diretrizes sobre a tomada de decisões clínicas nos portadores de HO, mas sem sintomas. 31 A distribuição dos deltas das pressões resultaramemescores-Z de −2 a −14,09 mmHg para a PAS e de −5,39 mmHg na PAD na subamostra de pacientes sem a presença de hipertensão (medicados ou não), diabetes, histórico de insuficiência cardíaca, doença coronária grave, infarto ou AVC. Rose et al., 5 emamostra de 6.951 participantes, após a exclusão dos hipertensos, encontraram valor semelhante no percentil 5 da queda da PAS (−15,25 mmHg) mesmo utilizando um método diferente. Ressalta-se que os documentos que definiram a HO 6,7 relatam o ponto de corte de −20 mmHg na PAS e −10 mmHg na PAD. Considerando que a variação pressórica apresenta distribuição gaussiana, os pontos de corte atualmente recomendados para definir presença deHOestariamalémdaqueles previstos por um critério estatístico padrão, isto é, considerar variação excessiva os indivíduos que se situam nos 5% inferiores de distribuição da curva. A definição de ponto de corte alémdeste limite aumenta a probabilidade de falsos negativos, ou seja, indivíduos portadores de HO que não receberiam este diagnóstico e a orientação adequada em função do estabelecimento de pontos de corte com base empírica e não com achados experimentais. Com relação à prevalência de HO, considerando o critério de uma queda ≥ 30 mmHg em hipertensos, nota-se pequena diminuição da prevalência (de 2% para 1,5%), obviamente pelo deslocamento para a esquerda do ponto de corte. A sugestão de 30 mmHg é justificada na diretriz 6 devido à maior PA inicial dos hipertensos. Entretanto, nos hipertensos do ELSA, menos da metade apresentava PA não controlada, ficando a dúvida em como proceder nessa situação, já que a mesma não é abordada na definição. Não encontramos alusão sobre a prevalência em hipertensos utilizando esse critério em outros estudos. Sobre a prevalência nas demais medidas, destaca-se que houve aumento como passar do tempo, e quemuitos indivíduos apresentaramHO somente emuma das três medidas pressóricas. A prevalência simultânea nos três momentos foi de apenas 0,6%, tendo também relação com o envelhecimento, e 4,3% em qualquer um dos momentos. Uma análise associativa com os principais fatores relacionados à HOencontrados na literatura pode indicar qual(s) o(s) momento(s) mais adequado(s) para avaliação da HO nessa população. Sobre a presença de sintomas e a prevalência de HO nos três momentos, os indivíduos que tiveram HO aos 3 minutos foram os que mais relataram sintomas. Vale lembrar que não há informação sobre o momento exato do relato, podendo o sintoma ter sido relatado/ocorrido logo após a ortostase ou mais próximo à medida pressórica de 5 minutos. A presença de sintomas, principalmente tontura e síncope, pode ter grande impacto na saúde dos indivíduos, já que pode afetar sua mobilidade e segurança. A extensão dos achados da nossa amostra para a população geral deve ser feita com cautela por tratar-se de uma coorte profissional. Entretanto, a amostra é grande para permitir análises de subgrupos e grande parte do espectro de variação de idade, raça/cor e escolaridade existente na população brasileira está representada em ambos os sexos. Portanto, na ausência de dados populacionais, os dados do ELSA constituem atualmente a melhor referência para a presença de HO na população brasileira. Conclusão A prevalência de HO em uma amostra de trabalhadores públicos brasileiros foi de cerca de 2% ao se levar em consideração as medidas pressóricas obtidas 3 minutos após adoção da ortostase. A prevalência é igual em ambos os sexos e a idade é o fator que mais influi na prevalência. A medida pressórica aos 3 minutos após adoção de ortostase é a que melhor se correlaciona com a presença de sintomas. Os atuais pontos de corte (-20 mmHg na PAS e -10 mmHg na PAD) podem subestimar a real ocorrência de HO na população. Contribuição dos autores Concepção e desenho da pesquisa e revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Velten APC, Bensenor I, Lotufo P, Mill JG; Obtenção de dados e obtenção de financiamento: Bensenor I, Lotufo P, Mill JG; Análise e interpretação dos dados: Velten APC, Bensenor I, Mill JG; Análise estatística: Velten APC; Redação do manuscrito: Velten APC, Mill JG. Potencial conflito de interesses Declaro não haver conflito de interesses pertinentes. Fontes de financiamento O presente estudo foi financiado pelo Ministério da Saúde e Ministérios da Ciência e Tecnologia. Vinculação acadêmica Este artigo é parte de tese de Doutorado de Ana Paula Costa Velten pela Universidade Federal do Espírito Santo. Aprovação ética e consentimento informado Este estudo foi aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) sob o número de protocolo CAAE 0016.1.198.000-06. Todos os procedimentos envolvidos nesse estudo estão de acordo com a Declaração de Helsinki de 1975, atualizada em 2013. O consentimento informado foi obtido de todos os participantes incluídos no estudo. 1047

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