ABC | Volume 114, Nº6, Junho 2020

Artigo Original Yang et al. Doença arterial coronariana associada à quimioterapia Arq Bras Cardiol. 2020; 114(6):1004-1012 SXescore e investigou a relação entre a quimioterapia e a complexidade anatômica da DAC dentre pacientes com câncer de pulmão. Os resultados mostraram que tanto a taxa do SXescore quanto a do SXalto foram significativamente maiores nos pacientes que foram submetidos à quimioterapia, quando comparados com pacientes que não foram. A análise de regressão logística multivariada Stepwise mostrou que o risco de CAD anatômica mais grave aumenta devido à quimioterapia como um todo em 5,323 vezes, e com os regimes à base de platina, em 5,850 vezes. Os resultados indicam que a quimioterapia está associada com a complexidade anatômica e a gravidade da DAC, o que pode, ao menos em parte, explicar a morbidade mais elevada a longo prazo da DAC associada à quimioterapia, inclusive o infarto do miocárdio. 26 Até onde sabemos, nenhum outro estudo semelhante de grande porte detectou quantitativamente a associação entre a quimioterapia e a gravidade e complexidade anatômica da DAC dentre pacientes com câncer de pulmão. Embora a DAC associada à quimioterapia esteja se tornando uma questão emergente, o mecanismo subjacente da DAC associada à quimioterapia permanence desconhecido. Os eventos agudos da artéria coronária que ocorreram logo após a administração de agentes quimioterápicos foram decorrentes possivelmente de trombose aguda ou vasoespasmo. 3,8 Nosso estudo indicou que os eventos coronários a longo prazo associados à quimiterapia podem ser decorrentes de anomalias anatômicas mais graves induzidas por agentes quimioterápicos. No presente estudo, cerca de 90% dos pacientes tinham câncer de pulmão em células não pequenas, e os outros pacientes tinham câncer de pulmão em células pequenas. A maioria dos regimes de quimioterapia dos pacientes do estudo envolvia mais de um agente quimioterápico, a maioria dos quais contêm platina. A platina foi a base da quimioterapia para a maioria dos pacientes. Cinco pacientes receberam gefitinibe. No estudo, um paciente recebeu antraciclina, que é conhecida por seu efeito cardiotóxico. É razoável determinar que as células endoteliais desempenham um papel importante durante a patogênse da DAC anatômica crônica, e a lesão endotelial induzida por agentes quimioterápicos pode ser a causa central da DAC associada à quimioterapia. Cada paciente do estudo recebeu vários agentes quimioterápicos. Desse modo, foi difícil deduzir qual deles desempenhou o papel mais importante no desenvolvimento da DAC associada à quimioterapia. Já que a platina é o agente mais utilizado, talvez ela seja um dos agentes mais importantes que precisam de estudos adicionais para ilustrar o mecanismo subjacente da DAC associada à quimioterapia. A radioterapia desempenha um papel fundamental no tratamento do câncer de pulmão. 27 Estudos anteriores demonstraram o efeito da radiação sobre as doenças do coração. 20,28-30 No presente estudo, ambos o SXescore e o percentual do SXalto foram mais altos no grupo com radioterapia do que no grupo sem radioterapia, mas não houve diferenças significativas entre os dois grupos. Na análise de regressão logística, a OR da radioterapia para o SXalto foi 2,112 (95% IC, 0,790–5,646), o que indica a probabilidade de a radioterapia aumentar a complexidade das artérias corronárias. Porém, os resultados não mostraram diferenças significantes. Os dados ambíguos podem ser o resultado da menor amostra de pacientes que receberam radioterapia dentre a população estudada. Com base nos resultados já mencionados, talvez possamos afirmar que a quimioterapia pode desempenhar um papel mais importante do que se pensa atualmente no que diz respeito à DAC. Entretanto, nós não podemos afirmar que a quimioterapia é pior que a radiografia em termos de DAC, principalmente devido à pequena amostra, sem dados individuais suficientes para cada agente quimioterápico. Acreditamos que os resultados são interessantes e merecem estudos futuros. A doença cardíaca que se manifesta após o câncer pode ser decorrente de vários mecanismos: riscos cardiovasculares compartilhados entre o câncer e a doença cardiovascular, estados inflamatórios associados com malignidades e/ou efeitos cardiotóxicos do tratamento do câncer. A idade, o gênero, o uso de tabaco, o histórico familiar de DAC, a hipertensão, o diabetes tipo 2 e a hiperlipidemia são fatores de risco bastante conhecidos de DAC. 31-35 O tabagismo é um fator de risco bem conhecido e comum tanto de DAC quanto de câncer de pulmão. No nosso estudo, metade dos pacientes com câncer de pulmão eram tabagistas, o que é consistente com os dados nacionais, mostrando que cerca de 57% dos pacientes diagnósticados com câncer de pulmão são fumantes ou ex-fumantes. 36 No nosso estudo, outros fatores de risco cardiovascular também aumentaram a gravidade da DAC, mas aqueles fatores de risco não demonstraram significância estatística evidente para o aumento do SXescore. Por outro lado, o tabagismo mostrou mais efeitos significativos sobre o aumento do risco para SXalto em 3.646 vezes. Tabela 4 – Modelo de regressão logística multivariada Stepwise para gravidade anatômica da artéria coronária dentre pacientes com câncer de pulmão Variáveis OR 95% IC Valor de p Total de pacientes (n=94) Tabagismo 3,646 1,374-9,678 0,009 Quimioterapia 5,323 2,002-14,152 0,001 Pacientes, exceto com ITQ ou RNV (n=86) Tabagismo 3,670 1,303-10,339 0,14 Quimioterapia 5,850 2,027-16,879 0,007 ITQ: inibidores da tirosina-quinase; RNV: regimes não verificados. 1010

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