ABC | Volume 114, Nº6, Junho 2020

Artigo Original Velten et al. Hipotensão ortostática e variação pressórica: ELSA Arq Bras Cardiol. 2020; 114(6):1040-1048 Introdução Estudos longitudinais têm mostrado que a hipotensão ortostática (HO) é preditor de aumento do risco de mortalidade geral e de outros agravos à saúde, como doença arterial coronariana e cerebrovascular, fibrilação atrial, insuficiência cardíaca e novos casos de hipertensão. 1-5 Diretrizes atuais definem a HO como a redução sustentada de 20 mmHg da Pressão Arterial Sistólica (PAS) e/ou de 10 mmHg da Pressão Arterial Diastólica (PAD) dentro de 3 minutos após a adoção da ortostase. 6 A mesma diretriz sugere uma redução de 30 mmHg na PAS em indivíduos hipertensos como o critério mais adequado. Desde a primeira definição de HO, 7 a quantidade de estudos investigando a prevalência desse achado na população geral tem sido pequena, havendo grande divergência na metodologia da medida da pressão arterial (PA) e até mesmo nos critérios de definição. A maior parte dos estudos tem sido realizada em populações específicas, como idosos, portadores de diabetes, hipertensão, doença de Alzheimer, indivíduos hospitalizados ou institucionalizados. 8 Mesmo sendo uma avaliação simples e barata, a medida da PA em manobra postural não é usual na prática clínica e poucos estudos epidemiológicos avaliaram essa medida, seus fatores associados e implicações no estado geral de saúde. A prevalência de HO encontrada em populações mais próximas da geral varia muito em função da idade, indo, em sua maioria, desde cerca de 5% (45 a 64 anos) até 30% em estudos apenas com idosos (> 65 anos). 4,9 Praticamente a totalidade dos estudos foi realizada em populações da América do Norte, 5,10 Europa 1,2 e Ásia, 11 e nenhum deles levou em consideração o critério de queda de 30 mmHg na PAS para hipertensos. O objetivo deste estudo foi determinar a prevalência de HO em uma população brasileira, verificar sua associação com sintomas e descrever a distribuição da variação da PA após a manobra postural. Métodos Desenho e população de estudo Trata-se de um estudo descritivo realizado com dados coletados na linha de base (2008-2010) do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil), com uma coorte de 15.105 servidores públicos de ambos os sexos, de 35 a 74 anos de idade, cujo objetivo principal foi de determinar a incidência de doenças crônicas e os seus determinantes na população brasileira. A pesquisa vem sendo conduzida em seis centros de investigação sediados em instituições públicas de ensino superior e pesquisa, sendo os participantes os servidores públicos, ativos ou aposentados, destas instituições. Detalhes sobre a amostragem, recrutamento e dados coletados na linha de base foram publicados anteriormente. 12,13 Neste estudo foram incluídos todos os participantes do ELSA- Brasil, exceto os que não possuíam dados completos da manobra postural. A amostra final foi composta por 14.833 indivíduos (Figura 1). Manobra postural e hipotensão ortostática Para a realização da manobra postural, o participante permanecia deitado por cerca de 20 minutos enquanto era submetido ao protocolo de aferição do índice tornozelo- braquial (ITB). Foram obtidas três medidas da PA no braço direito na posição supina com intervalo de dois minutos entre elas. Utilizou-se a média das duas últimas medidas como o valor da PA em supino. Em seguida, o aferidor instruía o participante a se levantar (se necessário com ajuda) e a manter postura ereta, com apoio apenas dos pés. A PA foi novamente medida aos 2, 3 e 5 minutos após adoção da ortostase, com o braço do participante sem apoio. 14 Em formulário próprio, o aferidor deveria anotar a presença de sintomas relatados espontaneamente (tontura, alterações visuais, náusea, etc.). Em função da intensidade dos sintomas, o protocolo podia ser alterado fazendo-se as medidas da PA na posição sentada. Figura 1 - Fluxograma do estudo. 1041

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