ABC | Volume 114, Nº6, Junho 2020

Artigo Original Velten et al. Hipotensão ortostática e variação pressórica: ELSA Arq Bras Cardiol. 2020; 114(6):1040-1048 anos versus 49,1 ± 8,2 anos, respectivamente; p < 0,01). As prevalências de HO nestes dois grupos foram, respectivamente, de 2,0% (IC 95%: 1,8 – 2,3) e 1,5% (IC 95% : 1,3 – 1,8). Considerando em toda a população os indivíduos com menos de 60 anos e com 60 anos ou mais, a prevalência de HO foi de 1,6% (IC 95% : 1,4 – 1,9) e 3,2% (IC 95% : 2,8 – 4,1), respectivamente. Na subamostra, esses valores foram 1,4% (IC 95% : 1,1 – 1,7; média de idade = 47,2 anos) e 2,6% (IC 95% : 1,8 – 3,8; média de 64,3 anos), respectivamente. O efeito da idade fica mais claro agrupando-se os indivíduos por décadas. Observa-se que a prevalência abaixo de 55 anos é praticamente idêntica na população total e na subamostra. A partir desta idade, a subamostra apresenta prevalências menores. Outro fator com impacto na prevalência foi a escolaridade, havendo aumento progressivo da prevalência entre os participantes de menor escolaridade, tanto na população total como na subamostra. Foram referidas alterações de protocolo em 775 (5,2%) indivíduos. Em 33,7% destes casos (260 indivíduos ou 1,8% da população total), relatou-se a ocorrência de sinais e sintomas sugestivos de HO (tontura, dificuldade em permanecer em pé sem apoio, náuseas, e mais raramente vômito). As mudanças de protocolos nos demais casos decorreram, em geral, de limitações físicas que dificultavam a realização da manobra, uso do braço ou perna esquerda (ITB), e do esfigmomanômetro de mercúrio. O relato de sintomas associados à HO ocorreu em apenas 1,4% (IC 95% : 1,2 – 1,6) dos indivíduos sem HO, valor este que subiu para 19,7% (IC 95% : 15,6 – 24,6) naqueles comHO e para 43% (IC 95% : 33,0 – 53,6) quando a HO era definida por queda de ambas as pressões. Os valores médios e o DP das variações das PAS e PAD na manobra postural em toda a coorte e na subamostra estão descritas por sexo e faixa etária na Tabela 2. Observa-se que, na média, as variações pressóricas são positivas, sem diferenças entre sexos e idade. A Figura 2A apresenta as variações pressóricas por faixa de diferença. Observa-se que geralmente essa oscilação situa-se de −10 a +10 mmHg na PAS e de aumentos de até 10 mmHg na PAD. Há aumento da PAS em 66,4% da população e em 88,0% da PAD. A Figura 2B contém o histograma das variações na subamostra. Estão sinalizados os valores da média menos dois DP e o atual valor de referência. As variações seguem distribuição normal e semelhante, e os pontos de corte atuais situam-se entre dois e três DP abaixo da média. A prevalência aos 3 minutos considerando o critério de queda de 30 mmHg nos indivíduos hipertensos foi de 1,5% (IC 95% : 0,3 – 1,7), totalizando 222 participantes. Ainda sobre a medida dos 3 minutos, considerando a queda em ambas as pressões, a prevalência situou-se em 0,6% (IC 95% : 0,5 – 0,7), queda somente na PAS prevalência em 1,6% (IC 95% : 1,4 – 1,8) e queda somente na PAD em 1,0% (IC 95% : 0,9 – 1,2). A Figura 3 apresenta o diagrama de Venn para a HO aos 2, 3 e 5 minutos. Nota-se que 265 indivíduos tiveram HO aos 2 minutos, prevalência de 1,8% (IC 95%: 1,6-2,0); e 385 indivíduos aos 5 minutos, 2,6% (IC 95%: 2,4-2,9). Em toda amostra, 94 indivíduos apresentaramHO em todas as medidas. Novamente não se observou diferença significativa entre sexos e raça/cor, mas houve uma progressão importante com a idade e com níveis mais baixos de escolaridade. A presença de sintomas relacionados à HO foi relatada em 10,2% (IC 95%: 7,1 – 14,4) dos que apresentaram HO aos 2 minutos e 17,4% (IC 95% : 13,9 – 21,5) dos que apresentaram aos 5 minutos. A prevalência de HO considerando a existência de queda pressórica aos 2 ou 3 minutos sobe para 2,9% (IC 95%: 2,7 – 3,2) e alcança 4,3% (IC 95% : 4,0 – 4,7) quando considerada queda pressórica empelo menos uma das três medidas. Na população acima de 60 anos esses valores seriam de 5,1% (IC 95% : 4,4 – 5,9) e 7,3% (IC 95% : 6,5 – 8,2), respectivamente. Discussão Em nosso conhecimento, esse é o primeiro estudo de prevalência de HO em uma grande amostra da população brasileira. Destaca-se que o valor de 2,0% encontrado foi similar em homens e mulheres e apresentou nítido crescimento com a idade, notadamente a partir dos 55 anos. Na subamostra gerada com menor influência de fatores confundidores, a prevalência caiu para 1,5%. Essa queda decorreu principalmente das diferenças nas faixas superiores a 55 anos. A comparabilidade de dados entre estudos sobreHOé difícil, dada a diversidade de características das populações, sobretudo no que diz respeito à faixa etária, e à heterogeneidade dos métodos utilizados na execução da manobra postural. Em populações não específicas, similares à geral, são encontradas prevalências que oscilam entre 2,73% 5 a 58,6%. 17 A mais baixa (2,73%) foi descrita nos participantes do Atherosclerosis Risk in Communities (ARIC) Study, cuja média de idade era de 53 anos, ou seja, similar à da linha de base do ELSA-Brasil. No ARIC a PA foi medida na posição supina e depois em pé a cada 30 segundos por 2 minutos, utilizando-se a média dessas medidas (exceto a primeira) para definir HO. Destaca-se que os participantes eram normotensos. Já para Cooke et al. (58,6%), 17 a média de idade era de 73 anos e a PA foi medida de modo contínuo (batimento a batimento), durante 3 minutos emmesa de tilt com inclinação de 70 o . A HO foi definida pela queda pressórica a qualquer momento durante o monitoramento, independente da duração. Assim, as diferenças de prevalência decorrem da diversidade de populações e de metodologia, tendo como traço comum apenas os pontos de corte da queda pressórica. Em nossa própria amostra considerando a queda pressórica de 2 ou de 3 minutos, ou a queda em qualquer medida, a prevalência cresce de 2,9% e 4,3%, respectivamente, sendo a última mais que o dobro da prevalência somente no terceiro minuto (2,0%) que tem sido o momento mais referido em estudos descritos na literatura. Há grande variação em relação ao tempo da medida. Há estudos medindo a PA após 3 minutos da ortostase; 18 após 1 e 3 minutos, considerando a queda em uma das duas medidas a partir da medida da posição supina; 19 ou da medida com o participante sentado; 20 medindo após 1 minuto; 3 ou após 1, 2 e 3 minutos 21 ou 1, 2 e 5 minutos, 22 considerando a queda em qualquer medida; medindo de forma contínua, considerando a queda entre 60 e 110 segundos; 23 existindo ainda outras variações. 11,24 A diretriz atual recomenda a definição pela queda pressórica dentro de 3 minutos 6 após a ortostase. Não há consenso, entretanto, sobre qual omelhor momento dentro deste período. 1043

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