ABC | Volume 114, Nº6, Junho 2020

Artigo Original Yang et al. Doença arterial coronariana associada à quimioterapia Arq Bras Cardiol. 2020; 114(6):1004-1012 Introdução As estratégias de tratameto modernas levaram à melhora nas chances de sobrevivência ao diagnóstico de câncer. Entretanto, esses ganhos têm um custo. 1 A toxicidade cardiovascular é uma potencial complicação a curto ou longo prazo de várias terapias anticâncer e está se tornando uma das maiores preocupações no que diz respeito aos efeitos colaterais desse tipo de tratamento. 2 As doenças do coração que podem ser induzidas por agentes quimioterápicos anticâncer incluem a disfunção cardíaca, a isquemia cardíaca, a arritmia, o AVC e a hipertensão arterial pulmonar. 1,3,4 A doença arterial coronariana (DAC) associada à quimioterapia está se tornando um problema clínico emergente, o qual é difícil de administrar, devido as suas várias manifestações clínicas e ao complicado mecanismo fisiopatológico envolvido.5-7 Eventos coronarianos induzidos pela quimioterapia que ocorreram logo após a administração dos agentes quimioterápicos, possivelmente em decorrência de trombose aguda ou vasoespasmo, já foram relatados. 3,8 Entretanto, a patogênese da DAC crônica associada à quimioterapia ainda não é conhecida. O câncer de pulmão é o câncer incidental mais comum, e a principal causa de morte por câncer. 9 A quimioterapia é um tratamento importante contra o câncer de pulmão. 10,11 Sabe-se que os agentes quimioterápicos para o câncer de pulmão, inclusive taxanos, cisplatina, carboplatina, bevacizumabe, sorafenibe e erlotinibe, 3,10,12 causam infarto agudo do miocárdio. Desse modo, faz-se necessário investigar o efeito a longo prazo da quimioterapia sobre as alterações anatômicas da artéria coronária nos pacientes com câncer de pulmão. A complexidade e características das lesões coronárias são preditores conhecidos de complicações periprocedimentais e de mortalidade a longo prazo. 13-15 O escore SYNTAX (SXescore) foi desenvolvido para caracterizar prospectivamente a vasculatura coronariana por números de lesões e seus impactos funcionais, localização e complexidade. 16-18 É uma ferramenta importante para classificar a complexidade da DAC e para a estratificação de risco de pacientes que estão sendo considerados para revascularização, e vem demonstrando valor satisfatório como um preditor de eventos cardíacos adversos significativos, incluindo a morte cardíaca. Os SXescores mais altos, indicativos de doenças mais complexas, hipoteticamente representam um desafio terapêutico maior, além de apresentarem prognósticos cardíacos potencialmente piores. 16,17,19-21 Estudos recentes utilizaram o SXescore para quantificar a gravidade da DAC dentre pacientes com câncer, buscando examinar principalmente o efeito da radioterapia sobre a DAC. 20,21 No presente estudo, utilizamos o SXescore para avaliar a complexidade e gravidade da DAC dentre pacientes com câncer de pulmão, a fim de investigar a relação entre a quimioterapia e a DAC. Também observamos o efeito da radioterapia e de outros fatores de risco sobre a gravidade anatômica das artérias coronárias dentre esses pacientes. Métodos Desenho e pacientes do estudo Foi utilizado um desenho de estudo transversal hospitalar. Os pacientes do estudo foram admitidos no Hospital Geral Chinês do PLA para se submeterem à angiografia coronária (AGC) devido à suspeita de angina de peito ou estenose da artéria coronária revelada pela angiotomografia computadorizada, entre 2010 e 2017. Além disso, os pacientes deveriam ter recebido anteriormente diagnóstico definitivo de câncer de pulmão. Os pacientes que haviam sido submetidos à intervenção coronária percutânea prévia foram excluídos. Examinamos minuciosamente os registros médicos eletrônicos dos pacientes no que diz respeito à história do câncer de pulmão, incluindo o diagnóstico, a idade à época do diagnóstico, localização e histórico do tratamento (quimioterapia e radioterapia). Revisamos o sexo, a idade à epoca da AGC, o índice de massa corporal (IMC), o histórico familiar de doenças cardiovasculares (DCVs), o uso de tabaco, a hipertensão, o diabetes, a hiperlipidemia e o perfil lipídico. Esses dados foram extraídos utilizando a plataforma de dados de pesquisa clínica criada pela Xiliu Data. Algumas informações foram checadas via telephone com os próprios pacientes ou seus familiares. A angiografia coronária e o SXescore A partir do angiograma diagnóstico basal, pontuamos separadamente cada estenose coronária ≥50% em vasos com diâmetro ≥1,5 mm. Em seguida, somamos os escores para obter o SXescore global, que havíamos calculado Results: A total of 94 patients were included in the study. The SXscore was higher in the chemotherapy group than in the non-chemotherapy group (25.25, IQR [4.50–30.00] vs. 16.50, IQR [ 5.00–22.00], p = 0.0195). The SXhigh rate was greater in the chemotherapy group than in the non-chemotherapy group (58.33% vs. 25.86; P = 0.0016). Both univariate (OR:4.013; 95% CI:1.655–9.731) and multivariate (OR:5.868; 95% CI:1.778–19.367) logistic-regression analysis revealed that chemotherapy increased the risk of greater SXhigh rates. Multivariate stepwise logistic-regression analysis showed the risk of more severe anatomical CAD is increased by chemotherapy as a whole by 5.323 times (95% CI: 2.002–14.152), and by platinum-based regimens by 5.850 times (95% CI: 2.027–16.879). Conclusion: Chemotherapy is associated with anatomical complexity and severity of CAD, which might partly account for the higher risk of chemotherapy-related CAD among lung cancer patients. (Arq Bras Cardiol. 2020; 114(6):1004-1012) Keywords: Coronary Artery Disease/physiopathology; Lung Neoplasms/drug therapy; Lung Neoplasms/complications; Propensity Score; Score Syntax; Angioplasty/methods; Risk Factors. Full texts in English - http://www.arquivosonline.com.br 1005

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