ABC | Volume 114, Nº6, Junho 2020

Minieditorial Zimerman Quanto menos, melhor Arq Bras Cardiol. 2020; 114(6):1027-1028 Não parece haver dúvidas de que o futuro aponta para ablações sem o uso de fluoroscopia, até mesmo porque questões éticas e jurídicas deverão impulsionar nessa direção. No entanto, quais são, atualmente, os obstáculos que dificultam o uso regular da técnica? Em primeiro lugar, é preciso lembrar situações nas quais ainda não se testou a técnica, e que parece de mais difícil aplicação, como na ablação epicárdica ou em arritmias relacionadas com cardiopatia congênita complexa. Em segundo lugar, o custo. Não são todos os seguros que cobrem o uso do ecocardiograma intracardíaco, e a maior parte dos pacientes não tem condições de arcar com esse custo. Em terceiro lugar, a inércia. A maior parte dos eletrofisiologistas está acostumada com as técnicas tradicionais (que obtêm bons resultados) e não está disposta a passar por uma nova curva de aprendizado. Para procedimentos como ablação de fibrilação atrial, não parece que esses obstáculos se sustentem frente aos benefícios da técnica. Creio que fica a dúvida com relação aos procedimentos de baixa complexidade, como a ablação de taquicardia supraventricular, que hoje são feitos com alto sucesso, raríssimas complicações e doses muito baixas de radiação. Se o ganho que se obtém com o mapeamento tridimensional e uso do ecocardiograma intracardíaco compensa o custo e a necessidade de se colocar uma bainha mais calibrosa para a sonda do ecocardiograma, ainda deverá ser mais bem-definido. A ablação sem fluoroscopia é um grande avanço, e já está pronta para ser implementada em grande escala. Contudo, como ocorre com todo grande avanço na ciência, já aguarda o próximo passo na evolução. Os procedimentos em geral estão sendo realizados progressivamente de formas menos invasivas. Cirurgias abertas são substituídas por procedimentos por cateteres e videolaparoscopia. Na área das arritmias cardíacas, ablações já estão sendo feitas sem a necessidade da colocação de cateteres, mas usando mapeamento por sistemas de eletrodos externos, e ablação por estereotaxia, com radiação por feixe externo (como a radioterapia). Inicialmente desenvolvida e descrita no tratamento das taquicardias ventriculares, 14 a técnica agora engatinha também para ser usada na ablação de fibrilação atrial. 15 A ablação é terapêutica indispensável e vai se manter como tratamento usual para taquiarritmias. A fluoroscopia, por sua vez, é danosa e vai ser eliminada por procedimentos eletrofisiológicos. O assunto é premente, e o interesse é mundial. É hora de aposentar o avental de chumbo. Aqui, ao contrário do que se costuma popularmente dizer, quanto menos, melhor. E se for zero, melhor ainda. 1. Rehani MM, Ortiz-Lopez P. Radiation effects in fluoroscopically guided cardiac interventions: Keeping them under control. Int J Cardiol. 2006; 109(2):147-51. 2. 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